Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 17:15
- Atualizado há 2 anos
A Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou o meia Ramírez, do Bahia, por injúria racial contra o volante Gerson, do Flamengo. Um inquérito já havia sido instaurado um dia após a acusação feita no dia 20 de dezembro, após o jogo entre os dois times pelo Campeonato Brasileiro.>
Em nota, a Polícia Civil informou que todas as testemunhas foram ouvidas e que o inquérito se baseou ainda na súmula e imagens do jogo que comprovam a indignação imediata de Gerson. "O conjunto probatório coligido em sede policial corroborou toda a dinâmica do fato e versão da vítima, desde o momento que disse ter sofrido a agressão injuriosa por preconceito até seu comportamento após o término da partida".>
A nota também informou que Ramírez negou a acusação, afirmando que teria falado "joga rápido" ao atleta do Flamengo. "Após a decisão da Polícia Civil, o caso vai para o Ministério Público, que decidirá se apresentará denúncia ou não contra o jogador tricolor">
Além da esfera criminal, um outro inquérito foi aberto no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no qual o órgão apura se oferecerá ou não denúncia contra o jogador do Bahia. No entanto, o caso deve ser encerrado, já que Gerson e os jogadores do Flamengo não compareceram na audiência em que prestariam depoimento sobre o caso.>
O STJD avalia ainda punir o Flamengo pela falta caso fique comprovada a infração dos jogadores da equipe carioca. Vale lembrar que foi o próprio Flamengo que sugeriu a data dos depoimentos de Gerson, Nathan e Bruno Henrique, os dois últimos intimados como testemunhas.>
Bahia contesta Após a decisão da Polícia Civil do Rio de Janeiro, o Bahia emitiu nota oficial na qual lamentou o indiciamento de Ramírez e criticou a postura adotada pela delegada Márcia Noeli.>
Segue abaixo a nota na íntegra:>
O Esporte Clube Bahia vem a público lamentar o indiciamento do meia-atacante colombiano Indio Ramírez pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, muito embora a notícia não cause surpresa, tendo em vista as manifestações públicas preliminares da delegada do caso à imprensa especializada.>
“Nosso jogador”. Assim ela se referiu ao volante Gerson, do Flamengo, responsável pela acusação – e que não compareceu ao depoimento perante a Justiça Desportiva -, indicando espectro de notória parcialidade.>
O clube teve acesso à integralidade dos depoimentos colhidos no inquérito e pode afiançar à sociedade e à torcida tricolor que a decisão foi absolutamente despida de qualquer fundamentação probatória.>
Em todos os momentos do episódio, o Bahia se comportou em busca da verdade dos fatos, sem desmerecer a palavra de Gerson, mas também considerando a presunção de inocência do seu atleta e a necessidade de se produzir prova robusta e incontestável.>
Sem a apresentação de fatos novos, conforme aguardamos por mais de um mês, a diretoria tricolor seguirá apoiando Ramírez e tem convicção de será feita Justiça, ao tempo em que reafirma a sua posição de clube expoente da luta antirracista no futebol brasileiro.>
Entenda o caso>
Durante a partida entre Bahia e Flamengo, vencida pelo time carioca por 4x3, em dezembro do ano passado, no Maracanã, Gerson acusou o colombiano Ramírez de ter falado "cala boca, negro!".>
No momento do suposto ocorrido, houve uma grande discussão no campo, que resultou também em acusação na esfera criminal, investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.>
"O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: "Cala a boca, negro". Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito", acusou Gerson em entrevista pós-jogo.>
"Em nenhum fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. Acontece que quando fizemos o segundo gol botamos a bola no meio do campo para sair rapidamente e o Bruno Henrique finge e eu arranco a correr e eu digo a Bruno que” jogue rápido, por favor”, "vamos irmão, jogar sério”. Aí ele joga a bola para trás e Gerson, não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei "joga rápido, irmão", se defendeu Ramírez.>
Ramírez chegou a ser afastado das atividades pelo Bahia, enquanto uma apuração interna foi realizada pelo clube. na leitura labial feita por especialistas contratados pelo tricolor, foi constatado que o jogador não usou a palavra "negro" durante os diálogos.>
Sem a comprovação de que o colombiano havia cometido a injúria, Ramírez foi reintegrado ao elenco do Bahia e vem sendo peça importante na luta do Esquadrão para escapar do rebaixamento.>