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Rafaela Fleur
Publicado em 12 de fevereiro de 2023 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
É verão em Salvador, e, como é de praxe, só se pensa em Carnaval. Após dois anos sem celebrar a festa, a capital baiana tem passado por uma efervescência calorosa de sentimentos. Tem turista em cada esquina, shows todos os dias, e uma explosão de sonoridades perambulando entre os paredões. De um lado, Oh Polêmico quer mostrar toda a perversidade do tal do boneco. De outro, a "Zona de Perigo" de Léo Santana vem deslizando (vem). Tem ainda os boatos de que todo mundo é cria da Ivete, e, de acordo com La Fúria, é preciso dar atenção para a potência do cachorro e "meter o louco" de vez em quando. A disputa para a música do Carnaval está acirrada, e a divergência entre os palpites é um denominador comum. Porém, para fazer uma música explodir na época da folia, é preciso muito planejamento, estratégia e agilidade. O cacife também ajuda. >
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"Gosto de dizer que quem define o hit é o povo. Existem várias dicas de como fazer, pensar num refrão chiclete, um arranjo criativo, uma boa produção. Hoje em dia, com os challenges de dança, é preciso pensar também em uma boa coreografia. O artista pode conseguir tudo isso, mas, no final das contas, o público é quem vai abraçar ou não", explica AnaGB, 27, co-fundadora da Amores Sonoros, plataforma brasileira focada em artistas e na música preta independente, e produtora do Festival AFROPUNK Bahia. >
O povo parece ter mesmo poder de decisão. Inclusive, os próprios artistas podem ser pegos de surpresa, como aconteceu com Léo Santana. A música de trabalho para o Carnaval já estava decidida, e era "Não Se Vá", em parceria com o DJ e cantor Pedro Sampaio. "Foram feitos grandes investimentos na canção, desde o clipe, até impulsionamentos no digital, rádios e afins. E aí, praticamente na última semana de janeiro, fomos surpreendidos muito positivamente com a explosão de "Zona de Perigo", que atualmente é a música mais tocada do Brasil e a 34ª mais tocada do mundo, na plataforma de áudio Spotify. >
"Não tínhamos pretensão nenhuma de trabalhar com essa música, não investimos absolutamente nada. O público, literalmente, abraçou. Estamos todos surpresos até hoje", revela Madu Abreu, 23, à frente da Entrelaço Comunicação, agência baiana exclusivamente de músicos, e coordenadora de conteúdo e mídias sociais de Léo Santana, além de casting na Salvador Produções. >
Aposta calculada Os preparativos para o Carnaval costumam começar já em agosto. Com cerca de seis meses de antecedência, os artistas começam a se articular com a equipe e decidir o plano com estratégia. Primeiro, é preciso escolher a composição perfeita para apostar. "O arranjo precisa ser muito bem construído, porque a entrega da melodia tem que ser rápida. Se demorar muito, as pessoas certamente irão mudar de faixa antes que a melodia grude no coração delas. Tem que analisar a letra, produção musical, interpretação do artista, coreografia, enfim. Tudo precisa estar muito bem acertado", garante Sandro Andrade, 44, produtor soteropolitano que trabalhou mais de uma década com o grupo Psirico e está à frente da produção artística de Léo Santana há 12 anos.>
Depois que a música está pronta e escolhida, é preciso decidir a capa que será usada nas plataformas sociais, desenvolver a label copy (ficha técnica da canção) e o release. "Tudo isso será entregue à gravadora que fará no chamado 'pitching', a apresentação desse material. Eles precisam de uns 15 dias para chamar a atenção das plataformas para essa canção. É nessa hora que você consegue incluir a música em algumas playlists grandes, isso também ajuda muito. Em paralelo, vem o planejamento de marketing para o lançamento. Ações promocionais, impulsionamento nas plataformas, redes sociais, influenciadores, outdoors, rádios, programas de TV e afins", completa Sandro. >
Quanto custa Que o dinheiro investido ajuda, é indiscutível. Porém, os especialistas juram que a grana não resolve tudo. "Já tive experiências com artistas que gastaram R$ 1.000, como tem artistas que gastam mais de meio milhão para emplacar um hit. Varia muito, desde o investimento em redes sociais, até plataformas de música, rádios, influenciadores. É um conjunto de coisas que fazem parte de um investimento. Pode ser que o artista invista um valor altíssimo e a música não chegue no topo, mas o contrário também acontece, como foi com "Zona de Perigo". A música explodiu com investimento zero", comenta Madu, revelando também que, após o sucesso repentino, a equipe mudou a rota e passou a trabalhar ainda mais na divulgação.>
Enquanto a música vencedora ainda é um mistério, as expectativas para a maior festa de rua do país seguem positivas. "Estamos invadindo os lines de festivais e de outras festas, a nível nacional. As pessoas querem ouvir o que a Bahia tem e nós temos muita coisa para mostrar", finaliza Ana. >
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