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Conversar com os mortos, reencarnar, espírito obsessor: como cada religião entende o pós-vida

O CORREIO entrevistou três líderes religiosos para entender as diferentes concepções sobre o que ocorre após a morte e se é possível se conectar com quem já partiu

  • Foto do(a) author(a) Elis Freire
  • Elis Freire

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 05:00

Pós-vida é entendido de diversas maneiras
O pós-vida é entendido de diversas maneiras Crédito: Shutterstock

"Não há morte, a vida continua". "A alma de cada pessoa é julgada por Deus". "A missão nunca acaba". As diferentes concepções sobre o que acontece após a morte do corpo se unem por um entendimento de que o espírito/alma segue vivo, mas essa consciência espiritual segue caminhos diferentes para cada uma das religiões. A forma de se conectar com eles daqui da Terra para as doutrinas também diverge, ou até pode ser repudiada completamente. 

As três falas que iniciam o texto são de um líder espírita, um padre católico e de uma Ialorixá do Candomblé. Neste Dia dos Finados, 2 de novembro, costuma se refletir sobre os que partiram, louvar o que eles fizeram em vida; mas, será que também é possível conversar com eles? Não é algo nada simples; isso foi unânime entre os sacerdotes entrevistados pelo CORREIO. Já sobre senti-los por perto, será que isso é um mal sinal? Para os líderes religiosos, nem sempre. 

Espíritos podem estar por perto por Shutterstock

Há vida após a morte? 

Ao ser perguntado sobre o que acontece após a morte, a própria questão foi colocada em xeque pelo líder espírita Adenáuer Novaes, diretor da Fundação Lar Harmonia. "Para o Espiritismo, a vida continua, não há morte. A morte é apenas a do corpo. O eu da pessoa continua para sempre. Então, o Espiritismo não concorda com a ideia de morte. A afirmação é categórica: a vida continua. O ser humano continua após a morte do seu corpo, o que é apenas uma vestimenta, é apenas um experimento", explicou. 

Já o padre Valson Sandes, da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Milagres, detalhou os diversos processos pelos quais cada pessoa passa no pós-vida. Para o Catolicismo, a alma é inicialmente julgada pelos feitos em vida, no chamado Juízo Particular, depois alguns caminhos são decididos por Deus: o Céu, o Inferno e o Purgatório. "A alma é julgada imediatamente por Deus. Os justos vão para o Céu, onde desfrutam da presença de Deus, da amizade com Deus, e sem culpa de pecado a expiar, enquanto os que não se arrependeram de seus pecados podem ir para o Inferno. Aqueles que morrem em estado de graça, mas ainda precisam de purificação, vão para o Purgatório, onde passam por um processo antes de entrar no Céu ou se juntar aos anjos caídos", esmiuçou o religioso. 

A Ialorixá do terreiro de Candomblé Egbé Ode Bi Omin, Kris Dotto, por sua vez, destacou que tudo depende da missão que o espírito tem para cumprir.  "Ao morrer, a gente vira espírito de luz e dá continuidade e pode vir com novas missões na Terra. A missão nunca acaba. No Candomblé há espíritos que conseguem voltar ao mundo com uma nova missão e outros que conseguem dar continuidade no trono e descansar; depende da situação de quem foi o espírito e do que se sucedeu aqui na Terra.

É possível falar com quem já morreu?

"Ninguém morre", corrigiu novamente Adenáuer antes de explicar como o espiritismo entende a conexão com um espírito que desencarnou (já estou mais afiada no vocabulário). Ele conta que todo o ser humano nasce com mediunidade e pode sim se conectar com aqueles que não estão mais nessa dimensão até mesmo através do pensamento. "Graças a uma faculdade que todo ser humano possui é possível. É pela mediunidade que se dialoga, se conversa com as pessoas que já fizeram a sua passagem para outra dimensão e que um dia vão retornar numa nova reencarnação", afirmou. 

Para o padre Valson, há uma grande controvérsia sobre conversar com um espírito no Catolicismo, pois a Igreja Católica ensina que não se deve buscar uma comunicação direta com os mortos, o que seria desaprovado. Porém, o sacerdote explica que há formas de pedir que um santo interceda por alguém e os santos não estão mais entre nós, obviamente. 

