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Editorial
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 05:00
As declarações recentes do governador petista Jerônimo Rodrigues revelam uma preocupante desconexão com os reais desafios enfrentados pela Bahia. Em um momento em que o estado amarga os piores índices de violência do país e enfrenta crises recorrentes no sistema prisional, o chefe do Executivo estadual prefere enaltecer políticas públicas que, na prática, fracassaram em garantir segurança à população. >
Enquanto Jerônimo afirma que a Bahia possui um dos sistemas prisionais mais eficientes do Brasil, o que se observa são cenas que destoam completamente dessa retórica. Em apenas sete meses, o estado registrou pelo menos três fugas em presídios - sendo a mais grave em Eunápolis, onde 16 detentos escaparam e 15 ainda seguem foragidos. A antiga diretora da unidade, inclusive, é investigada por ligação com a facção criminosa que atua na região. >
Outro dado preocupante vem da própria Secretaria de Administração Penitenciária: os presídios baianos têm superlotação crítica, com mais de 15 mil presos para pouco mais de 10 mil vagas. Como elogiar um sistema assim?>
O discurso do governador também entra em contradição com a dura realidade vivida nas ruas. A Bahia, segundo o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, continua liderando o ranking nacional de homicídios, com mais de 6 mil mortes em 2024. O estado também concentra nove das 20 cidades mais violentas do país. Em vez de reconhecer a gravidade dos números, Jerônimo afirma que a “Bahia é um estado de paz”. Essa declaração fere o bom senso e escancara o distanciamento do governo em relação à vida real da população.>
O crime organizado avança, as facções se expandem e a letalidade policial continua entre as maiores do Brasil. Ainda assim, o governador minimiza a situação, transferindo a responsabilidade para “mudanças na sociedade” e alegando que o problema não é exclusivo do estado. Essa tentativa de diluir responsabilidades ignora o papel central do governo estadual na formulação de políticas de segurança pública eficazes, coordenadas e transparentes.>
Enquanto o governador adotar uma postura negacionista, recusando-se a encarar os fatos e tratar a violência como prioridade, dificilmente a Bahia encontrará soluções reais. Negar os dados, maquiar a gravidade da crise e se blindar com discursos otimistas não resolverá o medo que assombra milhares de baianos. Não há paz possível quando o próprio governo se recusa a enxergar os confrontos que se travam todos os dias nas ruas do estado.>