Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Anderson Cunha, do Sertanília, lança álbum solo instrumental

Anderson é também autor de Festa, um dos maiores sucessos de Ivete Sangalo

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 2 de julho de 2025 às 20:29

Anderson Cunha
Anderson Cunha Crédito: Tatiana Guimarães/divulgação

“Avisou, avisou, avisou, avisou/ Que vai rolar a Festa, vai rolar/ O povo do Gueto mandou avisar”... Sou capaz de apostar tudo o que tenho - que não é muito, é verdade - que você, leitor, conhece estes versos e já deve estar cantarolando-os a essa altura. A canção, um clássico do axé lançado por Ivete Sangalo, é de Anderson Cunha, compositor baiano de 52 anos, que compôs para quase todos os artistas desse gênero que dominou as rádios na segunda metade dos anos 1990 e no início da década seguinte.

Mas a competência de Anderson não é só para fazer hits radiofônicos e “grudentos”. Ele também faz outro estilo de música, que nada tem a ver com o tom festivo do axé. E se quiser tirar a prova disso, ouça já o belíssimo EP Escravos e Santos, que chegou recentemente às plataformas de música. As cinco canções, todas instrumentais, foram compostas para a trilha do documentário homônimo, disponível no YouTube. As faixas, todas instrumentais, fazem o ouvinte se transportar para o sertão baiano, onde o curta-metragem foi gravado.

No doc de 2015, dirigido por Márcio Abreu, moradores do Alto Sertão Baiano contam histórias sobre a escravidão, que ouviram de seus avôs e bisavôs. As músicas do filme, como já afirmei acima, nem de longe lembram a festividade do axé: ao contrário, são tão melancólicas quanto as lembranças que os entrevistados do filme guardam. Mas é justamente nessa melancolia que reside a beleza dessas composições de Anderson. A faixa Lamento Para um Amanhã Roubado talvez seja a melhor demonstração disso.

Nascido e criado em Guanambi, Anderson é filho de uma família de uma cidade próxima, Caetité. É a mesma região do sertão, onde ficam Brumado, Ituaçu, Livramento de Nossa Senhora e outros municípios. “Desde 2009, faço incursões por minha região e queria retomar a música dos reisados [manifestação popular religiosa muito frequente naquela área]. Aquela é uma região que permaneceu muito isolada por séculos e, por isso, as manifestações culturais são preservadas e essa cultura do reisado é preservada”, diz Anderson.

As músicas do EP foram gravadas em 2015, num estúdio que o músico tinha na própria casa. As gravações que chegaram às plataformas são as mesmas de dez anos atrás, com arranjos adicionais realizados por Tiago Occilupo. “Convidei Tiago porque queria dar mais cara de ‘música’ e menos de trilha sonora”, diz. Além de compor, Anderson também tocou viola, violão, piano e percussão. Na audição, é mesmo a beleza da viola que mais chama a atenção do ouvinte. O flerte do compositor com esse instrumento é antigo, mas se intensificou depois que criou a banda Sertanilia, com Aiace (vocal) e Diogo Flórez (percussão). A viola de Anderson foi confeccionada por Pedro Santos, requisitado luthier de Guanambi que já fez bandolins para virtuoses como Armandinho Macêdo e Kiko Loureiro.

Letrista do Sertanília, Anderson agora usa a habilidade com as palavras também para revelar-se poeta. Nesta sexta-feira (27), enquanto falava com a coluna, o músico se deleitava com a coletânea Poesia Livre 2025, que havia acabado de receber: naquele livro, está Meu Eu, um poema de Anderson que foi selecionado para a publicação. Antes, outro texto de sua autoria, Livrai-nos, havia sido aprovado numa seleção da revista digital Quarup. “Os poemas, no entanto, não têm nada a ver com o universo sertanejo, até porque minhas referências literárias são Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Paulo Leminski e Manoel de Barros, para mim o ápice da poesia. Meu poemas são muito ligados à psicanálise - assunto sobre o qual leio muito - e são de cunho existencialista”, diz Anderson.