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Donaldson Gomes
Publicado em 19 de maio de 2025 às 20:53
O consórcio liderado pela Vale com o grupo mineiro Cedro Participações e a BNDESPar fez as contas e não viu retorno do investimento de US$ 5,5 bilhões (equivalente a R$ 31 bilhões) em projeto da Bamin, de acordo com reportagem do Estadão, publicada nesta segunda-feira (dia 19). A tendência, segundo a reportagem, é que desembarque do negócio até o final do mês. >
Na última semana, Marcelo Bacci, vice-presidente de finanças e relações com os investidores da Vale, respondeu que a empresa não tinha perspectiva de conclusão da análise sobre o negócio, de acordo com reportagem do Jornal Valor. Ele também negou que houvesse um prazo para uma resposta. O jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, disse que representantes da área técnica da mineradora já haviam apresentado "números desanimadores" sobre o negócio. >
O governo tenta, neste meio tempo, encontrar um sócio estrangeiro para viabilizar o negócio e reduzir a parcela de investimento necessário da Vale e do BNDES, mais o grupo Cedro, que se tornariam sócios segundo o desenho discutido pelo governo.>
Pessoas próximas ao projeto disseram ao Estadão que as contas do investimento para produção de 26 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, no período de 20 anos, não fecham. Sob controle do grupo Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão, há uma década e meia, a obra é de grande interesse da gestão petista da Bahia e do governo federal, à frente o Presidente da República e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que foi governador da Bahia.>
O Palácio do Planalto tem feito pressão desde 2023 para que a Vale assuma o projeto, adquirindo a mineradora ERG e colocando em marcha todas as obras a serem executadas. O grupo cazaque é controlador da mineradora desde 2010, e diz ter investido cerca de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,3 bilhões ao câmbio atual). Decidiu não pôr mais dinheiro no empreendimento e busca uma saída.>
O projeto da Bamin, empresa criada em 2005 em Caetité, sudoeste da Bahia, envolve uma mina de ferro para 26 milhões de toneladas por ano, a conclusão de uma ferrovia de 537 km (Ferrovia de Integração Oeste-Leste-Fiol 1) e um porto marítimo para receber navios de grande porte situado 12 km ao norte da cidade de Ilhéus (BA), apto para exportação de minério, grãos e cargas gerais.>
O trecho da ferrovia e o porto, chamado de Porto Sul, fazem parte do traçado da via Bioceânica, que o governo deseja deslanchar com o apoio da China para cortar o País de leste a oeste e escoar a produção pelo Peru até os portos chineses.>
O grupo cazaque não dispõe de recursos para bancar o investimento sozinho e, por isso, tem buscado compradores para a empresa ou sócios estratégicos. A Bamin anunciou recentemente a paralisação das obras do trecho 1 da Fiol, cuja concessão arrematou em leilão do governo federal em 2021, e também do terminal portuário em Ilhéus.>
Cerca de 75% da obra da ferrovia está realizada, mas requer ainda vários bilhões de reais para ser completada entre Ilhéus e Caetité. O porto teve início apenas das obras de acesso e outras na parte marítima.>
O negócio, em uma nova configuração societária com a Vale, contaria com fontes públicas de financiamentos, principalmente o BNDES, e com verbas do próprio Orçamento da União, além de uma linha especial do Fundo da Marinha Mercante (FMM) para o terminal. Ficou a cargo da Vale, pelo seu peso global no setor de minério de ferro, adquirir o controle da Bamin para seguir com o projeto e torná-lo realidade.>
A empresa já avaliava o projeto desde 2022, mas intensificou estudos mais detalhados de viabilidade técnica e econômica do ano passado para cá, com o aumento da pressão do governo federal. No entanto, conduziu a passos lentos, pois, conforme pessoas próximas da companhia, esse investimento não é atrativo para mineradora, que vê retorno de investimento mais robusto na região de Carajás (PA).>
De qualquer forma, decidiu estudar o projeto após reiterados pedidos do governo Lula. Mas optou por ter parceiros para diluir os aportes financeiros na retomada da Bamin. A Vale decidiu formar, há cerca de um ano, um consórcio com o grupo Cedro, do empresário mineiro Lucas Kallas, e com a BNDESPar, braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que surge como um grande financiador do investimento.>
Antes, a companhia tentou formar parcerias com uma grande siderúrgica da China e com a maior mineradora saudita, mas a iniciativa não prosperou.>
Reestruturação do capital>
A Vale não disponibilizou porta-voz para comentar o processo de compra do controle da mineradora de ferro. Em nota, via assessoria de imprensa, a empresa informou que não comenta o assunto e reiterou comunicado de janeiro deste ano, no qual diz que “as avaliações de oportunidades de investimento são exercidas no curso regular de suas atividades, em especial aquelas sobre ativos com potencial contribuição às prioridades estratégicas da Companhia”. A Cedro participações também informou que não comenta o assunto.>
Em nota, a Bamin reiterou que "está em processo de reestruturação de capital, conduzido por sua controladora, o Grupo ERG, com o objetivo de buscar novos investidores e viabilizar as próximas etapas do Projeto Pedra de Ferro. A empresa, no entanto, não comenta especulações de mercado sobre negociações em andamento".>
Segundo a empresa, as obras da ferrovia e do Porto estão suspensas, mantendo ativas as ações de manutenção, os investimentos nos programas socioambientais, o cumprimento de compromissos regulatórios e o diálogo com as comunidades nos territórios onde a empresa atua.>
A empresa informou que "tem concentrado seus esforços na busca por parceiros estratégicos e na viabilização do financiamento do projeto integrado" e ressaltou a aprovação de um aporte de R$ 4,59 bilhões pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), destinado à implantação do Porto Sul.>