Em versão da família, Jean foi agredido primeiro pela esposa

Jogador teria revidado a uma mordida na perna e golpe com 'chapinha'

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  • Da Redação

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 15:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto cedida ao CORREIO

A agressão do goleiro Jean, do São Paulo, à esposa Milena Bemfica fez o noticiário esportivo ganhar as páginas policiais nesta quarta-feira (18). Através de vídeos publicados na rede social Instagram, Milena fez a denúncia, pediu socorro e a polícia americana foi acionada, prendendo o jogador no hotel em que o casal estava hospedado em Orlando, nos Estados Unidos, onde eles passam férias com as duas filhas.

Ao contrário de Milena, Jean ainda não pronunciou após o ocorrido diretamente nem através da sua assessoria. No entanto, fontes próximas aos familiares do goleiro informaram ao CORREIO o que seria a versão do atleta.

"Eles sempre brigaram e ela costumava agredir ele, que nunca revidou. Dessa vez ela mordeu a perna dele e aí, para soltar, ele começou a bater na cabeça, no rosto dela. Tanto é que ele foi para o hospital tomar ponto", contou, em condição de anonimato. O relacionamento entre os dois estaria desgastado e caminhava para uma separação.

Jean é filho do ex-goleiro de mesmo nome, ídolo do Bahia na década de 1990, e de Andréa Choucate. A mãe estaria tentando obter um visto emergencial para embarcar rumo aos Estados Unidos.

O boletim de ocorrência registrado pelo Xerife adjunto Edgar Castillo, do Condado de Orange, na Flórida, aponta que Jean foi quem iniciou as agressões, atingindo a esposa com oito socos após uma discussão que tiveram no quarto de hotel onde se hospedavam junto às duas filhas do casal. O documento diz ainda que Milena pegou uma chapinha de cabelo para se defender do ataque e feriu Jean em legítima defesa. A chapinha quebrou ao atingir a cabeça do goleiro e foi usada depois para ferir Jean na perna. 

Na foto da ficha de Jean no sistema do Departamento de Correções do Condado de Orange é possível ver que a testa do goleiro está com uma marca vermelha. A família do jogador ainda divulgou uma imagem em que ele aparece com um ferimento na perna. Registro da detenção de Jean nos Estados Unidos (Foto: Reprodução) Entenda o caso Milena gravou vídeos em sua conta pessoal do Instagram, na madrugada desta quarta, denunciando agressões físicas que atribui ao marido. Com o rosto machucado, ela afirmou que estava trancada no banheiro do hotel e disse: "Eu estou aqui em Orlando e olha o que Jean acabou de fazer comigo. Alguém me ajude. Jean acabou de me bater, gente, socorro", contou Milena através da rede social.

Além disso, a moça também publicou um trecho da conversa entre ela e Jean na mesma rede social. Segundo Milena, o goleiro estaria lhe fazendo pressão psicológica em retaliação às denúncias. "Parabéns. Terminou com minha carreira. E suas filhas vão passar fome", escreveu Jean.

Minutos após a publicação dos vídeos e da captura de tela com a conversa entre os dois, Milena apagou os stories. Depois, ela publicou um novo vídeo afirmando que estava sem celular e em outro lugar, distante do marido, e na companhia das filhas.

“Eu estou com as meninas. E está tudo bem (...). Depois eu vou me pronunciar, só estou falando porque tem muita gente falando comigo e eu não tenho como responder. Eu não tenho WhatsApp, estou tipo incomunicável, mas está tudo bem”, afirmou em vídeo.

Horas depois, a polícia americana foi acionada por funcionários do hotel e levou Jean detido. A ficha dele consta como pré-sentenciado no sistema do Departamento de Correções do Condado de Orange, no estado da Flórida, onde aguarda audiência. Ele foi fichado por violência doméstica às 7h27 no horário local (9h27 no fuso de Brasília).

O São Paulo publicou uma nota oficial às 9h41, possivelmente antes de tomar conhecimento da detenção do atleta, que ocorrera apenas 14 minutos antes. No texto, o clube paulista afirma: "O São Paulo Futebol Clube informa que acompanha o caso envolvendo o atleta Jean Paulo Fernandes Filho e aguarda apuração dos fatos para definir as medidas cabíveis. Em seus quase 90 anos de existência, o São Paulo construiu uma história pautada por princípios sólidos de conduta dentro e fora de campo, e não abre mão deles".

ProcessoO goleiro pode ir a julgamento nos EUA. Existe a possibilidade de isso acontecer também no Brasil. Ele foi acusado pela própria mulher, Milena Bemfica, de tê-la agredido durante discussão no hotel onde estavam hospedados. O casal e suas duas filhas estavam em férias. O São Paulo acompanha o caso e acena com a possibilidade de rescindir o contrato do jogador de 24 anos - seu vínculo vai até o final de 2022.

Para Jean responder a um processo nos Estados Unidos, Milena Bemfica precisa realizar uma queixa formal mesmo após ela ter divulgado o vídeo em que relata as agressões. Ela tem três dias para isso. Por se tratar de violência doméstica, considerada uma ação pública incondicionada, o Ministério Público apresenta a denúncia mesmo que a vítima não demonstre interesse em fazê-lo ou se sinta ameaçada. À priori, Milena não tem interesse em prestar queixa.

Em contato com o Estado, a advogada Larissa Salvador, que atua nos Estados Unidos pelo escritório Marcelo Leal Advogados, explicou o que pode ocorrer com Jean de agora em diante. "Ele pode pegar pena de um ano de prisão, 12 meses em liberdade condicional e multa de US$1 mil (pouco mais de R$4 mil). Jean pode ainda ficar em liberdade, mas provavelmente com o passaporte retido nos Estados Unidos", explicou.Se o caso não for levado adiante na Flórida, o jogador do São Paulo responderá ao processo no Brasil. É o que explica João Paulo Martinelli, advogado criminalista e professor de direito penal da pós-graduação da Escola de Direito do Brasil. 

"Ou há o processo lá ou há aqui porque ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato. Para responder de acordo com a lei brasileira, é importante saber pelo laudo o grau da lesão. Há três graus. O leve, com pena de três meses a um ano; grave, com pena de um a cinco anos; e gravíssimo, com pena de dois a oito anos. Como é aplicada a Lei Maria da Penha, pode haver algumas ações como restrição em chegar perto da vítima, por exemplo, e pagamento de pensão", explica o criminalista.