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Engolir sapo: estratégia ou armadilha profissional

Reconheça limites, direitos e quando se posicionar no ambiente corporativo

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 7 de julho de 2025 às 06:30

Engolir sapos faz parte da vida, especialmente no ambiente profissional. Mas quando o silêncio  forçado se torna uma constante, profissional e organização pagam um preço alto
Engolir sapos faz parte da vida, especialmente no ambiente profissional. Mas quando o silêncio forçado se torna uma constante, profissional e organização pagam um preço alto Crédito: SHUTTERSTOCK/REPRODUÇÃO

Atire a primeira pedra quem nunca passou horas remoendo as palavras que deveriam ser ditas numa reunião ou engoliu seco uma crítica injusta, um comentário atravessado ou uma sobrecarga sem sentido para não criar mal-estar. Engolir sapos faz  parte da vida, especialmente no ambiente profissional. Mas quando o silêncio forçado se torna uma constante, profissional e organização pagam um preço alto.

“Tem gente que aprendeu que no trabalho é melhor não se indispor. Vai relevando tudo, mas, por dentro, vai se corroendo. O problema é que esse silêncio forçado gera desgaste emocional, frustração e até sintomas físicos”, afirma o psicólogo Wanderley Cintra Jr., especialista em comportamento no ambiente corporativo.

Com uma vasta experiência em setores pessoais de organizações, a psicóloga Carmen Rezende diz que o segredo está em aprender a falar o que precisa sem exaltação. “Quando algo te incomodar, respira fundo primeiro - conta até 10 se precisar! Depois, fala de um jeito que não ataque a pessoa. Por exemplo, em vez de falar 'Você sempre me passa trabalho na última hora!', tenta algo como 'Fico estressado quando recebo tarefas urgentes sem aviso, porque atrapalha meu planejamento'. Tem uma técnica ótima: quando alguém insistir em algo que você não pode fazer, repita sua posição com calma, tipo disco arranhado mesmo: ‘Entendo, mas não vou conseguir entregar hoje’. Pronto. Sem drama, sem gritos, mas também sem se deixar atropelar”, ensina.

Inteligência emocional

Os psicólogos salientam ainda que nem sempre é necessário ter resposta pronta e que, em muitas situações, o melhor é não levar para o lado pessoal e relevar o comportamento em questão. “Quando começa a afetar seu trabalho, seu sono, sua saúde... hora de ter uma conversa séria. Não precisa ser briga, mas precisa ser uma conversa franca: Precisamos conversar sobre isso que está acontecendo”, diz Carmen.

Segundo Cintra, saber ignorar certos conflitos é um sinal de inteligência emocional. “Nem todos os desafios merecem um confronto direto. Às vezes, o silêncio pode ser uma estratégia eficaz”, afirma. No entanto, isso não deve se tornar uma regra.

Quando um profissional opta por permanecer em silêncio constantemente, com receio de ser visto como “difícil”, ele acaba se anulando. Isso pode ter um custo significativo ao longo do tempo. “Para líderes, pode resultar em uma equipe mais complacente, já que o líder se torna excessivamente permissivo. Para os liderados, pode significar falta de promoções e sobrecarga de tarefas”, pontua Cintra Jr.

Para Camen Rezende, o limite é simples: se está fazendo mal, se está mudando quem se é para “não criar problema”, se está afetando a autoestima, passou do ponto. “Ninguém tem que aguentar desrespeito para parecer profissional. Isso é papo furado. Respeito é o mínimo em qualquer lugar”, diz.

Assertividade e provas

Aprender a se posicionar não significa ser ríspido. A chave, segundo Cintra, é a assertividade: comunicar-se com clareza e respeito, sem se esconder, mas também sem atacar. “Frases como ‘quando isso acontece, eu me sinto desrespeitado’ ou ‘posso compartilhar meu ponto de vista?’ são formas eficazes de se colocar sem gerar conflito. Antes de reagir, vale refletir: essa situação é pontual ou frequente? Vale uma conversa? Vai gerar mudança real ou só estresse? Escolher suas batalhas também é sabedoria. O profissional maduro sabe o que vale o desgaste e o que pode ser deixado para lá”, afirma Cintra.

Por fim, o psicólogo destaca que o excesso de engolir sapos tem um efeito silencioso, mas devastador. “A pessoa começa a achar que não tem voz, que não vale a pena tentar. Isso corrói a autoestima e o prazer em trabalhar. Aprender a se posicionar é, antes de tudo, um ato de respeito consigo mesmo”.

Alguns sintomas do excesso de sapos engolidos: queda de motivação, sensação de impotência, garganta inflamada com muita frequência, perda da voz em momentos de muito estresse, desânimo constante, vontade de evitar colegas ou reuniões e até insônia e dores físicas. “Se você sai do trabalho remoendo conversas, é hora de prestar atenção”, alerta o psicólogo.

Carmen Rezende vai além e diz que essas situações podem constituir prova de assédio, então, se a coisa passou do limite, tome nota de dia, hora, o que aconteceu, quem viu. “Guarda e-mail, print de WhatsApp, tudo. Parece exagero, mas você vai precisar”.

Para garantir a saúde mental e emocional, a psicóloga destaca a ajuda profissional. “Depois, segue a hierarquia: fala com seu chefe primeiro (a não ser que o problema seja ele, claro). Se não resolver, vai para o RH. Marca reunião formal, nada de conversa de corredor. Leva tudo anotado, fala dos fatos, não fica no ‘eu acho’. E se a empresa tiver ouvidoria, usa também”, orienta. “Se a coisa está feia mesmo, quando não está conseguindo mais ser produtivo, não conseguindo nem trabalhar direito, deve solicitar afastamento médico. Sua saúde vem primeiro, sempre”, complementa Carmen, reforçando que o funcionário não precisa se omitir achando que é normal passar por essa situação.