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Nelson Cadena: Conceição da Praia

  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2013 às 03:36

 - Atualizado há 3 anos

Disseram que é a festa popular mais antiga de Salvador, apenas por ouvir dizer, e assim ficou parecendo e, então, consulto os livros e velhas referências de jornal e nada me convence de que assim seja, muito menos como dito ser, uma festa que teria começado com a própria cidade no distante ano de 1549. Nada sustenta essa vontade de querer nos enfiar goela abaixo a ideia de que, enquanto construíamos a cidade murada, e apenas seis meses após a decantada procissão de Corpus Christi, que alguns consideram, de fato, o marco da fundação de Salvador, já programávamos e realizávamos uma festa em louvor à padroeira de Portugal que um dia seria também a nossa padroeira.Está me parecendo um jeitinho baiano de acomodar as coisas e, de fato, nenhum de nossos mais renomados cronistas se compromete, é tudo apenas a suposição de que assim tinha sido como corolário da ordem de Thomé de Souza de em frente ao canteiro de obras construir a primitiva igreja que recebeu no altar a imagem de Nossa Senhora trazida nas naus recém fundeadas na Baía de Todos os Santos. Em todo caso, foi no século XIX que a Festa da Conceição, qualquer que tenha sido sua origem, se torna efetivamente uma grande festa de largo, no sentido literal da palavra de abranger o seu entorno.Constatamos que a Conceição da Praia foi o cavalo de batalha do clero local para afirmar o culto mariano, em detrimento de outros santos de devoção dos baianos que a igreja via com reservas porque sincretizados pelo candomblé: Santa Bárbara, São Jorge, São Roque, São Lázaro, São Gonçalo, São Sebastião e até o Senhor do Bonfim. E foi com esse objetivo que dom Romualdo de Seixas referendou, através de portaria publicada em 1857, a quase obrigatoriedade de participar do culto concedendo “indulgência plena” a quem visitasse a igreja. Não deu certo. Os baianos continuaram a recorrer aos santos sincretizados quando preciso: na hora das chuvas intensas e trovoadas nada melhor do que valei-me Santa Bárbara!São interessantes os relatos da festa propriamente dita do lado de fora do templo, a festa profana como se convencionou dizer. Mas há uma coisa que não se enquadra nesses relatos saudosistas de Manoel Querino, Antônio Vianna e, em tempos mais recentes, de Odorico Tavares e Hildegardes Vianna, dentre outros. O entorno da Conceição, pelos relatos dos viajantes e as fotos de final do século XIX, era uma imundície só, por isso amamos aquelas fotos clássicas de dezenas de saveiros com as velas entrecruzadas porque disfarçam a sujeira e, como foto ainda não cheira, tanto melhor. Imagino a trabalheira da prefeitura para tornar as imediações da igreja, transitáveis para o tradicional 8 de dezembro.Era uma festa e tanto de comida, bebida e divertimentos e também de devoção. E de baianos metidos a besta e essa a parte que eu mais gosto, por que não ser refinado? Ricos, remediados e pobres sabiam fazer. Durante a procissão, contam os cronistas mais antigos, na subida das estreitas ladeiras, uma pausa para degustar um bom vinho do Porto, renovar energias para continuar. E as irmandades caprichavam nos lautos banquetes de véspera, nas serenatas com cantores de modinha e nos saraus de piano que invadiam a meia-noite da data de Nossa Senhora. Na rua, o povo se virava em barracas simples, mas nem tanto, adornadas com folhas de palmeiras, cortinas de linho e alvíssimas toalhas de mesa e, no cardápio, as melhores pingas do Recôncavo e os mais requintados pratos da culinária baiana.Não se comia pastel, cachorro-quente, churrasquinhos imundos e acarajés recozidos no azeite de ontem, naquele tempo. As barracas ofereciam xinxim de galinha, moqueca de arraia, bobó de camarão e efó, enquanto a capoeira corria solta e o samba de roda se multiplicava a cada esquina, e a garotada e os marmanjos divertiam-se nas corridas de saco e no pau de sebo. A briga era para saber qual a barraca mais limpa e de melhor comida. E quem servia vestia os melhores torsos, finíssimo pano da costa e enfeites dourados e prateados nos braços e nas sacadas das residências exibiam-se belas mantas e as tradicionais lanternas coloridas confeccionadas artesanalmente. O espírito da festa era cair de porre, mesmo, mas com elegância, orgulho das raízes e educação.