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Exaustos e online: o peso invisível do home office

Conexão: Excesso de telas e a falta de pausas provocam o esgotamento digital

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 13 de outubro de 2025 às 06:30

A proposta da semana de quatro dias ganha força com a nova PEC e divide opiniões entre juristas, psicólogos e gestores.
A proposta da semana de quatro dias ganha força com a nova PEC e divide opiniões entre juristas, psicólogos e gestores. Crédito: Shutterstock

O home office, que se consolidou como tendência após a pandemia, trouxe inúmeros benefícios — entre eles, flexibilidade e economia de tempo. No entanto, também acendeu um alerta vermelho: o da sobrecarga digital. A fronteira entre o “estar em casa” e o “estar disponível” se dissolveu. O resultado é um exército de profissionais esgotados, com dificuldade de desconectar, descansar e preservar a própria saúde mental.

De acordo com a psicóloga organizacional Aila Cardial, especialista em saúde mental corporativa, a sobrecarga digital é “aquele momento em que o corpo está presente, mas a mente funciona num looping infinito de notificações”. Segundo ela, trata-se de um cansaço que não passa nem após uma boa noite de sono. “É o risco do burnout digital, muitas vezes disfarçado de produtividade”, explica.

Aila Cardial lembra que o “Burnout digital”, muitas vezes,  chegadisfarçado de produtividade
Aila Cardial lembra que o “Burnout digital”, muitas vezes, chegadisfarçado de produtividade Crédito: Divulgação

Aila alerta que viver no piloto automático impede o descanso real. “Quando o cérebro não desliga, o corpo não descansa e o emocional entra em pane silenciosa. É preciso reaprender a pausar, relaxar e se restaurar. Caso contrário, pagamos a conta com adoecimento físico e mental”, afirma a psicóloga.

Necessidade, não luxo

O chamado “direito à desconexão” vem ganhando força nas discussões sobre saúde mental e relações de trabalho. “É o direito de ser humano fora do horário de trabalho”, resume Aila Cardial. “De poder existir além do e-mail, do WhatsApp da empresa e do ‘só mais um minutinho para resolver isso aqui’”, pontua.

Durante a pandemia, o trabalho remoto levou muitos profissionais à exaustão por não conseguirem desligar. “Em algumas empresas, foi necessário bloquear o acesso a sistemas e e-mails fora do expediente para preservar o bem-estar dos colaboradores”, relembra Aila. Segundo ela, decisões judiciais no Brasil já reconhecem os danos da hiperconexão e reforçam a necessidade de regulamentar o tema. “Ninguém é criativo, empático ou produtivo 24 horas por dia”, ressalta.

A psicóloga lembra ainda que a NR-01, que passará a vigorar no próximo ano, trará obrigatoriedade de ações voltadas à saúde mental no ambiente de trabalho — um avanço que promete beneficiar tanto profissionais quanto empresas.

Hiperconexão

A psicóloga Isabela Campos, da Holiste Psiquiatria, reforça que o excesso de estímulos digitais tem efeitos profundos no comportamento humano. “Embora a tecnologia facilite a comunicação, ela também pode gerar isolamento, reduzindo o contato humano e o fortalecimento dos vínculos afetivos”, diz.

Isabela Campos destaca que a sobrecarga digital traz diversos riscos à saúde mental
Isabela Campos destaca que a sobrecarga digital traz diversos riscos à saúde mental Crédito: Divulgação

O cérebro sobrecarregado responde com estresse, ansiedade e fadiga mental. O problema não atinge apenas adultos. “Entre crianças e adolescentes, a exposição excessiva às telas compromete o desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem”, diz Isabela.

Ela também destaca a pressão social nas redes: “Muitos adultos se sentem esgotados tentando sustentar uma vida virtual idealizada, marcada por comparações e busca por validação. Isso gera baixa autoestima e sensação de solidão, mesmo em meio à hiperconexão.”

O fenômeno do FOMO (fear of missing out) — o medo de ficar de fora — agrava o problema. “A pessoa sente necessidade constante de estímulo e perde a tolerância ao silêncio, ao tédio e à espera, elementos naturais da vida real”, afirma. Para ela, o equilíbrio depende de consciência e limites: “O mundo digital não é o vilão, mas o uso excessivo e inconsciente é o que adoece”.

