O poeta chileno Pablo Neruda não morreu de câncer

Um grupo internacional de 16 peritos fez afirmação após análise do corpo do ganhador do Nobel de Literatura, morto em 1973

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  • Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2017 às 16:43

- Atualizado há um ano

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Um grupo de 16 especialistas internacionais convocados pela Justiça chilena concluiu, nesta sexta-feira (20), que o poeta e prêmio Nobel de Literatura Pablo Neruda não morreu devido a um câncer, como consta em sua certidão de óbito, pouco depois do golpe militar de 1973.

"É rotundamente e 100% certo que a certidão [de óbito] não reflete a realidade do falecimento", afirmou o médico Aurelio Luna em coletiva de imprensa.

O Nobel de Literatura morreu em uma clínica da capital chilena em 23 de setembro de 1973, 12 dias depois do golpe de estado de Augusto Pinochet.

Segundo a versão oficial, o escritor e político comunista morreu devido ao agravamento do câncer de próstata que sofria quando tudo estava pronto para facilitar sua saída ao exílio no México.

O simpósio com especialistas do Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha e Chile buscou confirmar ou excluir a hipótese de que existiu uma intoxicação voluntária e deliberada para matar o autor mediante a administração de germes ou toxinas bacterianas, explicaram os peritos na segunda-feira (16) na abertura do painel.

"Sem dúvida vamos ter mais clareza sobre a sua morte, vai mudar a história em relação à morte de Neruda", afirmou mais cedo à AFP Rodolfo Reyes, advogado e sobrinho de um dos poetas mais populares do mundo.

DETERIORAÇÃO DE PROVAS - Apesar das dúvidas geradas por sua morte repentina, foi necessário esperar quatro décadas para que a versão do assassinato ganhasse força. Isso aconteceu em 2011, com a publicação de declarações do motorista e assistente pessoal de Neruda, Manuel Araya, que afirmou que o poeta piorou depois que lhe aplicaram uma injeção no abdome.

O juiz do caso, Mario Carroza, que nesta sexta-feira (20) recebeu o relatório dos peritos, é o encarregado de avaliar os passos a serem seguidos na investigação, que ordenou em abril de 2013 uma nova exumação do corpo do escritor, para elucidar se o regime de Pinochet, que provocou mais de 3.200 mortes, eliminou também a vida do escritor. O desafio dos cientistas foi utilizar os avanços da ciência para encontrar respostas, mas com a passagem do tempo a tarefa se transformou em uma missão quase impossível.

"É preciso ser muito prudente e pensar que estamos analisando amostras degradadas com uma antiguidade significativa, e que isso sempre vai significar uma limitação às possíveis conclusões obtidas", advertiu à AFP Aurelio Luna Maldonado, especialista da Universidade de Murcia, durante a abertura do painel.