Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2022 às 16:00
Apesar de ter sido originalmente escrito em finais da década de 80, quando as fanfics ainda não eram comuns, e nunca ter sido publicado, “O Sequestro da Rosa” é lançado agora pela estreante Editora Aiê. >
O inusitado na obra é que ela é escrita e ilustrada por dois primos que têm o mesmo nome: José Amarante (Santos Sobrinho) e José Amarante (Santos Neto), um é neto do tio do outro. Ambos são fãs assumidos da história do Príncipe com a Rosa e também gostam de histórias.>
As aquarelas dessa primeira edição também estarão presentes através de uma exposição das pinturas, no mesmo local. O evento acontece justamente na abertura do mês da criança, dia 01 de outubro, das 17h às 19h30, no Palacete das Artes.>
As fanfics, cada vez mais comuns, são histórias de ficção que se originam a partir de outras existentes. Pois bem, quem leu O Pequeno Príncipe talvez vá reconhecer no livro a Rosa que vivia com ele em seu pequeno planeta. >
Dessa vez, pois, ela – sempre tão vaidosa – ressurge na Terra, num jardim em que um jardineiro, alérgico a perfumes, não gosta de rosas, mas de margaridas. E a Rosa, agora, vai ter que lidar com a nova situação: não ser mais a única no mundo, como imaginava ser naquele planetinha perdido. Não será fácil para ela, principalmente porque a história ainda envolve o seu sequestro.>
E se alguém perguntar o que faria a imagem de um sequestro num livro infantojuvenil, o próprio autor responde num verso, quando declara que tudo "é somente um resgate em poesia", de modo que se configura como uma metáfora para a própria fanfic, quando a Rosa é tomada de uma história pré-existente e renasce, resgatada, em outra história.>
Para contar essa história, José Amarante propõe uma brincadeira com três gêneros textuais. Então, primeiramente o livro apresenta uma notícia sob a forma de poema, que anuncia o incomum sequestro acontecido; segue-se um conto, em que Seu Grilo, personagem importante da peça que fecha o livro e bastante envolvida no sequestro, dará seu testemunho sobre o ocorrido; por fim, o livro estampa uma peça teatral infantojuvenil, quando toda a história acontece numa proposta a ser lida, e/ou encenada, com os estudantes em suas escolas ou com grupos de amigos da comunidade.>
Ainda do ponto de vista da composição, boa parte das falas da Rosa, na peça teatral, foram tomadas da edição portuguesa de O Pequeno Príncipe, na clássica tradução do poeta Dom Marcos Barbosa, que se publica no Brasil desde 1952. >
É, pois, também, uma forma de homenagear aquela tradução que ficou no nosso imaginário de infância. Sem pretensão de didastimos ou moralismos, mas considerando o provável uso do livro em ambiente escolar, o autor tematiza, ao final do volume, um conjunto de questões importantes em nosso tempo, como o dilema das fake news e o capacitismo. >
Natural de Ituaçu, o autor do livro recorda que a Congregação Mariana já encenou O Sequestro da Rosa em sua cidade natal. >
Além disso, a obra mescla gêneros textuais que podem se converter em objeto de estudo no contexto escolar e discute, inclusive, sobre o texto teatral como um gênero que pode ser apreciado também via leitura e não apenas pela encenação. >
Entretanto, o volume estimula a ideia de representação da peça, razão pela qual apresenta, ao final, dicas de encenação para que os estudantes, sob a orientação de algum adulto sensível a projetos criativos de crianças e jovens curiosos, possam encarar o desafio.>
A peça foi originalmente escrita quando o autor também era um jovenzinho e quando não se falava tanto em fanfics; ela já foi representada na Amazônia paraense, com alunos da Fundação Educacional do Jari, por volta dos anos 90; em Salvador, Bahia, no Teatro Jorge Amado, com alunos do Colégio Villa, nos anos 2000; e, também nos anos 2000, na Congregação Mariana, em Ituaçu-Bahia, cidade dos dois Josés, o autor e o ilustrador.>
Também no sábado, a Aiê lança a segunda edição de "Ainda em flor", obra do mesmo autor de "O Sequestro da Rosa", agraciada com o Prêmio Braskem de Literatura de 2006. Entre as edições gratuitas, a editora lança seu primeiro e-book acadêmico "Flexão verbal da língua grega antiga", da paraibana Alcione Lucena de Albertim, já disponível em seu site.>