Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Agência Correio
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 06:05
Pesquisas mostram que aves de plumagem exuberante estão desaparecendo dos centros urbanos, enquanto espécies mais discretas dominam. Mas esse fenômeno vai além da biologia – reflete como construímos nossas cidades de forma desigual. >
Aves coloridas
Aves megacoloridas, aquelas com as plumagens mais vibrantes, estão sendo "filtradas" pelo ambiente urbano. De acordo com o biólogo Lucas Nascimento, da USP, a cidade impõe barreiras invisíveis a essas espécies. >
"O cenário urbano favorece aves maiores e generalistas, enquanto as coloridas costumam ser menores e mais especializadas", explica Nascimento ao Jornal da USP.>
Além das pressões naturais, como falta de alimento e abrigo, o tráfico ilegal de animais silvestres atinge especialmente essas aves chamativas. O resultado é um empobrecimento da biodiversidade urbana, onde só sobrevivem as espécies mais adaptáveis.>
A distribuição de áreas verdes nas cidades não é igualitária – e isso impacta diretamente a vida selvagem. "O racismo determina a paisagem urbana e, consequentemente, quais espécies conseguem viver nela", afirma Nascimento. Bairros periféricos, com menos parques e árvores, se tornam desertos ecológicos.>
Essa segregação espacial faz com que aves coloridas, que dependem de ambientes mais naturais, desapareçam de regiões carentes de vegetação. Enquanto isso, áreas mais ricas, com mais verde, ainda abrigam uma variedade maior de espécies – um retrato claro da injustiça ambiental.>
A solução exige políticas públicas que democratizem o acesso à natureza. Mais parques, telhados verdes e corredores ecológicos em bairros negligenciados podem ajudar a trazer de volta a diversidade perdida. "Cidades mais verdes e justas beneficiam tanto humanos quanto animais", defende o pesquisador.>
O desaparecimento das aves coloridas é um sintoma de um problema maior: a forma como projetamos nossas metrópoles está eliminando a biodiversidade – e afetando principalmente quem mais precisa dela.>