Novo relógio de ponto

Na prática, a sobrecarga digital é uma realidade cotidiana para quem trabalha de casa. O assessor e empreendedor Fábio Almeida vive isso de perto. “Mesmo com um espaço reservado para o trabalho, acabo me dividindo entre as tarefas domésticas e as demandas profissionais. A linha entre vida pessoal e profissional é muito tênue”, conta. Segundo ele, a quebra de concentração é um dos principais inimigos da produtividade. “Quando consigo trabalhar de forma concentrada por quatro horas, produzo mais do que em um expediente cheio de interrupções. Parar para resolver algo em casa já basta para tirar o ritmo”, reconhece.

Fábio Almeida reconhece que o trabalho em home office exige mais dos profissionais e que é preciso ficar vigilante para desconectar
Fábio Almeida reconhece que o trabalho em home office exige mais dos profissionais e que é preciso ficar vigilante para desconectar Crédito: Divulgação

Fábio tenta manter horários fixos, mas admite que nem sempre consegue. “Muitas vezes estendo o expediente além do necessário, o que prejudica o descanso e afeta o sono. Essa falta de pausa contribui para o cansaço constante e até picos de ansiedade”.

Ele aponta a tecnologia como aliada e vilã ao mesmo tempo. “As ferramentas digitais ajudam, mas exigem uso consciente. O WhatsApp mistura vida pessoal e profissional e a quantidade de notificações nos deixa em alerta o tempo todo”, observa.

Outro ponto de desgaste é a falta de retorno nas comunicações. “A ausência de resposta gera ansiedade, porque ficamos esperando feedbacks e, ao mesmo tempo, pressionados a responder tudo no mesmo dia. É uma via de mão dupla que contribui para a sobrecarga emocional”.

Equilibrio

Para Aila Cardial, empresas saudáveis criam cultura de pausa e não apenas de metas. “O líder precisa dar o exemplo, respeitar horários e entender que colaborador exausto não entrega resultado sustentável.” Segundo ela, colaboradores mentalmente saudáveis podem ser até 34% mais produtivos.

O desafio, portanto, é coletivo. “O futuro do trabalho não é estar sempre online, e sim estar bem. A tecnologia deve trabalhar para nós — e não o contrário”, conclui.

Enquanto a regulamentação avança, fica a lição de Fábio Almeida: “Produtividade não pode custar nossa saúde mental. É preciso desacelerar antes que o corpo e a mente cobrem o preço”.

Como evitar o esgotamento digital

1. Estabeleça limites claros entre o trabalho e a vida pessoal.

Defina horários fixos para começar e encerrar o expediente. Evite responder mensagens e e-mails fora desse período — mesmo que seja tentador “só resolver rapidinho”.

2. Crie rituais de início e fim do dia.

Troque de roupa, caminhe, faça um café ou ouça música antes de começar a trabalhar. E ao encerrar o expediente, desligue o computador e saia do ambiente de trabalho.

3. Programe pausas reais.

A cada 60 a 90 minutos, levante, alongue-se, respire fundo ou olhe pela janela. Pequenas pausas ajudam o cérebro a processar melhor as informações e reduzem a fadiga mental.

4. Reduza as notificações.

Desative alertas de aplicativos e organize horários específicos para checar e-mails e mensagens. A sensação de urgência constante é um dos principais gatilhos do estresse digital.

5. Cuide do sono.

Evite telas pelo menos 1 hora antes de dormir. A luz azul inibe a produção de melatonina e prejudica a qualidade do descanso.

6. Separe os dispositivos de lazer e trabalho.

Se possível, use aparelhos ou perfis diferentes para o profissional e o pessoal. Isso ajuda o cérebro a compreender quando é hora de desconectar.

7. Pratique o “direito à desconexão”.

Permita-se estar offline. Avise sua equipe sobre seus horários de descanso e respeite o tempo dos colegas também.

8. Invista em momentos sem tela.

Leia um livro físico, cozinhe, caminhe, encontre pessoas. O contato com o mundo real recarrega a mente de forma que nenhum feed digital consegue.

9. Reorganize suas prioridades.

Nem tudo é urgente. Aprender a delegar e dizer “não” quando necessário é fundamental para preservar a saúde mental.

10. Busque apoio quando necessário.

Sintomas como irritabilidade, insônia, cansaço extremo e perda de prazer nas atividades são sinais de alerta. Nesses casos, procure ajuda psicológica ou médica.