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Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2022 às 11:57
Recentemente, Anitta revelou ter contraído o vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose infecciosa, uma doença benigna cujos sintomas se assemelham aos de doenças respiratórias. E, como tudo o que a cantora de 29 anos faz, diz ou escreve em suas redes sociais, a declaração viralizou. Muita gente ficou preocupada com a musa pop, principalmente porque ela relacionou o vírus diretamente à Esclerose Múltipla (EM), uma grave doença neurológica degenerativa (mais pra frente falaremos sobre isso). >
Na última terça-feira (6), a artista foi internada em um hospital de São Paulo pela segunda vez em menos de uma semana, deixando os fãs ainda mais apreensivos. Em live no Instagram, Anitta não quis entrar em detalhes sobre sua atual condição de saúde, mas tranquilizou os seguidores, dizendo que estava bem e não tinha nada grave: “Eu não estou morrendo. Está tudo sob controle”. Ela garantiu que participará do Carnatal, o Carnaval fora de hora de Natal (RN), com show neste sábado (10). Caso se sinta cansada, a cantora Lexa a substituirá. Anitta foi internada duas vezes em menos de uma semana, mas garantiu que faria show neste sábado, no Carnatal Foto: Reprodução Instagram Aliás, Carnaval e mononucleose tem tudo a ver. Isso porque a patologia é popularmente conhecida como ‘doença do beijo’, por ser transmitida através das gotículas da saliva - compartilhamento de objetos como escovas de dente, copos e talheres também podem ocasionar a transmissão. E quando é que há mais troca de saliva do que nos dias de folia? A concorrente à altura é a Farofa da Gkay, onde Anitta iria se apresentar, mas teve que cancelar sua participação por conta dos problemas de saúde. >
Então, você pode até não ter sido convidado para a Farofa, mas se curte ou já curtiu o Carnaval de Salvador, em toda a sua integridade, beijando muuuuuito, pode ser que também tenha mononucleose e nem saiba. >
Sem pânico Não foi exatamente no festivo clima carnavalesco que Salvatore Carrozzo, 41, contraiu a doença, mas foi por conta de alguns beijos dados durante as férias na Europa, no inverno de 1998. “Faz tempo, mas eu lembro bem: tinha acabado de fazer 16 anos. Passei dois meses na Itália e, na volta, passei muito mal no avião. Quando cheguei em Salvador, fui ao médico, ele me disse que eu estava com mononucleose, que provavelmente havia contraído da namorada italiana”, conta o jornalista. >
Os sintomas que o levaram a procurar ajuda médica foram moleza no corpo e dor de garganta severa. “Fiquei deitado muitos dias, o corpo todo doía e eu não conseguia encontrar uma posição confortável para ficar. A dor de garganta era tão grande que chegava a doer os ouvidos quando engolia a saliva”, lembra. Apesar do incômodo, Salvatore afirma não ter ficado assustado com a doença: “O médico que me atendeu na época me explicou do que se tratava”, lembra. O tratamento foi repouso. >
A infectologista Nanci Silva diz que não há mesmo motivo para pânico, pois a mononucleose infecciosa ocasionada pelo Epstein-Barr é uma infecção “extremamente comum”. “A maioria das pessoas não desenvolve absolutamente nenhum sintoma”, ressalta ela. “Acredita-se que de 90 a 95 por cento da população mundial, ao chegar à idade adulta, vai ter contraído a doença. A maior parte ficará assintomática e a outra parte mínima poderá manifestar sintomas como febre, dor de garganta, racha cutâneo e gânglios”, esclarece a professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. “Não há motivo para pânico, pois a mononucleose infecciosa ocasionada pelo Epstein-Barr é uma infecção extremamente comum. A maioria das pessoas não desenvolve absolutamente nenhum sintoma. Acredita-se que de 90 a 95 por cento da população mundial, ao chegar à idade adulta, vai ter contraído a doença” NANCI SILVA, INFECTOLOGISTATambém chamado herpesvírus humano 4 (HHV-4), o Epstein-Barr Virus (EBV) é da mesma família da herpes. O nome é uma homenagem a Michael Anthony Epstein e Yvonne Barr, que descobriram e documentaram o vírus causador da mononucleose, nos anos de 1970. A doença acomete mais indivíduos entre 15 e 25 anos de idade, sendo comum também na infância, sobretudo na fase em que a criança perde a imunidade oferecida pela proteção do leite materno. No entanto, nesse período, os sintomas são mais brandos, podendo ser confundidos com outras viroses. >
