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Economia circular e pulsante: empreendedores sociais driblam crise com propostas inovadoras

Pandemia trouxe lado positivo para empreendedores sociais que atuam em Salvador

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 10 de agosto de 2020 às 06:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Divulgação

Quando a quarentena foi decretada, a startup Wakanda, que atua com educação empreendedora ajudando a potencializar os negócios que operam por necessidade, como tantos outros negócios, também paralisou as atividades sem compreender direito como iriam promover a renda das famílias assistidas. Depois de algum tempo, perceberam que a fabricação de máscaras poderia ser uma boa saída e criaram o projeto máscaras por nós e conseguiram organizar a produção com 25 famílias. 

Como não poderiam manter contato pessoal, a Wakanda se incumbiu de organizar a rede, acompanhar remotamente e organizar a venda das máscaras que foram coletadas e entregues por meio de uma outra startup: o Traz Favela, serviço de aplicativo que atende as áreas periféricas da cidade. Na primeira leva de produção, o lucro de R$45 mil foi distribuído entre as famílias envolvidas.

A Wakanda ([email protected]) é uma das 13 iniciativas que atuam no Espaço Colabore, no Parque da Cidade, que atuam numa perspectiva de negócios sociais, que integrem a chamada economia circular. Para quem ainda não sabe como isso funciona ou pensa que a iniciativa é muito utópica, vale lembrar que dos dados do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que apontam que a economia circular deve movimentar 1 trilhão de dólares mundialmente na próxima década. Em Salvador, esses projetos são incubados no Parque Social e já fazem diferença na vida de muitas pessoas que, direta ou indiretamente, compreendem que a economia circular é o caminho do futuro. 

Crescimento constante Se a quarentena e a pandemia abalaram profundamente alguns negócios, os empreendedores sociais conseguiram vencer as adversidades com propostas inovadoras, mesmo durante esse período.  

De acordo com a idealizadora da proposta, a  empreendedora social Karine Oliveira, o grupo permanece produzindo, gerando renda e agora se prepara para lançar as máscaras acessíveis, feitas com material transparente, que possibilita que os portadores de deficiência auditiva consigam realizar a leitura labial, mesmo se o interlocutor estiver de máscaras. “Estamos em fase de testes, mas muito felizes com os resultados obtidos durante esse período que, apesar de desafiador e difícil, nos mostrou que estamos fortes”, comemorou.  Karine Oliveira conseguiu usar a quarentena e a necessidade de produção de máscaras para fornecer renda para 25 famílias e organizar uma rede de produção (Foto: Divulgação) Para Karine, que atua com economia circular desde 2018, a proposta de trabalhar com o social, possibilita garantir uma distribuição de renda mais justa, qualidade de vida para a comunidade, onde ninguém enriquece, é verdade, mas também todos podem ganhar.

A Humma+ iniciou suas atividades em plena pandemia, interligando as empresas que tem interesse em contratar pessoas que, em regra, são excluídas do mercado de trabalho formal. De acordo com uma das idealizadoras, a advogada Cídia Vieira (que é sócia de Amanda Trinchão), a parada forçada possibilitou que as empresas repensassem seus conceitos e facilitou  que a empresa pudesse desenvolver diagnósticos e estratégias para efetivar a remodelagem desses espaços. 

“Trabalhar diversidade não é apenas para preencher cotas, pois os estudos mostram que uma empresa realmente diversa consegue aumentar sua lucratividade em uma média de 33%”, diz, ressaltando que agora a Humma+ está fechando parcerias. 

Água bem usada A pandemia também foi um desafio adicional para a equipe do Safe Drinking Water For All(SDW). No início, as equipes estavam no interior do estado instalando o Aqualuz, que é um equipamento capaz de tratar a água com radiação solar. De acordo com a idealizadora do projeto Anna Luísa Beserra, a quarentena terminou por paralisar as operações de campo, pois havia uma natural preocupação com as famílias e com as equipes. “Acreditamos, no início, que seria rápido, depois percebemos que demoraria muito mais”, conta. 

