Mortes ligadas a seita e a feitiçaria testam brasileiro

No Rio, psicóloga envenena namorado para pagar cigana; em Manaus, família se vicia em drogas usadas em rituais

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  • Flavio Oliveira

Publicado em 8 de junho de 2024 às 16:00

Djidja era Maria Madalena em seita da família Crédito: Reprodução

Dois crimes ganharam repercussão nessa última semana têm mexido com a capacidade do brasileiro em se chocar com a realidade: as mortes de Djidja Cardoso, em Manaus (AM), e de Luiz Marcelo Ormond, no Rio de Janeiro. As duas ocorrências estão submersas em um contexto que envolveriam forças sobrenaturais, misticismo e feitiçaria.

Até morrer, no último dia 28, Djidja viva um conto de fadas típico das redes sociais. Tinha fama e dinheiro e sucesso nos negócios. O trio que formava com a mãe, Cleusimar, e com o irmão, Ademar, era o protótipo da família perfeita, admirada por toda a comunidade. Tudo começa a mudar depois que ela é encontrada morta em sua casa. Segredos e supostos crimes da família começam, então, a ser revelados. E eles incluem a criação de uma seita bizarra, estupros e tráfico de drogas.

A psicóloga carioca Júlia Andrade Cathermol Pimenta, de 29 anos, é acusada de ter oferecido um brigadeirão envenenado a Luiz Marcelo. Segundo investigação policial, ele morreu entre os dias 17 e 18 de maio. Seu corpo só foi encontrado no dia 20, em seu apartamento, sentado no sofá, em frente a janela aberta e com ventiladores ligados, tudo para esconder o odor.

Com base nas imagens das câmeras do condomínio, a psicóloga dormiu esses dias com o cadáver antes fugir. A motivação do crime ainda não foi esclarecida, mas a principal linha de apuração indica que Júlia temia ser alvo de um feitiço mortal.

Júlia devia a cigana e temia ser vítima de feitiço Crédito: Reprodução

Djidja Cardoso, nome artístico de Dilemar Cardoso, foi encontrada morta em sua casa na capital do Amazonas. Entre 2016 e 2020 ela representou o papel de Sinhazinha do Boi Garantido da Festa Folclórica de Parintins, a mais popular do Norte do Brasil. Não foi o primeiro membro da família a tentar a fama. Em 1997, Cleusimar participou da seleção para loira do Tchan vencida por Sheila Melo.

A entrada de Djidja no mundo artístico rendeu exposição e negócios, como um salão de beleza em Manaus. Também trouxe Ademar de volta ao Brasil depois de uma temporada em Londres. Em Manaus, ele passou a praticar luta, musculação, melhorou a alimentação e recorreu a anabolizantes para ganhar músculos. A seu modo, era também uma estrela das redes sociais, assim como Cleusimar passou a ser.

A rotina da família era compartilhada com milhares de seguidores que os admiravam. Mas coisas estranhas começaram a emergir. Habilmente, esses fatos eram escondidos antes de ganhar notoriedade. Uma das primeiras denúncias contra a família foi de cárcere privado. Enquanto esteve casada com Ademar, a cunhada de Djidja era proibida de receber familiares. Foi resgatada pela polícia. Segundo seus pais, ela se tornou dependente de cetamina (ou ketamina), uma droga usada como anestésico para animais de grande porte e que produz efeitos alucinatórios nos humanos. A polícia abriu um procedimento para apurar o cárcere privado e um possível crime de tráfico de drogas. A morte da sinhazinha do Boi Garantido, investigada como overdose, acelerou os trabalhos e Ademar e Cleusimar foram presos dois dias depois.

Entre as descobertas da polícia, está a de que a família criou uma seita, chamada de “Pai, Mãe, Vida”, que usava a cetamina em rituais. Os funcionários do salão de beleza também fariam parte da seita (três foram presos e uma delas ganhou liberdade provisória na quinta, 6) e do tráfico de cetamina. Na seita, Cleusimar era a Virgem Maria; Ademar; Jesus, e Djidja; Maria Madalena. Ademar também foi acusado de estupro.

Segundo relatos da imprensa manauara, Djidja estava de fraudas quando seu corpo foi encontrado. Jornais e portais do Amazonas tiveram acesso a vídeos gravados por Cleusimar que mostram os filhos sob efeito da droga, que ela acreditava ser milagrosa. Uma das gravações mostra Djidja pedindo por mais doses. Em outra, Ademar aparece sem conseguir mexer as pernas.

A defesa de Cleusimar e Ademar nega o crime de tráfico de drogas. Mas admite que os dois, assim como Djidja era, são viciados e precisam de tratamento. Segundo o advogado Vilson Benayon, os dois iriam morrer caso não fossem presos. Ele disse também que até a quinta-feira (6), mãe e filho ainda estavam sob efeito das alucinações e sofriam, na prisão, dores provocadas pela abstinência. Benayon contratou o médico psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro, que fez o laudo psiquiátrico de Adélio Bispo, autor da facada no ex-presidente Jair Bolsonaro.

No Rio de Janeiro, a polícia já tem o quebra-cabeça do assassinato de Luiz Marcelo quase todo pronto. Existe a certeza de que Júlia não cometeu o crime sozinha. Ela estaria a mando de Suyany Breschak, que se apresenta nas redes sociais como Cigana Esmeralda e cobra R$ 18 mil por uma “amarração amorosa”. A psicóloga contraiu com ela uma dívida de R$ 600 mil furto de dez anos de “orientação espiritual”.

O empresário reclamou com amigos que ela pressionava por um contrato de união estável. Quando deixou o apartamento de Luiz Marcelo, Júlia foi para acasa de Jean Cavalcante de Azevedo, com quem namorava há dois anos. À polícia, ele disse ter tido conhecimento que ela tinha um outro relacionamento ao ver uma reportagem sobre a morte de Luiz Marcelo.

Mãe e padrasto disseram que Júlia nutria veneração e medo por Suyany. Alguns bens de Luiz Marcelo, incluindo um carro, foram encontrados com Victor Ernesto de Souza Chaffi, ex-namorado de Suyany. Ele foi preso por receptação, mas pagou fiança. Suyany e Júlia ainda estão presas.

No presídio, Júlia recebeu o apelido de Chocolate.

Meme da semana

null Crédito: Reprodução/Internet

O projeto que permite a privatização das praias brasileiras gerou revolta, indignação e memes. A depender da votação, o sofrido povo brasileiro vai perder o seu principal programa de lazer, a praia. Ainda vao inventar um imposto sobre respiração.

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