A filha de Eveline Vale, 45, apresentou quadro de febre, dor de garganta e aumento de gânglios no pescoço quando tinha apenas três aninhos. Uma semana depois, a médica teve sintomatologia semelhante. “Na infância, a gente nem diagnostica. Na fase adulta é que os sintomas são mais exacerbados”, avisa Eveline Vale, também infectologista. E ela fala com propriedade: “Eu senti dor nas articulações e fraqueza intensa. Meus sintomas foram consideravelmente mais fortes do que na minha filha. Fiquei cinco dias sem conseguir andar direito. Os linfonodos (gânglios linfáticos) no pescoço eram visíveis, eu não conseguia mexer o pescoço direito, parecia um torcicolo”.>
“A febre, a dor de garganta e o aumento dos linfonodos do pescoço foram os sintomas iguais que tivemos”, conta ela, que é infectologista. O fato de ser da área de saúde fez com que resolvesse se submeter a exames sorológicos para o diagnóstico, que deu positivo para Epstein-Barr. >
Os sintomas da mononucleose podem durar algumas semanas. Apesar dos dias difíceis, Eveline e a filha - que agora tem 14 anos - se recuperaram plenamente. Uma vez infectado, o indivíduo pode permanecer com o vírus no organismo para sempre e, em circunstâncias especiais, ele ainda pode ser transmitido. O período de transmissibilidade é de até um ano. “A maioria das pessoas infectadas com o vírus ganha imunidade e uma segunda manifestação é muito rara”, tranquiliza a médica. >
Sintomas leves x sintomas complexos Como dito anteriormente, no geral, quem tem mononucleose não desenvolve sintomas graves (reforçando que a maioria fica assintomática durante a vida toda). A arquiteta e urbanista Dila Reis Mendes, 34, foi diagnosticada com a doença quando tinha 15 anos e não teve maiores problemas: “Lembro que sentia fraqueza e tontura e apareceram alguns gânglios em meu pescoço, mas não tive febre nem nada disso. O médico só mandou observar e disse que eu iria melhorar com os dias”, conta. >
Para quem manifesta a doença, algumas vezes os sintomas podem ser mais complexos. Isso porque o vírus pode afetar o baço e o fígado. Amigo de Dila, o engenheiro Tiago Castro, 34, ao contrário dela, enfrentou momentos bastante preocupantes. Seu baço aumentou 50 por cento de volume e o fígado, 15 por cento, o que dificultava a ingestão dos alimentos. “Eu comia uma cream cracker e parecia que tinha comido um cavalo, de tão estufada que tava minha barriga”, relembra ele, que, na época, tinha 22 anos. >
Foram muitos dias de febre, testes para doenças diversas e até suspeita de leucemia. Isso porque os sintomas são realmente semelhantes aos de outras patologias. Após consultar um clínico geral, a família, então, decidiu procurar um infectologista. “Na primeira consulta, ele disse que todos os meus sintomas apontavam pro Epstein-Barr. Fizemos o teste específico e pimba: o médico nos tranquilizou dizendo que era uma doença benigna. Nunca esqueci disso porque até hoje eu rio da ironia desse adjetivo”, brinca Tiago. Durante todo o processo, ele tomou apenas remédio para baixar a febre. >
Não tem vacina O infectologista Antônio Carlos Bandeira ressalta que não existem mesmo medicações específicas para tratar o Epstein-Barr. “Os remédios são apenas para tratar os sintomas. Caso o paciente apresente esses sintomas, a orientação é: se tiver febre, usar antitérmicos; se tiver dor de cabeça, analgésicos; e assim por diante”, explica. >
A transmissão ocorre principalmente no período de incubação que dura de 30 a 45 dias. Também é quase impossível evitar que as pessoas sejam contaminadas: “Isso porque não há vacina e os próprios doentes não utilizam máscaras, pois, normalmente, não tossem nem tem coriza. Assim, continuam infectando muitas pessoas pelo contato próximo e desprotegido”, entrega Bandeira que, além de atendimento clínico e ambulatorial, também é infectologista na Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), apoiando o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). >
