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Caio Lagrota Ribeiro fundou a empresa de cremação há dois anos e meio
Nilson Marinho
Publicado em 9 de setembro de 2024 às 05:00
Por nove anos, Caio Lagrota Ribeiro esteve na área financeira. Trabalhava em uma assessoria de investimentos em um alto edifício na Avenida Tancredo Neves, em Salvador. As coisas iam bem, mas, dentro dele, havia sentimentos de dúvida. Talvez não fosse aquilo que ele quisesse para sua vida profissional, não porque não gostasse, mas porque, aos poucos, foi perdendo o entusiasmo em ajudar clientes a alcançar suas metas financeiras.
Ainda sem saber o rumo profissional que iria tomar, uma conversa com uma amiga veterinária foi fundamental para ele sacramentar: iria investir no mercado pet, uma área em expansão que, todos os anos, fatura milhões de reais. Para este ano, por exemplo, projeções indicam que o mercado para os animais chegará a um faturamento de R$ 76,3 bilhões, conforme dados do Instituto Pet Brasil.
No Brasil, onde, aproximadamente, a cada 10 pessoas, 7 possuem animais de estimação, segundo uma pesquisa recente conduzida pela Quaest em junho deste ano, Caio decidiu apostar não nos segmentos convencionais, como o de alimentação, cuidados e higiene. O empreendedor quis fornecer um serviço ao tutor naquele momento em que ele estaria mais fragilizado: o da morte do animalzinho.
“Minha amiga veterinária comentou sobre o negócio de crematório pet, que eu nunca tinha ouvido falar. Apesar de não ser algo novo — já temos crematórios no Brasil há cerca de trinta anos ou mais — achei interessante. Eu tenho um cãozinho idoso, que hoje tem 14 anos, e, na época, estava com 11. Aí veio aquele estalo: ‘Caramba, eu nunca tinha pensado na morte do animal e no que faria depois’", lembra.
Caio se aprofundou no setor pet, estudou o mercado, analisou as empresas que também ofereciam o serviço de cremação e tomou coragem para traçar o esboço do negócio. Durante esse processo, a amiga veterinária que foi a chave da sua transição de carreira perdeu o seu pet e, na prática, eles experimentaram os serviços que estavam à disposição.
“Entramos em contato com algumas empresas e vimos que o atendimento era demorado e mecânico, sem acolhimento para o tutor em luto. Isso nos mostrou que havia uma grande lacuna em termos de posicionamento e qualidade no atendimento”, relembra.
Quando o empresário lançou a Pet Saudade, há dois anos e meio, reuniu a equipe e disse que não queria que a empresa “fosse reconhecida apenas como um crematório pet”.
Empreender nunca é fácil e não seria diferente para Caio. Um dos seus grandes desafios foi conseguir a licença ambiental para abrir as portas da empresa. O trâmite durou 18 meses, e o empreendedor só foi autorizado a operar em uma zona industrial da cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
“Quando finalmente começamos a operar, foi complicado. No início, eu fazia literalmente tudo. Atendia 24 horas por dia, realizava os traslados dos animais, operava o forno e fazia as cremações, além de entregar as cinzas aos tutores. Hoje vejo que foi uma experiência valiosa, pois tive a real dimensão de todas as etapas do processo e da importância do nosso trabalho”, conta.
Além dos processos burocráticos, vieram os investimentos em estrutura e equipamentos. O esforço financeiro foi de cerca de R$ 800 mil, incluindo a compra do forno crematório, aluguel e reformas. Hoje, a Pet Saudade atua basicamente em Lauro de Freitas, Salvador e Região Metropolitana, além de Feira de Santana.
A empresa oferece diferentes modalidades de cremação, como a individual padrão (a partir de R$ 530), individual imediata (a partir de R$ 1 mil) e a coletiva (a partir de R$ 330), em que as cinzas não são devolvidas, pois os animais mortos são levados ao forno com outros pets. Na modalidade imediata, por exemplo, a família do animalzinho receberá as cinzas em até 24 horas pelo valor de R$ 1 mil. Para a casa do cliente, será enviada uma urna com o molde da patinha, acompanhada de um porta-pelos. O traslado do corpo do pet é feito em carro e em uma caixa rígida ou bag em lona náutica, mas nunca em sacos plásticos.
“Percebi que estava criando um negócio que realmente fazia bem às pessoas e as ajudava. Uma das histórias mais marcantes foi o atendimento a uma senhora no Rio Vermelho, em Salvador, que me pediu, aos prantos, para cuidar direitinho do animalzinho dela. Naquele momento, entendi que estávamos fazendo algo muito significativo”, lembra.
“A demanda é crescente, e, mesmo enfrentando a concorrência de empresas que não atuam corretamente, continuamos firmes no nosso propósito de oferecer um serviço de qualidade, com respeito e dignidade para os tutores e seus animais”, completa.