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Nelson Cadena: 100 Anos de Dodô

  • D
  • Da Redação

Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 03:28

 - Atualizado há 2 anos

Num dia de Verão de 1936, Adolfo Nascimento, Dodô, sugeriu a Dorival Caymmi fazer um furo no violão e adaptar um alto-falante dentro da caixa do instrumento para amplificar o som, o Carnaval estava próximo. Caymmi era, então, um dos integrantes do conjunto Três e Meio que naquele ano desfilou na Avenida num corso, tocando sambas e marchas, mas o músico não aceitou a sugestão do técnico. Stella Caymmi, que é quem conta essa história, lamenta a recusa do avô: “Talvez antecipasse em alguns anos o pau elétrico, a chamada guitarra baiana”. Caymmi fez a escolha certa, a julgar pelas dificuldades de vencer a microfonia, um dos desafios que o idealizador da guitarra baiana teve de enfrentar a partir de 1941 quando a dupla Dodô e Osmar, de fato, viabilizou o instrumento fabricado a partir das carcaças de um violão e um cavaquinho usados, adquiridos na loja A Primavera. Um dia, os paus elétricos com o som amplificado por uma corneta transformaram o Carnaval baiano. Era a matriz do que mais tarde se chamaria de Trio Elétrico, de início ignorado pela mídia e até pelo poder público, que demorou uma década para aceitar a sua inclusão como categoria do concurso oficial da Sutursa, assim mesmo com a ressalva de “fora dos interesses da competição”. Dodô, com homenagem programada este ano pela Câmara Municipal por ocasião do centenário de seu nascimento, infelizmente não viveu o bastante para constatar o sucesso do Trio Elétrico. Morreu em 1978 quando o Trio já era reconhecido como a principal atração do Carnaval de Salvador, mas então os músicos não ganhavam dinheiro com isso, os valores de patrocínio apenas pagavam custos e o que sobrava era quase que um cachê simbólico. Músico de Trio Elétrico estava longe de ser profissão e ninguém imaginava ainda que um dia as agremiações carnavalescas fariam uso do equipamento substituindo as orquestras e bandas de sopro, de até 300 componentes, pelas bandas de trio. Em todo caso, Dodô viveu em parte a transição do som instrumental para o de cantores de trio e conferiu de perto o sucesso de Moraes Moreira com quem gravou um LP (Jubileu de Prata) como cantor de Trio e também o dos Novos Baianos e assistiu a euforia da multidão atrás do Trio de Dodô e Osmar com Armandino, este despontando como um fenômeno musical, já previsível desde a oportuna apresentação no programa de Flavio Cavalcante. Tivesse vivido dez anos a mais teria visto o despontar dos blocos de Trio e a profissionalização dos clubes e o surgimento da indústria fonográfica local, impulsionada pela WR, com mercado garantido e, quem sabe, teria ganho algum dinheiro com isso. Ilações à parte, o fato é que Dodô foi um agente transformador do Carnaval baiano ao idealizar o pau elétrico e a sua materialização, anos depois, em parceria com Osmar, fabricando, inclusive, inúmeros instrumentos para outros músicos e junto com ele criar o Trio Elétrico que veio a ser a recriação do velho palco ambulante das pranchas de bonde dos anos 20 e dos corsos e caminhões dos anos 30 e 40, mas com o diferencial do som amplificado. E foi esse diferencial do alcance do som, aprimorado mais tarde pelos técnicos que domaram os agudos das cornetas Sedan, já na década de 80, que tornou o Carnaval refém da tecnologia. A potência e qualidade do som passaram a ser determinantes e excludentes. A propósito, a corneta sedan já era mobiliário urbano tradicional desde a década de 40 na Avenida, amplificava o som, com qualidade sofrível, segundo o noticiário dos jornais, das músicas carnavalescas irradiadas pela Rádio Sociedade. A dupla Dodô & Osmar identificou nesses alto-falantes de rua o equipamento certo para amplificar o som dos paus elétricos e foi essa miscigenação tecnológica com o feeling da oportunidade que fez acontecer o Trio Elétrico. A morte prematura de Dodô impediu que recebesse as merecidas homenagens dos baianos, uma lacuna que o poder público, em parte, preencheu quando instituiu um dos circuitos do Carnaval com o seu nome. E neste exercício de 2014 uma oportunidade posta: no transcurso do seu centenário, temos pelo menos 100 motivos para resgatar a sua biografia.