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Carmen Vasconcelos
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 06:30
A ascensão da inteligência artificial generativa mudou não apenas a rotina de trabalho, mas a própria lógica da formação profissional no Brasil. Se antes aprender significava acumular conhecimento, hoje, o desafio é conviver com sistemas capazes de produzir textos, códigos, análises e imagens em segundos — e entender como usá-los de forma ética, produtiva e responsável. >
Especialistas ouvidos pelo Correio, como o empresário e pesquisador Herman Bessler e a juíza do Trabalho Taciela Cordeiro Cylleno, apontam que a revolução em curso redefine carreiras, pressiona universidades e acentua desigualdades que o país ainda precisa enfrentar. >
Para Bessler, CEO do Grupo Templo e um dos principais nomes em futuros do trabalho no país, a IA generativa democratizou o acesso à tecnologia, colocando oito bilhões de pessoas em condições de usar IA, e não apenas especialistas. “Essa massificação reorganiza papéis dentro das empresas e torna a requalificação contínua uma exigência”, completa. >
Segundo ele, formar-se hoje não é sobre aprender ferramentas, mas redefinir a identidade profissional em um ambiente onde a inovação muda de ritmo todos os dias. >
Taciela Cordeiro reforça que a IA não substitui a reflexão humana. “O centro continua sendo a dignidade da pessoa. Tecnologia não elimina o encontro entre pessoas; exige mais sabedoria para decidir o limite entre o humano e o automatizado”, pontua. >
Competências técnicas >
A base tradicional – lógica, estatística, programação e leitura crítica de dados – continua indispensável. Mas o mercado agora demanda habilidades ampliadas, como os fundamentos de LLMs; engenharia de prompt e mitigação de alucinações; criação de agentes e workflows de automação; domínio de nuvem, bancos de dados e segurança; vibe coding e processos orientados por IA. >
Essas competências, explica Bessler, não são exclusivas de cientistas de dados: “O essencial é saber aplicar IA aos processos reais do negócio e construir automações simples que resolvam problemas concretos”, afirma o pesquisador. Portfólios de projetos práticos pesam mais do que certificações, embora estas impulsionem empregabilidade. >
Enquanto isso, as instituições de ensino avançam, mas de forma desigual. Cursos de ciência de dados e IA se multiplicam no país, mas ainda estão distantes da velocidade da transformação. Para Taciela, a formação precisa integrar tecnologia, impacto social e direitos fundamentais. Já Bessler destaca que a atualização curricular ainda não alcança a mudança transversal no modo de trabalhar. “Empresas, universidades e governo terão que atuar juntos para ampliar trilhas práticas, sobretudo para grupos mais vulneráveis”. >
Risco de um apagão >
O Brasil ainda não vive um apagão total de especialistas, mas caminha nessa direção. A demanda cresce mais rápido que a oferta, especialmente em automação, engenharia de dados, inovação, análise de dados e operações. O maior gargalo está na formação do profissional híbrido – aquele que entende tecnologia e negócios simultaneamente. >
No setor público, a escassez é ainda mais sensível, já que o Estado desempenha papel estratégico na regulação e no uso seguro da IA. A automatização reforça o valor das habilidades tipicamente humanas. Aprendizado contínuo, curiosidade, criatividade, intraempreendedorismo, pensamento crítico, adaptabilidade, comunicação e liderança situacional tornaram-se indispensáveis. >
Taciela lembra que por trás de cada dado “existe uma vida” e que decisões automatizadas carregam impactos jurídicos, sociais e éticos que exigem sensibilidade. O risco de ampliação das desigualdades é consenso entre os especialistas. Muitas famílias dependem apenas de smartphones para estudar e trabalhar, o que limita o acesso à capacitação em tecnologia. >
Bessler defende uma estratégia multissetorial, alinhando investimentos públicos e privados, startups, políticas de inclusão e alfabetização digital ampla, focada em IA e cidadania digital. >
Taciela reforça que a formação precisa considerar quem será afetado pela tecnologia: “Políticas públicas devem garantir autonomia, proteção de direitos e participação da sociedade na definição dos usos da IA”, defende. >
As gigantes de tecnologia ampliam o acesso a treinamentos e infraestrutura, mas atuam dentro de interesses próprios. >
Bessler alerta para a necessidade de regulação que evite desequilíbrios: big techs são fundamentais, mas não podem substituir o papel público e acadêmico na formação de trabalhadores.>
Melhores oportunidades até 2030>
Saúde Digital Diagnóstico, personalização do atendimento>
Educação Transformação do processo de ensino-aprendizagem>
Tecnologia Financeira (Fintech) Inovação em serviços e gestão>
Setor Produtivo 4.0 Agricultura, extração e indústria>
Cidades Inteligentes Logística e serviços públicos>