"É possível somente através da intercessão dos santos, que são almas que já estão no Céu junto a Deus. A oração aos santos é uma forma de "falar" com eles, pedindo sua ajuda [...]. Por exemplo, nós falamos com Santa Dulce pedindo a sua intercessão por alguma causa nossa aqui na Terra. Mas não há nenhum contato do falecido com o fiel vivo, a resposta da oração só poderá ocorrer por meio dos milagres concedidos mediante a intercessão", garantiu. 

Já Kris Dotto conta que no Candomblé existem sim alguns rituais feitos para os mortos chamados de Babá Eguns, em que se consegue conversar com esse espírito, mas não são tão comuns entre as casas de axé. "Mas, no Candomblé também tem a situação de se assentar o Egun [espírito de um falecido] para que esse ancestral seja cultivado e cuidado", reforçou.

Encosto, obsessor: tem isso mesmo?

Um dos três sacerdotes surpreendeu ao dizer que nem sempre um espírito próximo de você pode algo negativo, o que se chama pejorativamente de "encosto" ou "espírito obsessor". "Se a pessoa percebe a presença de um ente querido que se encontra na dimensão espiritual isso geralmente se chama amor", declarou Adenáuer, que completou: "A pessoa gosta de estar em companhia da outra, gosta de saber como está, gosta de rever, de abraçar. Isso é uma coisa muito positiva. Esse espírito desta pessoa está vinculado, como a maioria de nós, aos seus entes queridos. Isso não significa atraso espiritual, isso significa afeto".

A concepção do padre Valson apesar de também falar de "amor" sobre os entes queridos trouxe um entendimento diferente sobre estar próximo de um espírito. "A percepção da presença de um ente querido falecido pode ser entendida como um sinal de amor e lembrança", iniciou. Ele explicou que, para o Catolicismo, isso não quer dizer que a alma daquela pessoa está próxima: "A alma dos falecidos estão ou no céu, no purgatório ou no inferno, não ficam perambulando pela terra. A Igreja recomenda discernimento, pois essas experiências podem ser interpretadas de diferentes maneiras e que a verdadeira comunicação se dá através da oração".

A líder religiosa do Candomblé trouxe uma ponderação: ter um espírito próximo pode não ser positivo, mas às vezes não é culpa do espírito em si. "Tem situações que quando uma pessoa percebe a presença do seu ente querido morto ele não quer fazer o mal à pessoa, mas, por ser um espírito perdido no mundo, ele acaba fazendo mal. Então, não é bom a pessoa que já morreu estar muito próximo da gente que está vivo, ele tem que dar continuidade; o espírito tem que seguir o caminho de luz", defendeu Kris. 

O que se faz no Dia dos Finados?

Cada uma das três religiões - Candomblé, Espiritismo e Catolicismo - veem o dia 2 de novembro como um momento para práticas religiosas completamente distintas. A doutrina espírita entende que todos os dias são dias de reverenciar aqueles que já fizeram a passagem; os católicos creem que deve-se orar pelos entes queridos que morreram; já o axé costuma saudar Oyá, ou Yansã, orixá que age no caminho entre o Aiê (terra) e Orum (Céu). 

Fiquem com as falas: 

"Já que as pessoas consideram esta data e vão aos cemitérios, então, melhor seria orar por essas pessoas, desejar que elas se encontrem bem e que continuem a sua evolução; e que, de vez em quando, quando apareça, apareça para um convívio saudável"

Adenáuer Novaes

Líder espírita

"O Dia de Finados (2 de novembro) é uma data profundamente significativa no catolicismo, focada na Comunhão dos Santos e na oração pelos falecidos Nesta data, celebramos essa unidade. A proposta central é a oração e a Missa pelos fiéis defuntos".

Valson Sandes

Padre

No Dia de Finados o Candomblé não adota a conexão com quem já morreu, neste dia é consagrada a mãe Oyá que é a condutora dos Eguns. São feitos rituais, então, para que Yansã conduza essa alma à Olorum [Deus maior], para que se dê continuidade ao que ele decidir"

Kris Dotto

Ialorixá

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Morte Espíritos Religião