Procurada pelo CORREIO para saber quantas pessoas, em média, são acometidas pela mononucleose na Bahia, o Lacen informou, através de nota: “Por não ser uma doença de notificação, não temos esses dados”. >
Vírus é considerado fator de risco para esclerose múltipla, mas doença degenerativa é rara Apesar de extremamente raras, podem ocorrer complicações relacionadas ao vírus Epstein-Barr (EBV). Algumas delas são: obstrução significativa das vias aéreas superiores, insuficiência hepática e ruptura do baço (devido ao aumento rápido do órgão durante a infecção), bem como o desenvolvimento de algumas neoplasias (tumores).>
Neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia, Ivar Brandi diz que o EBV pode afetar, ainda, o sistema nervoso central - tanto o cérebro quanto a medula espinhal e as raízes nervosas -, causando meningite, encefalite, mielite e síndrome de Guillain-Barré. “Os quadros são mais graves quando há comprometimento do sistema imunológico, ou seja, quando são pessoas imunocomprometidas pelo vírus HIV, por exemplo (aquelas que não realizam o tratamento adequado), ou, principalmente, quem possui linfomas (câncer do sistema linfático). Nesse caso, as lesões são mais graves”, explica.>
Estudos recentes apontam a relação entre o EBV e a Esclerose Múltipla (EM), mas não existe um consenso quanto ao tema. Ivar Brandi afirma que a sorologia positiva para o vírus é considerada um fator de risco para a EM, só que não é o único fator importante para o desenvolvimento da doença. >
A EM é uma doença inflamatória crônica do sistema nervoso central que compromete os impulsos nervosos. É uma condição degenerativa que pode causar incapacidade grave, embora algumas pessoas desenvolvam a doença de forma mais branda. Dentre os sintomas, é possível haver problemas de visão, de movimentos, de sensações ou de equilíbrio. Amiga de Anitta, atriz Ludmila Dayer é personagem do documentário ‘Eu’, em que conta a sua história com o diagnóstico de Esclerose Múltipla Foto: Divulgação Aos 36 anos, a atriz Ludmila Dayer é personagem do documentário ‘Eu’, em que conta a sua história com o diagnóstico de Esclerose Múltipla. Ela, que já trabalhou em novelas como Malhação e Senhora do Destino, na Globo, contraiu o vírus de Epstein-Barr e, segundo Anitta, foi uma das responsáveis por ajudá-la com o diagnóstico. >
Mas, é importante salientar: quem tem ou teve mononucleose não precisa se desesperar. Isso não significa que quem contraiu o vírus Epstein-Barr terá a doença. A EM é considerada rara e afeta apenas cerca de 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo. >
Pesquisa estuda relação entre vírus e EM A relação entre o vírus Epstein-Barr e a esclerose múltipla ainda causa controvérsia entre a comunidade científica. A evidência mais forte até o momento é um estudo feito por cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, publicado na revista Science. A pesquisa mostra que o vírus tem um papel fundamental no desenvolvimento da esclerose múltipla, embora apenas pequena parte das pessoas infectadas desenvolvam a doença.>
Os cientistas acompanharam, durante cerca de 20 anos, jovens do exército americano, dos quais 955 foram diagnosticados com esclerose múltipla. Segundo o estudo, quem foi infectado pelo Epstein-Barr teve um risco 32 vezes maior de ter a doença do sistema nervoso. "Este é um grande passo que sugere que a maioria dos casos de esclerose múltipla pode ser prevenida com a interrupção da infecção pelo EBV e que pode levar à descoberta de uma cura para a EM", disse o pesquisador italiano Alberto Ascherio, professor de epidemiologia e nutrição de Harvard e principal autor da pesquisa. O estudo não é conclusivo. >
SINTOMAS DA MONONUCLEOSE INFECCIOSA>
Febre>
Dor de garganta>
Fadiga>
Inchaço dos gânglios linfáticos>
Tosse>
Perda de apetite>
Inflamação do fígado>
Hipertrofia do baço>
TRATAMENTO>
Não há medicamentos específicos. O tratamento se resume em combater os sintomas com antitérmicos, analgésicos, anti-inflamatórios e repouso. >