Confissões de Uma Garota Excluída, na Netflix, trata bullying com leveza

Nova adaptação de livro de Thalita Rebouças chega ao streaming, em produção original

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  • Roberto Midlej

Publicado em 21 de setembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

A palavra "fenômeno" anda bem desgastada e pode ser até lugar-comum quando queremos falar de alguém que faz sucesso. Mas não há como classificar a escritora Thalita Rebouças com outro adjetivo, afinal que outros autores brasileiros já conseguiram passar a marca de dois milhões de livros vendidos? Segundo a editora Arqueiro, a marca já é de 2,3 milhões, com mais de 20 livros publicados.

Com tanta popularidade e com o bom momento que o cinema brasileiro vivia até o início da pandemia, era natural que suas histórias chegassem às telas. E foi assim em filmes como Fala Sério, Mãe! (2017), É Fada! (2016) e agora com Confissões de uma Garota e Excluída (2021), que chega amanhã à Netflix.

Com Klara Castanho no papel principal, a produção original do streaming conta a história de Tetê, uma nerd de 16 anos que vive sofrendo bullying na escola e está passando por um aperto na vida pessoal: com os pais em crise financeira, ela é obrigada a se mudar com eles para a casa dos avós. Sai da Barra da Tijuca, um bairro nobre do Rio de Janeiro, para uma área simples de Copacabana, que não chega a ser considerado um bairro popular, mas está longe do glamour da Barra.

Não bastasse a perseguição e o isolamento que sofre nas escolas por onde passa, em casa está longe de ser diferente: nem a avó e a mãe a deixam em paz. Como se adolescente sofresse pouco, as duas pegam no pé da menina pelos mais diversos motivos: porque ela tem buço, porque sofre de sudorese, porque não tem namorado, porque tem poucos amigos...

Embora trate dessa sensação de inadequação por que todos jovens passam, o filme trata tudo com o bom humor que marca os textos e as adaptações de Thalita para o cinema, afinal, são uma marca dela, como reconhece a autora: "Não sei escrever sem fazer graça, então todo livro meu, se não tiver graça, não é uma história minha. Por mais dramática que seja a história, sempre terá um tom bem humorado".

E para alimentar esse bom humor, Thalita reedita a parceria com o diretor Bruno Garotti, o mesmo de Tudo por Um Popstar, outra adaptação da escritora para o cinema. "Temos um respeito mútuo pelo trabalho um do outro, que é muito lindo. Ele gosta mais do meu livro que eu mesma", diz, referindo-se a Confissões de uma Garota Excluída, Mal-Amada e (um pouco) Dramática, que deu origem ao filme. Tetê com os amigos Zeca (Marcus Bessa) e Davi (Gabriel Lima) Este é o sexto longa de Bruno, que tem se especializado em filmes de temática adolescente ou juvenil. A primeira experiência com essa faixa etária foi em Confissões de Adolescente (2014), dirigido por Daniel Filho e codirigido por Cris D'Amato. Bruno foi assistente de direção. "Quando acabei de filmar, pensei: 'quero fazer algo assim'", diz. Bruno então dirigiu Eu Fico Loko, com o youtuber Christian Figueiredo.

"Falar de jovens é um campo amplo e admiro diferentes cineastas que falam dessa época da vida, em que enfrentamos muitos desafios pela primeira vez, sem muitas perspectivas", revela o diretor, que cita Steven Spielberg, François Truffaut e John Hughes como cineastas que abordam a adolescência. "è uma etapa muito rica para a dramaturgia".

Klara Castanho diz que tomou alguns cuidados para que sua personagem não caísse no estereótipo da nerd: "Claro que tem os óculos, por exemplo, que são característicos. Mas acrescentamos a ideia de que ela gasta muito tempo lendo e estudando e isso desgasta a visão dela. Essas coisas acontecem para dar veracidade a ela", diz.

A atriz, que saiu da adolescência há não muito tempo - tem 20 anos -, fala sobre essa fase da vida: "Todo adolescente se sente meio 'fora da casinha', porque você está descobrindo quem você é. Você não ama o que vê no espelho e encontra pessoas que criticam o que incomoda você". Ela diz que, embora tenha sofrido pouco bullying, sentia-se observada, afinal é uma pessoa pública desde muito cedo. "Rolava uma opinião sobre como me portar, como deveria ser. Tive uma 'armadura muito grande da minha família". Júlia Rabello e Rosane Gofman são mãe e avó de Tetê A jovem Klara dá conta do recado muito bem na composição da sua Tetê, assim como os amigos da protagonista, que também têm um desempenho bastante satisfatório. Marcus Bessa é Zeca, um gay que lida muito bem com sua sexualidade, e Gabriel Lima é Davi, um adolescente nerd como Tetê e muito sensível, o que também o faz se sentir meio excluído.

O trio de adolescentes é ótimo, mas é difícil competir com outro trio bastante experiente e que traz os momentos mais divertidos do filmes: Rosane Gofman e Stepan Nercessian fazem os avós de Tetê e Júlia Rabello, revelada para o Brasil nos esquetes do Porta dos Fundos, é a mãe que pega no pé da filha adolescente. Como todo familiar, mesmo que errem, estão ali para ajudar a menina e é essa tentativa de ajudá-la de um jeito meio torto que traz os momentos mais cômicos do filme.

Thalita e Bruno se juntam para tratar de bullying, um tema que, se não for abordado com o devido cuidado, tem tudo para cair na pieguice ou no clichê, afinal o cinema tem tratado disso com frequência nos últimos anos. Mas eles escapam disso, principalmente porque optam pela leveza e pelo bom humor, sustentados por um ótimo elenco, que ganha o reforço dos três veteranos citados. É filme pra estourar pipoca e ver em família, num domingão à tarde.