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Publicado em 2 de agosto de 2025 às 05:00
As críticas vindas dos Republicanos estadunidenses mais radicais focam no fato de que o diretor James Gunn descreveu o Superman como um imigrante — um estrangeiro que chega à América e representa “a bondade humana básica”. Para comentaristas conservadores, isso distorce a visão tradicional do herói como representante da “American Way”. Jesse Watters e Greg Gutfeld, da Fox News, classificaram o filme de “Superwoke”, acusando-o de promover ideologia liberal e antiamericana. >
Talvez o filme se torne um pouco difícil de entender para quem não acompanha nos quadrinhos a história de Clark Kent. De fato, na saga Injustice: Gods Among Us, Superman abandona seu ideal de justiça com compaixão e se transforma numa figura autoritária, impiedosa e brutal. Essa versão do "super-homem bruto dos quadrinhos" nasce de uma tragédia pessoal que destrói seu equilíbrio emocional. >
O Coringa engana Superman, fazendo-o matar Lois Lane (grávida de seu filho) ao pensar que ela era o vilão Apocalypse, aquele que matou Clark Kent na saga (A Morte do Super-Homem), com efeito, a morte de Lois ativa uma bomba nuclear em Metrópolis. Resultado: Superman perde sua esposa, seu filho e sua cidade — tudo de uma vez.>
Bem, o Superman de Injustice não devolve o mundo à realidade — pelo contrário, ele é derrotado e contido, porque sua visão distorcida de “paz pela força” ameaça a liberdade da humanidade. Quem restabelece uma certa ordem são outros heróis, especialmente Batman.>
E é por isso que a versão atual do Super-Homem, para mim, resgata o herói que aprendemos a amar. Essa versão de Superman apresenta um lado humano mais emocional, até com um temperamento visível, algo que o diretor quis destacar. Ele se frustra, questiona e sofre moralmente — mas sempre com boas intenções.>
Durante uma batalha com um kaiju (criaturas gigantes fictícias), por exemplo, em Metrópolis, Superman faz uma parada de apenas dois segundos para salvar um esquilo que cai no meio do combate. Esse pequeno gesto visual resume toda a filosofia que faz do Super-Homem o herói dos heróis: um ser imensamente poderoso, mas profundamente preocupado com cada vida, por menor que seja. Amei essa volta às origens!>
O filme me fez refletir sobre o papel dos pais na vida dos filhos. Sim, somos facilmente superados em carinhos e estima quando comparados com as mães.>
No Brasil, o Dia das Mães reina absoluto como o “Natal fora de época” do comércio, enquanto o Dia dos Pais segue firme em seu papel de coadjuvante emocional e financeiro. Em 2025, os brasileiros desembolsaram em média R$ 298 para presentear suas mães — afinal, nada mais justo do que um mimo àquela que cria, cozinha, cuida, consola e, curiosamente, ainda não paga os boletos. Já para os pais, que costumam brilhar com frases como “pede pra sua mãe”, o valor médio mal passou de R$ 181. No setor de restaurantes, então, nem se fala: o Dia das Mães é o grande campeão de reservas e filas na porta. No Dia dos Pais? Há sempre mesa disponível e garçom à disposição.>
A verdade é que, para o comércio, o Dia dos Pais é como aquele tio simpático que aparece no churrasco com uma piada pronta, mas ninguém espera muito dele. As vitrines se esforçam, colocam camisas polo de segunda linha e loções pós-barba em promoção, mas o consumidor sabe que a emoção não é a mesma. A diferença de faturamento não é só financeira — é quase afetiva. Afinal, no imaginário coletivo brasileiro, mãe é sagrada. Pai? Bom, pai ganha um churrasco, um abraço e, com sorte, umas cuecas novas.>
Eu sou pai e sou padrasto. Amo meus filhos em ambas as situações de maneira idêntica, há diferença de tratamento por causa da personalidade de cada um, mas não de afeto. E é por aí que vem a minha reflexão neste artigo inspirado no Super-Homem. Por que amamos os padrastos e odiamos as madrastas?>
Sim, os padrastos são amados, idolatrados. Nos quadrinhos, há exemplos notáveis de padrastos e figuras parentais substitutas que cumprem papéis centrais na formação de grandes heróis. >
Jonathan Kent, o pai adotivo do Superman, talvez seja o exemplo mais emblemático: um fazendeiro comum que acolhe um bebê alienígena e o ensina a ser mais humano do que muitos humanos. >
Tio Ben, que criou Peter Parker em Homem-Aranha, não era padrasto no papel, mas exerceu esse lugar com tamanha dedicação e impacto moral que seu legado se tornou a pedra angular da trajetória do herói com sua célebre máxima sobre responsabilidade ecoando por gerações: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Esses personagens mostram que a paternidade é uma escolha diária, e não apenas uma questão de genética.>
Outras figuras não biológicas também ocupam com grandeza esse espaço de paternidade. Alfred Pennyworth, o mordomo de Bruce Wayne, ultrapassa em muito seu papel de servo: é pai, mentor, conselheiro e pilar emocional do Batman. Seu cuidado com Bruce é silencioso, firme e constante — típico do padrasto que, mesmo sem laços de sangue, constrói uma relação de amor e responsabilidade com base na convivência e no afeto. >
Já o Mestre Splinter, das Tartarugas Ninja, leva essa lógica ao extremo: é literalmente um rato mutante que cria quatro tartarugas adolescentes como filhos, oferecendo não apenas treinamento físico, mas uma filosofia de vida que os guia com honra e compaixão.>
Ah, já as madrastas dos contos de fadas, me poupem, viu? >
Aquelas joias raras da literatura infantil cujo principal talento é transformar traumas familiares em entretenimento. Pegue, por exemplo, a madrasta da Cinderela: uma verdadeira gerente de RH do mal, que promove as filhas biológicas enquanto rebaixa a enteada a uma espécie de faxineira de luxo. E tudo isso sem nem disfarçar a preferência em uma verdadeira aula de nepotismo afetivo. Já a Rainha Má da Branca de Neve, além de narcisista, é uma empreendedora de cosméticos tóxicos: resolve seus problemas de autoestima com envenenamento, porque conversar ou fazer terapia, claro, não faz parte do arsenal da maldade.>
Tem também a madrasta de Rapunzel, que leva o conceito de “mãe superprotetora” para um novo nível ao prender a moça numa torre sem porta. Seu amor é tão sufocante que literalmente impede a enteada de sair de casa — uma espécie de homeschooling gótico. >
Essas figuras não são apenas vilãs; são metáforas ambulantes do que pode dar errado quando o segundo casamento vem sem manual de instruções. E assim, geração após geração, as madrastas continuam pagando o preço da má fama — enquanto os pais viúvos seguem isentos, como se tudo fosse culpa da nova esposa e o rei ausente só estivesse ocupado demais… provavelmente caçando.>
No mês dos pais deixe de casquinhagem e compre um bom presente para o seu papai ou seu padrasto. Quem sabe a nova camisa do Super-Homem do Esporte Clube Bahia. Ele pode ir para Fonte Nova e lembrar de você ao gritar: BBMP!>
Jorge Cajazeira é Ph.D. pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP) e consultor internacional de empresas.>