O desprezo pela cultura baiana

O maior símbolo do desleixo com a cultura baiana é o fechamento do Teatro Castro Alves

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Publicado em 19 de abril de 2024 às 05:00

A riqueza cultural da Bahia, tão admirada e reverenciada nacionalmente e fora do País, enfrenta um momento de estagnação preocupante. As recentes saídas de quadros reconhecidos da Secretaria de Cultura do estado, sem qualquer justificativa sólida, são apenas mais uma demonstração de como este setor ainda permanece sem receber a devida atenção. É lamentável testemunhar como uma herança cultural baiana tão rica e vibrante está sendo negligenciada e subestimada por gestões estaduais consecutivas que não valorizam os artistas e aparentam não saber aplicar de forma eficaz os recursos destinados para a área.

No início do ano passado, a prefeitura de Salvador firmou um convênio com o Balé Folclórico da Bahia porque o governo do Estado deixou de patrocinar. É com recurso municipal que agora o grupo custeia os artistas, mantém o imóvel, localizado no Pelourinho, e os espetáculos da companhia. Sem apoio financeiro da administração estadual, festivais culturais relevantes também foram cancelados no estado, como o Festival de Jazz do Capão e o Festival de Lençóis.

A falta de recursos não pode ser desculpa do governo do estado para a valorização e preservação da cultura. Só da Lei Paulo Gustavo, a Bahia recebeu R$ 147,8 milhões enviados pelo governo federal. Apesar deste montante, não faltam críticas dos produtores e artistas aos editais da lei lançados pela Secretaria de Cultural do estado, o que expõe a ausência de gestão eficiente.

O maior símbolo do desleixo com a cultura baiana é o fechamento do Teatro Castro Alves. O nosso maior espaço teatral está com as portas sem abrir desde janeiro do ano passado, quando sofreu um incêndio. A previsão do governo é que só retorne em 2026. Até lá, os atores, cantores, músicos e humoristas ficarão sem um grande teatro para se apresentar. Os artistas são os guardiões e os criadores da identidade cultural de um povo e não podem ser deixados ao léu em nenhuma hipótese.

Na Bahia, os talentos são inúmeros e diversos. Não podemos esquecer que foi em nossa terra que nasceu o samba, que mais tarde Tia Ciata iria plantar as sementes no Rio de Janeiro. Também aqui surgiu a Tropicália e o Axé Music. Os ídolos e contemporâneos como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia expuseram ao mundo o nosso valor e continuam a inspirar as novas gerações. Jorge Amado e João Ubaldo, com suas prosas envolventes, eternizaram a alma baiana em suas obras e mostraram a riqueza do nosso estado. A cultura popular do estado também se expressa com os blocos afros, as rodas de samba, as festas juninas e as manifestações religiosas. Vamos deixar toda a nossa história e cultura ser esquecida e desvalorizada?

A cultura baiana não pode ser tratada como um mero adereço folclórico, mas sim como um tesouro vivo que merece ser celebrado, preservado e, acima de tudo, valorizado. É hora de despertar para a realidade de que o nosso potencial cultural está sendo desperdiçado. A Bahia é mais do que um destino turístico, é um berço de criatividade e uma fonte inesgotável de inspiração. Precisamos de ações concretas e comprometidas com a nossa cultura.