Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Donaldson Gomes
Publicado em 7 de outubro de 2024 às 07:00
Kleber Rosa sai da disputa eleitoral de 2024 “grandão”, como se diz informalmente aqui na Bahia. O servidor público que atua como professor e policial civil vai retomar as suas atividades como uma espécie de “campeão moral” desta eleição, tomando emprestada uma gíria do futebol. Não conquistou “o título”, que seria a cadeira de prefeito no Thomé de Souza, porém sai com a maior votação já registrada pelo Psol numa disputa municipal em Salvador, com 10,43% do total e a confiança de 138.610 eleitores. >
“Nós tínhamos como objetivo chegar ao dia de hoje (ontem) no segundo lugar e, quem sabe, com a possibilidade de levar a disputa para um segundo turno”, afirmou a jornalistas pouco antes de se dirigir à cabine de votação. Parecia feliz e aliviado, talvez rememorando a batalha hercúlea que enfrentou contra a máquina política que dá sustentação ao governo do estado. Jerônimo, Wagner e Rui, principais cardeais do PT na Bahia, escolheram outro candidato, mas a militância petista estava com Kleber. Não foi para o segundo turno, mas ajudou o partido a fazer dois vereadores. >
“Lula é 15 em Salvador”, repetiu à exaustão durante o período eleitoral o candidato do MDB, Geraldo Junior. O atual vice-governador da Bahia apostou suas fichas no apoio institucional do PT, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à sua campanha, mas esqueceu de combinar com os petistas. Em 2024, o time de Lula escolheu o 50 em Salvador e, embora, o movimento não tenha sido forte o suficiente para modificar o resultado final da disputa eleitoral, engordou a votação do Psol, que vinha definhando nas últimas disputas municipais. >
Desde que Hilton Coelho promoveu a estreia do partido numa eleição municipal em Salvador, em 2008, com o seu jingle chiclete – neste momento imagino você cantando mentalmente “eu quero Hilton 50…” – e abocanhou pouco mais de 51 mil votos, terminando o primeiro turno com quase 4% do total de válidos, o Psol vinha ladeira abaixo. Em 2016, Hamilton Assis recebe 33 mil votos e termina com 2,6%, depois Fábio Nogueira, em 2016, termina com 13,7 mil votos, equivalentes a 1,04% dos válidos. Em 2020, o partido apostou novamente em Hilton 50, mas a força do jingle atraiu 1,39% dos votos e 16,8 mil em números absolutos. >
Mesmo longe de alcançar o desempenho de outros grandes centros, como São Paulo, onde Guilherme Boulos despontou como forte candidato, o Psol de Kleber Rosa chegou ao final do primeiro turno fortalecido por um aliado improvável: o eleitorado petista, que não conseguiu se identificar com o 15 de Geraldo Junior e dos irmãos Vieira Lima e embarcou na campanha do 50. >
Há dois anos, quando disputou o governo do estado, Kleber Rosa ficou 0,59% do percentual de votos válidos, sendo a escolha de 48.239 eleitores baianos. Mas desde o início do processo eleitoral, as pesquisas de intenção de votos apontavam para um cenário diferente agora em 2024. No último levantamento do Instituto Paraná, divulgado em 1º de outubro, o psolista aparecia próximo ao percentual de votos de Hilton em 2008, com 3,5% das intenções, com um crescimento de 1 ponto percentual em relação à pesquisa realizada um mês antes. >
Na mesma pesquisa, Geraldo Junior aparecia com 7,4% das intenções de votos, à frente, mas com uma queda de 2,4 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior. Como se diz no jargão político, a curva era favorável a Kleber e ruim para o vice-governador. >
Um outro número divulgado pelo Instituto Paraná pode ser esclarecedor em relação à performance de Kleber. A rejeição dele era 21,5 pontos percentuais menor que os 46% do eleitorado que responderam não ter menor intenção de votar em Geraldo Junior. >
O PT e os petistas>
Na última semana de campanha, a cinco dias da votação em primeiro turno, o presidente do PT na Bahia precisou reforçar o apoio do partido ao candidato emedebista. Éden Valadares garantia que a legenda do governador Jerônimo Rodrigues e do presidente Lula e a sua militância estariam ao lado de Geraldo. “Estou aqui com toda convicção para dizer que Geraldo e Fabya (Reis, candidata a vice-prefeita) tem todo apoio de toda militância do PT de Salvador, da Bahia e do Brasil”, afirmou Éden.>
Talvez a grande dificuldade dos petistas com Geraldo – a desconfiança em relação a alguém que até pouco tempo estava no time adversário – seja o maior trunfo de Kleber Rosa dos esquerdistas raízes. Enquanto um precisou dar explicações durante a campanha por elogios e acenos aos atuais adversários, e até mesmo em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, o psolista sempre esteve do mesmo lado. >
Desde o período de pré-campanha, quando os nomes que disputaram a eleição foram apresentados, filiados do PT já surgiam em fotos ao lado de Kleber Rosa, prenunciando o que as urnas confirmaram ontem. Duas semanas antes da eleição, o psolista participou de um ato público em que recebeu o apoio de petistas que se recusaram aceitar a decisão partidária de apoio a Geraldo. >
Faixas com o título “Petistas com Kleber Rosa e Dona Mira” destacaram a trajetória do psolista com as pautas da esquerda, com os movimentos sociais, e com a luta por justiça social. Em meados de setembro, Rodrigo Pereira, dirigente do PT, pediu que os seus correligionários votassem em Kleber. >
“Convoco toda nação petista para votar em Kleber Rosa. Todos aqueles petistas que votaram em Lula e em Jerônimo precisam agora votar em Kleber Rosa por um programa de esquerda de verdade. Por uma candidatura que, de fato, vai nos representar e defender as nossas pautas”, disse Rodrigo Pereira, que foi contra a sigla apoiar Geraldo Júnior.>