Nesse tempo sem atividades, surgiu a ideia de criar o Aquapluv, que é um lavatório público, que usa a água da chuva, mas também do sistema convencional de água e que está sendo desenvolvido com a parceria da Prefeitura e da iniciativa privada. “A quarentena foi positiva na medida em que nos possibilitou a criação de um sistema que funcionará fora do período de chuvas, acionado por pedal, com boa resistência mecânica, podendo suportar vandalismo e que pode ser implantado em diversos locais”, comemora. 

O projeto da SDW terá uma fase inicial com 16 modelos de lavatórios que serão implantados em pontos de ônibus. “Nossa meta é que eles possam ser colocados em hospitais, UPAs, shoppings, enfim, em todo os locais de grande circulação, onde haja a necessidade de higienização de mãos”, finaliza.

Enquanto aguardam a retomada da economia convencional, os empreendedores permanecem apostando na economia circular não como uma alternativa, mas como o caminho que possibilitará seguir e ter futuro.  O coordenador da IN PACTO fala que o programa do Parque Social será ampliado para outras iniciativas no segmento que atuam com o empreendedorismo social (Foto: Divulgação) Entrevista: Randerson Almeida, coordenador da IN PACTO - Incubadora de Negócios Sociais (Parque Social/Prefeitura Municipal do Salvador)

1. Como você descreveria o universo da economia social em Salvador e na Bahia? A Bahia sempre demonstrou ter uma vocação natural para empreender, sobretudo em áreas como gastronomia, cultura e serviços em geral. No entanto, nos últimos anos esse potencial tem se expandido para outras áreas com inovações das mais diversas. Somos a terra da alegria, do carnaval, das praias, mas também sempre fomos a terra dos empreendedores de impacto e isso tem ficado cada dia mais evidente.

Conceitualmente, o termo economia social está vinculado ao terceiro setor. Surge das práticas de solidariedade, dando origem a formas de organizações como associações, cooperativas e mutualidades. Em Salvador, existem muitas organizações dessa natureza que atuam formal e informalmente para colaborar com as questões sociais. O Parque Social - Empreendedorismo e Desenvolvimento Social, por exemplo, é referência na implementação de tecnologias sociais de impacto na vida das pessoas, atuando como facilitador da transformação da realidade local, com foco no empreendedorismo social e no desenvolvimento comunitário sustentável, concebendo e aplicando tecnologias de amplo impacto social que incentivam o protagonismo das pessoas e das comunidades como agente de transformação, a exemplo do Programa comunidade Empreende (PCE), de onde surgiu a ideia de criar uma incubadora voltada para negócios de impacto social.

O PCE foi concebido com base nos princípios que fundamentam o Empreendedorismo Social, destacando o forte engajamento dos atores locais e a geração dos resultados que retratem ações de impacto para as pessoas e suas comunidades, apropriação de conhecimento e práticas inovadoras. O PCE foi criado para apoiar e incentivar o surgimento de novos negócios de impacto social positivo dentro das comunidades de Salvador e já conta com três edições realizadas, sendo a primeira na Comunidade do Bairro da Paz (2014-2015), seguida pelo Pelourinho (2015-2016) e o PCE Região do Nordeste de Amaralina (2018-2019), envolvendo os bairros da Santa Cruz, Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho.

Com base na experiência do PCE, o Parque Social identificou a necessidade de ampliar a oferta de capacitação e acompanhar o amadurecimento de negócios de impacto. Assim surge a IN PACTO - Incubadora de Negócios Sociais pública, fruto de uma parceria entre o Parque Social e a Prefeitura Municipal do Salvador, por meio da Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (SECIS). A IN PACTO foi concebida com o propósito de fomentar o ecossistema de empreendedorismo e inovação da cidade do Salvador, oferecendo suporte operacional, técnico, gerencial e estratégico, gratuito, para empreendedores e potenciais empreendedores que tenham ideias, projetos ou negócios de impacto social positivo. A atuação da IN PACTO é voltada para o desenvolvimento do empreendedorismo socialmente justo e que incentiva a participação cidadã. Somos decisivos neste cenário, pois nos propomos a ser uma mola propulsora para ajudar empreendedores e instituições que buscam gerar impacto social. 

