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O mar, o povo e Gaga: Copacabana vira ópera pop a céu aberto

Lady Gaga chorou enquanto lia uma carta para o público que estava no show de sábado

  • Foto do(a) author(a) Heider Sacramento
  • Heider Sacramento

Publicado em 5 de maio de 2025 às 05:00

A diva pop  fez um show de quase duas horas e cantou mais de 21 músicas
A diva pop fez um show de quase duas horas e cantou mais de 20 músicas Crédito: EDUARDO VALENTE/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO

Ver Lady Gaga ao vivo sempre foi um desejo que cresceu comigo, da adolescência regada a clipes da MTV às playlists montadas com devoção nas plataformas digitais. No sábado (3), esse sonho adolescente ganhou forma (e brilhos, fumaça, coreografias e lágrimas) na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, diante de um público estimado em 2,1 milhão de pessoas. E tudo isso de graça. Um delírio coletivo que transformou a orla mais famosa do país em um altar do pop.

No palco, Lady Gaga entregou mais do que um show — apresentou um verdadeiro manifesto estético, emocional e político, costurado pelas diversas fases de sua trajetória. Da obsessão pela fama em The Fame à figura messiânica da liberdade em Born This Way, passando pela diva ferida de The Fame Monster e a estrela consagrada no cinema com Nasce Uma Estrela, Gaga revisitou suas personas com uma direção de arte cinematográfica, figurinos que pareciam brotar de um sonho surrealista de Alexander McQueen com ecos de Shakespeare, e uma entrega cênica que lembrava ao mundo: ela nunca esteve para brincadeira.

Gays, lésbicas, trans, héteros convertidos, brasileiros, argentinos, chilenos, adolescentes da Geração Z e fãs veteranos (alguns de salto e vestido de carne, literalmente) lotaram a praia num desfile de devoção colorida. Era como se o Réveillon tivesse se antecipado, mas com a trilha sonora de Bad Romance e coreografias ensaiadas por todo um fandom global.

Caveiras  deram tom gótico à apresentação de Lady Gaga
Caveiras deram tom gótico à apresentação de Lady Gaga Crédito: EDUARDO VALENTE/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO

O Rio, claro, estava à altura. A cidade — essa eterna musa entre o caos e o sublime — parecia ter sido feita para receber Gaga. As montanhas, o mar, os telões gigantes na areia e a vibração de uma multidão em transe criaram um cenário quase cinematográfico. De cima do famoso calçadão, era possível ver a massa de corpos dançantes pulsando em perfeita harmonia com a batida pop e os sintetizadores do Mayhem.

Ali, entre gritos, suor e lágrimas, tive a certeza: eu não estava só vendo Lady Gaga. Estava dentro de um videoclipe, daqueles que marcaram gerações. Para um jornalista recém-formado que passou a adolescência ouvindo Alejandro no repeat e defendendo Artpop com fervor, estar ali foi mais do que uma realização pessoal. Foi testemunhar a história acontecendo ao som de acordes pop, gritos de liberdade e refrões que curam.

Lady Gaga não veio apenas cantar para os fãs brasileiros. Ela os celebrou em sua diversidade. E o Brasil, generoso e vibrante, respondeu com amor. No fim da noite, saí da areia com os pés doloridos e o coração leve. Sabendo que aquele sábado não foi apenas um show. Foi um rito. Um marco. Uma ópera pop a céu aberto.

O show de Lady Gaga em Copacabana vai muito além de um espetáculo musical: é uma poderosa declaração de resistência, visibilidade e amor. Um ano após Madonna ter marcado a história naquele mesmo palco, Gaga reafirma que a luta por representatividade continua — e que esse espaço também nos pertence. A multidão que se reúne à beira-mar celebra mais do que uma artista: celebra a vida, a diversidade e a força de quem insiste em existir com orgulho e ocupar todos os lugares.