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Carmen Vasconcelos
Publicado em 7 de julho de 2025 às 06:00
O Brasil já conta com mais de 10 milhões de mulheres à frente de negócios, segundo dados do Sebrae de 2024 — o que representa cerca de 34% dos empreendedores do país. Apesar do avanço, a jornada feminina no empreendedorismo ainda esbarra em diversos desafios que podem comprometer o crescimento e a sustentabilidade das empresas. >
Empresária à frente da Empreender com Paixão, uma empresa de educação voltada à gestão de negócios, Flávia Paixão afirma que existe uma contradição silenciosa: a mulher pode empreender, mas não pode parecer que quer crescer demais. “Pode liderar, mas não pode incomodar. Pode conquistar, mas não pode ocupar demais. Isso gera uma tensão constante, que exige esforço físico, emocional e mental em dobro. Mesmo não sendo mãe, vejo de perto como essa dinâmica afeta muitas mulheres empreendedoras”, analisa. >
A empresária Manuela Moscoso, cofundadora da Nutrition’all, uma marca baiana de suplementos criada em 2020 que tem como missão desmistificar e ensinar o poder que a suplementação traz na saúde e performance, que não são exclusivas de atletas, sabe bem disso. Ela destaca a complexidade em administrar as diversas áreas da vida e o nível de exigência, controle e autocobrança para entregar tudo e da melhor forma possível. “O mundo dos negócios (mais em determinadas áreas) ainda espera que mulheres tenham posturas “endurecidas” para serem respeitadas, quando na verdade o nosso diferencial está justamente em liderar com escuta, sensibilidade e estratégia ao mesmo tempo”, diz. Para ela, a saída para não acabar estafada é apostar tudo em inteligência emocional. “Pare de tentar agradar! Se conecte com outras mulheres empreendedoras e construa redes reais de apoio e troca. Sozinha, a jornada é mais dura e solitária. Com outras, você se inspira, aprende, compartilha dores e descobre que é possível crescer sem se distorcer”, ensina. >
Estratégicas>
Cofundadora da Inventivos, plataforma que permite que mais pessoas construam carreiras e empresas melhores, reconhecida pela Forbes como “30 under 30”, está entre os 50 profissionais mais criativos do Brasil pela Revista Wired, entre as 500 personalidades mais influentes da América Latina e é autora do livro “Empreendedorismo Feminino: Olhar estratégico sem romantismo”, Monique Evelle reconhece que é impossível abordar o avanço feminino nos negócios sem abordar a sobrecarga invisível que recai, de maneira ainda mais intensa, sobre mulheres negras. >
“Não é só a pressão de performar bem profissionalmente. É o acúmulo de funções sociais que, historicamente, foram atribuídas a nós: cuidar da casa, da família, dos outros, tudo isso somado ao trabalho, à gestão do próprio negócio e à cobrança constante de excelência. É como se estivéssemos o tempo todo provando que merecemos estar onde já estamos. Essa sobrecarga se expressa em forma de exaustão emocional, mental e até física”, destaca. >
Para a participante do Shark Tank Brasil ( reality pioneiro de empreendedorismo no país), no caso específico de mulheres negras, que sofrem com o racismo estrutural, ainda há entraves quando o assunto é investimento disponível para negócios. “Quando vamos atrás de crédito, enfrentamos uma desconfiança velada, um olhar que pergunta “será que ela vai dar conta?”, mesmo quando temos resultados concretos. E quando conseguimos entrar em espaços decisivos, muitas vezes estamos sozinhas, ou somos minoria, o que torna o ambiente ainda mais hostil. Então, os fatores que emperram o avanço feminino vão desde a ausência de políticas públicas que nos apoiem até o imaginário coletivo que ainda não nos vê como lideranças legítimas. E enquanto a sociedade continuar tratando o empreendedorismo feminino negro como exceção e não como potência, estaremos sempre tendo que correr mais para chegar no mesmo lugar”, pontua >
Para Monique, as mulheres que estão a frente e negócios precisam investir no desenvolvimento da marca pessoal com intenção e estratégia. “É fundamental construir uma narrativa que traduza sua visão de mundo, seu repertório e o valor real que você entrega. Porque quando você é uma mulher empreendedora, o mercado não vai automaticamente te reconhecer como referência. Você precisa mostrar ao mundo quem é, antes que ele decida por você”, defende.>
Com uma vasta experiência no mercado frente da Canetas e Brindes 360, Fabíola Barros diz que é fundamental que a empreendedoras confiem na própria intuição, que comece com o que tem e não espere estar 100% pronta para dar o primeiro passo. “Muitas vezes, o excesso de autocrítica, cobranças pela perfeição, paralisa mais do que a falta de recursos. Busque apoio em outras mulheres empreendedoras, juntas somos mais fortes e mais estratégicas. É possível empreender com sensibilidade, escuta, criatividade e ainda assim construir negócios sólidos e potentes”, finaliza. >