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Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2014 às 05:37
- Atualizado há 2 anos
Em 1984, após crise técnica no Campeonato Baiano, Paulo Maracajá resolveu demitir José Duarte do cargo de treinador do Bahia, após o comandante alegar ter em mãos um time envelhecido para tentar o tetra estadual. Osni, atacante daquele time, foi de encontro à opinião de Duarte, assumiu a responsabilidade pelos resultados negativos e foi promovido a técnico do tricolor. Como jogador e chefe, conseguiu o quarto título consecutivo do Esquadrão de Aço na década de 1980.O perfil de boleiro sincero e contestador não ajudou Osni a seguir sua carreira como técnico. O baixinho não aceitava interferências no seu trabalho, e Maracajá resolveu mandá-lo embora. Um dos maiores ídolos da história do Bahia saía do clube sem o devido reconhecimento. Encerrou sua carreira no Leônico, sem holofotes, apesar do talento apresentado à beira do gramado.Osni teve trajetória parecida com a de Bobô. Em 2002, o bicampeão brasileiro foi promovido das categorias de base do Bahia para o time profissional e, em seu primeiro trabalho como técnico, conquistou a Copa do Nordeste daquele ano, mas pediu demissão do cargo durante o Brasileiro. Voltou a comandar o time em 2003 e, após uma série de resultados negativos na Série A, voltou a entregar o boné e abriu espaço para a chegada de Evaristo de Macedo. Sem motivação para permanecer como treinador, voltou a apostar na carreira de dirigente.O mundo do futebol dá suas voltas, e Charles Fabian atravessa o mesmo ciclo. Em 2006, assumiu interinamente o time no Baianão, substituindo Luís Carlos Cruz. Numa tacada só, promoveu em seu jogo de estreia sete jogadores das divisões de base. Pressionado por torcida e imprensa, foi substituído por Mauro Fernandes durante o estadual e voltou ao comando depois da saída surpreendente de seu substituto, mas foi novamente afastado depois de fracassar no octogonal final da Série C. Na época, o ex-atacante saiu do tricolor reclamando de falta de valorização dos profissionais baianos, foi para o Votoraty-SP e, logo depois, resolveu ser secretário de Esportes em Itapetinga, sua terra natal.Apesar da contratação de Sérgio Soares, que se encaixa na filosofia que Marcelo Sant’Ana quer implantar no clube, a valorização citada por Charles é prometida pela nova diretoria do Bahia. O técnico retornou às divisões de base do tricolor em junho do ano passado e, durante a temporada de 2014, como interino no time profissional, teve aproveitamento de pontos superior aos dos treinadores que passaram pelo Fazendão. Mostra personalidade a cada entrevista. Fala o que muitos “professores”, pisando em ovos, se recusam a falar. Foge das explicações excessivamente técnicas, mas deixa claro suas ideias e convicções de jogo. Os ingredientes ajudam a criar um cenário de euforia sobre o seu trabalho no Esquadrão, mas devem ser analisados de maneira muito cautelosa.Essa não seria a hora dele realmente mostrar que pode ser técnico do Bahia? Sim, seria. E mostrou que pode. O clube agora tem um profissional que sabe que pode confiar. Os jogadores perceberam que no Fazendão tem um cara que não irá decepcionar quando o clube precisar dele. E é justamente por ter mostrado qualidade que o Bahia deve investir no treinador. Qualificá-lo para ser o comandante do time por anos. Bons resultados só virão com um trabalho bem feito.A arquibancada que idolatra é a mesma que joga na fogueira. Alguns microfones que exaltam também são os mesmos que pedem a cabeça. Um profissional como Charles já mostrou que é bom. E se é bom, é preciso paciência e investimento em longo prazo.>
* Elton Serra é comentarista e editor de esportes da Rádio CBN Salvador. Escreve durante as férias de Ivan Dias Marques>