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Donaldson Gomes
Estadão
Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 05:00
O empresário baiano Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), criticou o crescimento dos gastos públicos, a carga tributária elevada e o populismo político no Brasil. Para ele, os governantes brasileiros ignoram o cenário de baixa produtividade na economia nacional quando cogitam medidas que podem impactar negativamente no cenário de produtividade no país. Alban divulgou os comentários em um vídeo com a sua mensagem de final de ano. >
Para o empresário baiano, o país precisa enfrentar com urgência o seu déficit fiscal. Nesta segunda-feira (dia 29), o Tesouro Nacional informou que as contas do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) tiveram um déficit primário de R$ 20,172 bilhões em novembro. Em outubro, houve superávit de R$ 36,527 bilhões. As projeções do mercado indicavam um resultado negativo, entre R$ 35,90 bilhões e R$ 14,075 bilhões.>
“O Estado brasileiro tornou-se pesado, complexo e incompatível com o tamanho da realidade nacional”, enfatiza Ricardo Alban. Para ele, o Brasil já perdeu muitas oportunidades no decorrer da sua história com a ideia de ser o país do amanhã. A poucos dias do início do ano eleitoral, o empresário critica a lógica de polarização política e defende que o interesse maior se sobreponha às ideologias políticas. >
“Nós somos um país heterogêneo, nós somos um país com diferenças sociais marcantes, com diferenças regionais relevantes, só vamos construir algo entendendo isso e tratando de forma harmônica”, acredita. >
Para Alban, a conta da elevada carga tributária, do desequilíbrio fiscal e do déficit nas contas previdenciárias vão afetar toda a sociedade. “Quem vai pagar a conta? Amigos, não é empresa, não é o setor produtivo”, diz. “É a população, o consumidor quem sempre paga a conta”, pondera. “A sociedade vai pagar essa conta no final. Não sabemos o que vai ser da previdência no futuro. Sabemos que o SUS, um programa de sucesso que já está em risco num futuro próximo. Como é que nós estamos honerando mais ainda esse Brasil?”, questiona. >
Em relação às discussões sobre mudança na jornada de trabalho, o empresário afirma que sempre foi favorável ao formato que garante dois dias de folga a cada cinco trabalhados, apesar de questionar a viabilidade da implantação da medida. >
“O Brasil pode, nesse momento, fazer isso? Claro que não, nós estamos falando de cenário de pleno emprego, de uma produtividade ridícula”, ressalta, complementando ainda que o país está muito abaixo da competitividade média no cenário internacional. “Estamos falando de um custo Brasil que é absurdo”, destaca, citando os custos com juros e energia. >
“Nós produzimos a energia mais barata do mundo e temos o custo mais elevado. Como é que nós podemos competir?”, questiona. Para Alban, antes de falar em mudanças na escala de trabalho, é preciso enfrentar essas questões. >
“Nós temos que enfrentar seriamente o problema fiscal, seriamente a estrutura política desse país, cada vez mais complexa, cada vez mais pesada. O estado brasileiro não é compatível com o tamanho da nossa realidade. Isso é definitivo. Qualquer um, qualquer que seja ideologia, tem plena consciência disso”, afirma. “Tenho certeza de uma coisa, o setor produtivo, a indústria brasileira não deixará de se posicionar ao longo desse ano de 2026”, avisa. >
Déficit crescente>
O déficit primário do mês passado foi maior do que o registrado em novembro de 2024, quando as contas do governo central ficaram negativas em R$ 4,503 bilhões. É o maior rombo para o mês desde 2023, quando o saldo foi negativo em R$ 41,707 bilhões, em números corrigidos pela inflação.>
As despesas do governo central cresceram 4,0% em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2024, já contabilizando a inflação do período. As receitas totais tiveram queda real de 2,6%, na mesma base de comparação.>
O governo central tem déficit primário de R$ 83,823 bilhões no acumulado de janeiro a novembro de 2025. No mesmo período de 2024, o resultado era negativo em R$ 67,030 bilhões, sem correção pelo IPCA. As despesas têm alta real de 3,4% na soma do ano, enquanto as receitas totais sobem 3,3% acima da inflação.>
No acumulado de 12 meses até novembro, o déficit primário do governo central soma R$ 57,4 bilhões, o equivalente a 0,47% do Produto Interno Bruto (PIB). As despesas obrigatórias somam 17,24% do PIB, e as discricionárias, 1,58%.>
A meta fiscal de 2025 é de déficit zero, com tolerância de 0,25% do PIB para mais ou para menos.>
O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse nesta segunda-feira (dia 29), que a alta do déficit registrado em novembro de 2025 foi motivada pelo menor nível de receitas não administradas. Ele mencionou o menor nível de pagamento de dividendos em relação a novembro de 2024, além de queda na receita de concessões.>
No ano passado houve entrada de recursos via concessão da Copel, por exemplo, o que ajudou no resultado primário. Apesar disso, Ceron avaliou que há continuidade na trajetória de “bom crescimento” das receitas no acumulado do ano.>