2. Qual a característica das startups que atuam com a IN PACTO? Os negócios apoiados pela IN PACTO tem como principal característica a intencionalidade em contribuir para alguma questão socioambiental. Esta é justamente o propósito que diferencia um negócio de impacto social dos outros modelos de negócio. Em 2015 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), funcionando como um plano de ação para a prosperidade do planeta. Todos os negócios apoiados pela IN PACTO contribuem para a resolução de pelo menos um dos ODS, com destaque para os objetivos 8 - Trabalho descente e crescimento econômico, 11 - Cidades e comunidades sustentáveis e 12 - Consumo e produção responsável. Acreditamos também que todos os negócios devam incluir inovações no seu escopo, pois isso garante escalabilidade e aumenta as chances de serem autossustentáveis e ampliação do impacto social.

3. Que repercussões o distanciamento social trouxe para essas iniciativas e para o trabalho desenvolvidos por vocês? O distanciamento social gerado pela pandemia do COVID-19 fez com que nós precisássemos reestruturar a nossa metodologia de incubação e pré-incubação de negócios. Foi um grande aprendizado para todos os envolvidos, equipe, consultores, negócios e parceiros. A IN PACTO, desde o início, atuou em rede e buscamos trazer soluções. Fisicamente, estamos localizado no Centro Municipal de Inovação COLABORE, onde funcionam um coworking com cerca de 40 estações de trabalho coletivo e salas para capacitações em grupo e reuniões. Assim que foi decretado o isolamento social, compreendemos que não haveria possibilidade de mantermos nossas atividades presenciais e convertemos toda nossa metodologia para ambientes virtuais, adaptando conteúdo, treinando equipe para utilização de plataformas e motivando os empreendedores a aprenderem nesse formato.

É bom lembrar que mesmo nesse período de pandemia e isolamento social, além da manutenção dos Programas de Incubação e Pré-incubação, com as ações do “Floresça de Casa”, a IN PACTO colocou em prática novos projetos, como o “Impactos Transformadores”, que em seu primeiro ciclo realizou 4 encontros virtuais correlacionando a temática da pandemia com aspectos ligados a saúde, bem-estar e meio ambiente. Foram 17 palestrantes convidados, quase 8 horas de transmissão, 4.275 pessoas alcançadas no Instagram e 961 visualizações no em nosso canal no Youtube. Também fizemos a curadoria de curso on-lines gratuitos e compartilhamento de notícias oficiais sobre o combate ao COVID-19 nas redes sociais da Incubadora. Recentemente, integrando as ações do Parque Social, participamos da ocupação virtual “Julho das Pretas” e estamos na organização do 4º Seminário Salvador Cidade Inovadora, a ser realizado virtualmente no dia 05 de agosto.

4. Algumas iniciativas pontuaram que a pandemia não os paralisou. Essa é uma realidade para todos? Acredito que em certo momento todos precisaram parar e repensar as suas soluções, porque os impactos da pandemia vão perdurar muitos anos influenciando nas formas de fazer negócio, de consumir e de se relacionar. É uma mudança sociocultural. Alguns conseguiram enxergar oportunidades durante a crise ou compreenderam que era o momento adequado para focar no planejamento de ações futura, já outros pensaram de fato em desistir. Porém, com o apoio da equipe técnica e dos consultores, foi possível reverter essas situações e hoje temos negócios e empreendedores fortalecidos. Dessa forma, desde o final de março estamos conseguindo cumprir o nosso propósito de apoiar o desenvolvimento de negócios de impacto social positivo, usando ferramentas virtuais para processos de avaliação, compartilhamento de arquivos em nuvem, videoconferência para as capacitações coletivas, individuais e bancas de avaliação com investidores e outros parceiros, além de ligações e uso de aplicativos de mensagens para a manutenção do contato direto com os empreendedores. Estamos conseguindo lidar também com as questões de saúde ocasionadas pelo distanciamento social, tanto física quanto psicológica. A escuta sensível, acolhimento e adaptações metodológicas em casos específicos, tem contribuído para que todos os negócios permaneçam em suas jornadas.

