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Nilma Gonçalves
Publicado em 24 de junho de 2025 às 09:24
São mais de 20 prêmios Emmy, 12 versões internacionais que vão da França à Tailândia e uma base de milhares de fãs ao redor do mundo. É impossível negar o sucesso e o impacto cultural do reality show americano RuPaul's Drag Race, que, desde 2009, trouxe para os holofotes da cultura mainstream uma competição de drag queens, apresentando artistas talentosos e impulsionando a arte drag aos quatro cantos. Se você é uma pessoa ligada na cultura pop, com certeza conhece o reality ou até mesmo é fã, como eu. Há quem diga que o contato com Drag Race pode mudar sua vida, e, no caso do baiano Michael Batista, a máxima se concretizou em uma carreira profissional, paixão e propósito.>
“Minha primeira apresentação foi por conta do Drag Race, que foi quando eu conheci a arte drag na televisão, lá pela terceira temporada, e eu fiquei louca, falei: ‘Eu preciso participar disso’. Foi uma promessa, sabe?”, conta. Autodidata, aprendeu aos poucos a se vestir, se maquiar e performar, estreando pela primeira vez em um palco como DesiRée Beck em 2015, no concurso Super Talento, realizado no Âncora do Marujo.>
De lá pra cá, são 10 anos de palcos e produção de conteúdo para a internet sobre o universo e, em 2025, um marco que reafirma a potência de sua trajetória criativa: DesiRée Beck será uma das 10 artistas selecionadas para integrar o elenco da segunda temporada de Drag Race Brasil, que estreia no dia 10 de julho no WOW Presents Plus. “É aquela coisa que o povo fala: No tempo certo, as coisas vão vir para você. Eu amo minha trajetória e agora chego no Drag Race Brasil, uma posição que eu sonhava. As pessoas hoje me conhecem pelo meu trabalho e é muito gostoso participar do nosso sonho com tanto apoio”, celebra Beck.>
Vocação>
Muito antes de saber o que era drag, o interesse pela performance já se fazia presente na vida da artista, que, na pré-adolescência, se reunia com amigas para imitar cantoras como Beyoncé e Mariah Carey. “A gente marcava lá na minha casa e ficava dublando, se avaliava. Isso já foi uma sementinha no meu coração”, relembra. A paixão pelas grandes divas, nacionais e internacionais, permaneceu ao longo do tempo e é o que inspira e define a drag DesiRée Beck hoje.>
“Minhas referências sempre foram as lobas. Aquelas mulheres que têm postura diva muito forte e é exatamente como eu me identifico, que é a perua, muito exagerada, over. Como seria a cabeça da Mariah Carey, da Susana Vieira, da Alcione? Que são mulheres muito poderosas. É dessa água que eu bebi bastante”, explica.>
DesiRée é uma pessoa de se arriscar, e foi na cara e na coragem que as coisas foram acontecendo. Depois do primeiro concurso, foi de desconhecida a nome recorrente em concursos, shows de comédia e paradas LGBTQIA+, abraçada e incentivada pelas drags locais. “A comunidade drag de Salvador é muito generosa. Ela te pega pelo braço e ensina, principalmente a lidar com um público muito diverso. Foi através desse meu contato com a cena baiana que eu comecei a ser inserido na arte”, exalta. Largou a faculdade e, mesmo sem apoio financeiro, passou a dedicar-se exclusivamente a viver da arte que hoje considera parte natural de si. “Nem consigo entender como uma personagem. É uma extensão de quem eu realmente sou. Eu acho que talvez por conta disso as pessoas se identificam”, reflete.>
Drag Race Brasil>
A relação de DesiRée Beck com os realities de competição drag ganhou mais uma camada durante a pandemia, quando passou de fã a produtora de conteúdo sobre o universo em seu canal no YouTube. Começou a fazer reviews sobre os episódios, vídeos de curiosidades sobre as drags e criou sua própria competição a nível nacional, a TNT Drag. “Peguei o que eu já fazia na minha vida em Salvador e levei para a internet. Foi quando eu comecei a trabalhar nacionalmente, e hoje eu já não tenho mais um ponto fixo, apesar de ser uma drag de Salvador”, enfatiza. Em 2023, Beck integrou pela primeira vez o elenco de um reality, o Caravana das Drags (2023), onde foi finalista e levou o terceiro lugar.>
Com a segunda temporada de Drag Race Brasil confirmada, Beck decidiu arriscar-se mais uma vez em prol do seu sonho. “Por mais que eu tivesse ansiedade, eu já sentia que eu estaria lá dentro e, se desse errado, pelo menos em algum minuto eu fui feliz”. A artista revela que, ao entrar na competição, por ser uma grande fã, sentia um medo de ter as expectativas frustradas. Mas o sentimento logo foi afastado, confluindo numa experiência que, só de mencionar já faz os olhos da drag brilharem. “Eu saí de lá muito feliz e contemplada. Foi o meu sonho e ele foi muito bem tratado durante todo esse processo. Saí de lá gostando mais do programa do que quando eu entrei. E tô com uma grande expectativa para ver a recepção das pessoas”, partilha.>
Os julgamentos ou comentários negativos não assustam a queen. “Eu vou pegar o limão que as pessoas dão, porque hate é engajamento, fazer uma limonada saborosa e tomar 1 L sem piscar”, brinca. Beck espera que, com sua participação no reality, possa inspirar as conterrâneas e mostrar a potência da cena drag soteropolitana. “Ainda existe um medo nas drags de Salvador de se jogarem. Talvez por conta da luz gigantesca que existe nas artistas de São Paulo e pela falta de estrutura e acesso às ferramentas que enfrentamos. Mas, se na performance nós daqui às vezes só temos a luz e o público, a gente está preparado para tudo. Temos que reconhecer nossas potências. Sinto que é um dever meu, com essa visibilidade toda do Drag Race, trazer essa luz para cá, para ver que temos a melhor cena do Brasil”, finaliza.>