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Maysa Polcri
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 18:12
Ex-funcionárias da Zinzane protestaram em frente à loja de roupas localizada no Shopping da Bahia, em Salvador, na tarde desta segunda-feira (4). Ao menos 16 trabalhadoras foram demitidas no último dia 23 e, até agora, não receberam os pagamentos das multas rescisórias. Elas foram informadas que a empresa entrou em recuperação judicial e que não pagaria todos os encargos trabalhistas. >
Keliane Oliveira, 32 anos, foi uma das pessoas demitidas em julho, após dois anos trabalhando como vendedora na loja de roupas. Ela conta que sequer teve acesso ao termo de rescisão de contrato, documento que deve ser entregue aos funcionários no momento do desligamento de uma empresa. A vendedora foi informada pelos gerentes que não receberia a multa rescisória de 40% sobre Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que deve ser paga em casos de demissão sem justa causa. >
"Eu tenho dois filhos pequenos para sustentar e, até então, não foi depositado R$ 1 na minha conta. Todas as lojas continuam abertas nos shoppings, funcionando normalmente, como se nada tivesse acontecendo", afirma Keliane. Pela lei, as empresas têm prazo de até 10 dias corridos para depositar os pagamentos das verbas rescisórias. As funcionárias aguardam o depósito há 12 dias. >
Keliane estima que deveria receber o equivalente a R$ 23 mil pelo período em que trabalhou na empresa. "Estou há cinco dias sem dormir por causa dessa aflição. Não sei mais o que vou dar para as minhas crianças [filhos]. Isso não é coisa para se fazer com um ser humano", desabafa a vendedora. Ela integra um grupo de cerca de 400 funcionários que foram demitidos de lojas da Zinzane em todo o Brasil no final de julho. >
Parte dos funcionários demitidos recebeu um comunicado assinado pela Zinzane Comércio e Confecção de Vestuário. Nele, a empresa afirma que ingressou com medida cautelar no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), onde fica a sede da empresa, para reorganizar as dívidas. "Essa é uma medida estratégica dentro do nosso processo de reestruturação, voltada à continuidade das operações", diz o comunicado.>
A Zinzane diz ainda que, por conta do pedido de recuperação judicial, não poderá arcar com as obrigações em relação aos funcionários demitidos. "Por conta dessa medida judicial, a Zinzane está proibida de fazer, neste momento, o pagamento de verbas rescisórias. Mesmo diante desse pedido judicial, queremos reforçar que todos os ex-colaboradores têm direito a sacar o FGTS e a pedir o seguro-desemprego", completa. >
Ex-funcionárias protestam em loja de shopping
A lei brasileira garante que os empregados demitidos sem justa causa têm direito a receber saldo de salário referente aos dias trabalhados, férias proporcionais, 13º proporcional e o saque do FGTS, além da multa sobre o fundo. Os valores têm o objetivo de garantir que o trabalhador consiga se manter enquanto busca uma nova colocação no mercado de trabalho. A reportagem entrou em contato com a Zinzane, mas não obteve retorno sobre os pagamentos das verbas rescisórias até está publicação. >
Os boatos sobre a crise financeira da loja circulam há meses nas lojas de Salvador e do resto do Brasil. Recentemente, funcionárias de lojas na capital baiana precisaram levar água mineral para o local de trabalho porque o item deixou de ser oferecido pela empresa. É o que conta Maristela da Silva, 35, vendedora que também foi demitida no último dia 23. >
"Teve um tempo que não conseguiram pagar nem as pessoas que levavam água para a gente tomar. Tivemos que fazer vaquinha, com nosso dinheiro, para comprar e colocar água na loja", denuncia. Vídeos enviados à reportagem mostram diversas garrafas de água levadas por funcionários enquanto os galões fornecidos pela loja estão vazios. >
Assim como as colegas, Maristela foi surpreendida pelo comunicado da empresa informando que as multas rescisórias não seriam pagas. A vendedora estava de folga no dia da demissão, que aconteceu por videochamada. >
Outro problema relatado pelas funcionárias é o acúmulo de funções nas lojas. "Nós demos sangue para trabalhar aqui para, no final, sermos tratadas com esse descaso. Apesar de sermos vendedoras, a gente limpava a loja, montava a vitrine e até tinha que compartilhar promoções nas redes sociais", reclama Keliane Oliveira. >
Em Salvador, a Zinzane possui lojas no Shopping da Bahia, Salvador Shopping, Shopping Barra, Shopping Bela Vista, além do Parque Shopping, em Lauro de Freitas, e Outlet Premium, em Camaçari. >