Empresas com sede no Nordeste buscam por profissionais em outros estados

As empresas tem encontrado profissionais qualificados em outras regiões do estado

  • Foto do(a) author(a) Da Redação
  • Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2024 às 05:00

Analice Chagas é uma headhunter, uma profissional de Recursos Humanos contratada por empresas para ir em busca de profissionais de currículos invejáveis. A ideia é abordar candidatos, mesmo aqueles que não estão em busca de uma oportunidade, para preencher vagas de emprego. Nem sempre, diz, é uma tarefa fácil convencer alguém a mudar de empresa, mesmo que seja para ganhar mais.

Mas, no ano passado, a tarefa de localizar um profissional para ocupar um cargo de liderança em uma empresa de energia renovável, que se instalou no centro-norte do estado, se tornou impossível. Não porque as pessoas que entrou em contato rejeitaram a proposta, mas sim porque, ela não localizou um profissional baiano com qualificação ideal para estar à frente do cargo.

“Era empresa era bastante exigente, perdia certificações bem específicas e uma longa jornada de atuação no mesmo cargo. A preferência era de que fosse um baiano, por questões de conhecer melhor a comunidade ao redor da região onde a fábrica estava instalada, mas isso não foi possível”, comenta Analice.

“Entraram poucos profissionais baianos no meu radar, mas logo descartei por falta de requisitos. Por fim, encaminhei para empresa um candidato do Rio de Janeiro, com experiência anterior em outro país”, completa a headhunter.

Segundo Reiva Melo, executiva de vendas da Robert Half no Nordeste, empresa que conecta empresas e candidatos, observa-se uma maior incidência de profissionais oriundos da região Sudeste, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, para ocupar cargos em cidades nordestinas.

Reiva Melo, executiva de vendas da Robert Half na Bahia
Reiva Melo, executiva de vendas da Robert Half na Bahia Crédito: Cassio Narciso/Divulgação

Isso dá justamente pela falta de mão de obra qualificada e especializada na região, além de que muitos profissionais de outras regiões se animam com a possibilidade de mudança para uma cidade mais próxima à natural, já que a maioria das capitais nordestinas são situadas à beira-mar.

“Esse deslocamento de mão de obra modifica a dinâmica do mercado de trabalho e a estrutura produtiva das economias, influenciando o comércio e os investimentos. É preciso ter em mente que o próximo colega, ou o melhor talento da equipe, pode ter como terra natal qualquer cidade do País, trazendo para o ambiente corporativo suas crenças, experiências e visões de mundo”, diz Reiva.

Para Raul Feitosa, empresário e ex-diretor de Recursos Humanos de uma construtora com sede em Fortaleza, a falta de trabalhadores qualificados é uma realidade em todo o Brasil, mas no Nordeste pode ser explicado pela falta de incentivos das grandes empresas de contratação de mão de obra local.

“Às vezes, as exigências são inalcançáveis e, por mais que não se tenha todas as qualificações necessárias para atuar naquele cargo, há trabalhadores resilientes e com muita força de vontade de crescer. Por aqui, a preferência sempre costumou ser para quem é de fora”, opina Feitosa.

O empresário, por outro lado, lembra das oportunidades que podem ser geradas com chegada de empresas internacionais no Nordeste, sobretudo na Bahia, a exemplo da montadora chinesa BYD, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador.

“Que essas organizações sejam responsáveis por criar uma equipe diversificada, valorizando sobretudo a mão de obra local. Que elas também deem oportunidades para que os trabalhadores possam crescer e se qualificarem ao longo dessa jornada”, conclui Feitosa.