5. Salvador começa a pensar na reabertura. Quais são as expectativas para vocês? Nossas expectativas são muitas! Além da manutenção de atividades remotas, pretendemos retomar gradativamente as atividades presenciais. Daremos início ao processo de capacitação de mais uma turma de Pré-incubação e Incubação com 18 (dezoito) negócios já selecionados. Em seguida será lançado um novo Edital de Seleção para ingresso na Incubadora, com o objetivo de apoiar mais 10 (dez) negócios. Também serão realizadas palestras e oficinas relacionadas a empreendedorismo, inovação e impacto social positivo abertas ao público que tenha interesse em desenvolver estas habilidades. Além disso, será lançado o Programa de Voluntariado da IN PACTO, com o propósito de envolver a sociedade no ecossistema de empreendedorismo e inovação, contribuindo com o desenvolvimento técnico dos negócios apoiados e com a Incubadora, criando uma rede de colaboração e promovendo intercâmbio de conhecimentos e experiências.

6. Quantas pessoas são impactadas por essas iniciativas? Nós, atualmente, incubamos e pré-incubamos 13 negócios. Em sua maioria, cada iniciativa conta com mais de um sócio e muitas já empregam funcionário. Porém, quando se apoia um negócio de impacto social, espera-se que, com suas ações, ele possa gerar benefícios para uma grande quantidade de pessoas, impactadas por suas soluções. É uma reação em cadeia que gera impacto em escala. Somado os negócios e todas as nossas ações presenciais e virtuais, já são mais de 6 mil pessoas impactadas.

7. Quanto de recurso costuma girar em torno delas? Diretamente, os negócios apoiados não recebem investimentos financeiros. Somos uma Incubadora pública municipal, que tem o objetivo de fomentar o ecossistema de empreendedorismo e inovação da cidade, oferecendo suporte, qualificação e acesso à estrutura física adequada para o desenvolvimento de negócios de forma gratuito. No entanto, incentivamos a captação de recurso por meio de apoio em inscrições em editais de fomento, realização de rodadas de negócios, contato com potenciais parceiros, além do estímulo a geração de receita própria por meio de relações comerciais.

8. Como as startups que atuam no universo da economia solidária e social estão conseguindo sobreviver em tempos de pandemia? Apoiamos negócios em fase inicial de desenvolvimento. Alguns ainda não estão efetivamente no mercado. Estes estão aproveitando o período de pandemia para avançarem na formatação dos seus produtos e serviços, observando as mudanças impostas pelo dito “novo normal” que devem perdurar por muito tempo. Já os negócios mais maduros, que já estavam em operação, buscaram desenvolver soluções que minimizar os impactos negativos da pandemia. Esse é o caso, por exemplo, da SDW, que desenvolveu o “Aquapluv”, lavatórios públicos que aproveita a água da chuva. Já a Wakanda, empresa focada na orientação de empreendedores por necessidade, vem estimulando a produção de máscaras em cooperativas. O Agendei Saúde traz soluções para garantir a sociedade civil acesso aos serviços de saúde com preços acessíveis. Além desses, apoiamos diversos outros negócios que vão implementar soluções ainda mais necessárias no cenário pós pandemia. No que se refere a outros tipos de instituições como do terceiro setor, por exemplo, as doações acabam sendo um modelo de sustentação mais comum.