Caiu na Toca... Tá na hora da furança!

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Publicado em 23 de agosto de 2023 às 05:05

Paulo Leandro
Paulo Leandro Crédito: Angeluci Figueiredo

A furança rubro-negra é algo característico como razão de ser da última festa de largo dos baianos, no local anexo ao Barradão, onde está presente Dioniso, o deus do vinho e do êxtase místico.

Diria dom Diego, ao descer do mundo supralunar e driblar os guichês de acesso: vamo vamo león, vamo salir campeón. A campanha do Vitória dignifica ambos os valores, o cristão, o do trabalho, e o grego, o do talento.

Para os jogadores mais ou menos, a saída é dedicar-se pingo a pingo, aos fundamentos, sem ter vergonha de pedir para aprender como se tira um lateral, um tiro de meta, o toque curto, não digo o lançamento, dado a poucos.

Nas primeiras décadas do futebol, nós brasileiros, com o tempero de Popó Bahiano, acrescentamos alegria e criatividade ao jogo inventado pelos ingleses obedientes aos manuais.

Rubens Salles é um exemplo. Não tinha régua para fazer o passe preciso a pouca distância. Desistiu? Não. Passou a treinar lançamentos longos, deixando como legado a categoria de um Gérson de Oliveira Nunes.

E Domingos da Guia? Sem ele, talvez o beque ainda jogasse parado e dando bico para o lugar onde estivesse virado, mas não, o Divino, pai de Ademir da Guia, ensinou a zaga a sair jogando, a virar volante, a criar, enfim.

E quem pariu o ponta de lança? Teria sido Feitiço, pelo Santos, ao sair da área para buscar jogo? É este futebol inventivo, desobediente e sem rédeas a marca maior do Brasil, talvez um pouco desta raspinha explique o Vitória hoje.

Outra oportunidade de entendimento vem do legado de Oswaldo Brandão, treinador para o qual o futebol é, antes de tudo, “association”. Chamamos em português de conjunto.

E, neste aspecto, encaixou-se como luva o atacante Léo Gamalho, um ‘case’ para revistas científicas de dermatologia, pois saiu do risco de morte de câncer de pele para o amor do encontro frequente com as redes.

Para quem duvidou de sua capacidade – e não foram poucos – ao voltar à cancha o artilheiro, na derrota de 1x0 para o Vila Nova, agora mudou de ideia e passou a achar lindo o coque do nosso homem de área. Mateus Gonçalves também encaixou-se bem no Vitória, demonstrando uma capacidade revelada por grande parte dos jogadores, a comunicação com a massa.

Pense aí quanto cobra um mídia training para treinar um CEO, ou qualquer sigla besta desse tipo, para poder transmitir suas mensagens decoradinhas. Agora pense em Iury Castilho, pedindo para milhares e milhares terem calma pois seu gol sairia. O parto, como esperamos seja bem sucedido o da patroa, veio mesmo, mostrando, além de clarividência, o poder da sofística.

Outro cara que eu, meus filhos Vítor, Guilherme e Hugo, e a bela Afrodite gostaríamos de agradecer é a Giovanni Augusto, além de Lucas, e mais além de Lucas, Arcanjo, então é uma prova da existência de Deus – e das deusas.

Esta crônica seria incompleta se não citássemos aqui a raça e categoria de Zé Hugo, nascido do útero de uma mulher chamada Vitória. Vejam, ao dominar a bola, como o jogador assemelha-se à dynamis grega. Muito bom!

O novo padrão preto, belíssimo, e a sintonia entre jogadores e a Imbatíveis transportam o torcedor para a dimensão estética, combinando a harmonia das jogadas em campo com o kosmo ordenado, antes da luneta.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade