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Ator baiano começou na Ilha de Itaparica e agora é nome forte na cena de Portugal

Allex Miranda busca construir novos papéis representativos e cooperações entre os dois países

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 12 de maio de 2025 às 09:58

Ator Allex Miranda
Ator Allex Miranda Crédito: Divulgação

O baiano Allex Miranda, 42, construiu seu caminho na atuação unindo a paixão pelos palcos, a ousadia para galgar oportunidades e o comprometimento em representar aquilo que é, sem limitar o vir a ser. Começou no teatro ainda adolescente na Ilha de Itaparica, quando apresentava espetáculos com seu grupo Mega Gênesis na Biblioteca João Ubaldo Ribeiro, na presença ilustre do autor. “Só depois eu vim perceber que minhas primeiras peças foram exatamente para o próprio João Ubaldo, com os contos dele”, relembra.

Miranda seguiu na atuação, passando pelos palcos de Salvador e Camaçari, quando uma oportunidade redefiniu seu caminho nas artes cênicas: foi selecionado entre mais de 100 atores para um intercâmbio de seis meses em Portugal com a Companhia de Teatro de Braga. Os seis meses viraram dois anos com o grupo, que enveredaram para estudos na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, em Porto, e oportunidades em novelas, filmes e teatro. Quase 20 anos depois, Allex Miranda é um nome consolidado na cena artística portuguesa como ator, diretor, dramaturgo e roteirista.

Ao todo, são mais de 20 produções no audiovisual, incluindo trabalhos nos canais televisivos RTP, SIC e TVI, sendo o primeiro ator negro baiano a colaborar com as três maiores emissoras do país. Miranda explica que a inserção inicial no cenário foi demorada, principalmente enquanto brasileiro. “Tive que começar a trabalhar em outros sotaques. Hoje eu falo com sotaque angolano, moçambicano. Com isso, comecei a ser mais conhecido e convidado para papéis. É um trabalho muito interessante, delicado também, sempre tenho cuidado na hora de fazer essas personagens, para não criar um arquétipo pejorativo deste corpo negro representado”, explica.

Com o reconhecimento no audiovisual e a possibilidade de transitar entre atuação e direção no teatro, Allex viu-se com a chance de ocupar espaços onde, muitas vezes, o cenário era de escassez e de recusar convites que achava não serem interessantes dentro do que se propunha artístico politicamente.

“Comecei a escrever os meus projetos, pensei: ‘Se os convites não chegam, eu vou escrever as cartas para poder convidar’. Foi a partir daí que eu consegui fazer o projeto Makeda, por exemplo.” Com direção de Miranda, o musical infantojuvenil traz a história de uma pequena princesa africana predestinada a se tornar a Rainha de Sabá. O espetáculo esteve em cartaz no Brasil em 2024.

Allex Miranda em Sobreviventes
Allex Miranda em Sobreviventes Crédito: Divulgação/Hugo Azevedo

Sobreviventes

O trabalho mais recente de Allex Miranda no cinema foi em Sobreviventes, último longa-metragem do cineasta luso-brasileiro José Barahona (1969–2024), que estreou no Brasil no mês passado. O filme se passa após o naufrágio de um navio negreiro no século XIX, onde sobreviventes, brancos e negros, tentam reinventar a convivência numa ilha deserta. Em torno dessa premissa, Sobreviventes constrói uma alegoria sobre os legados da escravidão e do colonialismo.

No longa, o ator dá vida ao protagonista João Salvador, um personagem que conserva suas raízes africanas, mas que, ao mesmo tempo, é subserviente aos brancos portugueses. Em dilema, Salvador - agora um homem liberto - tem que lidar com as amarras psíquicas e a lógica de sobrevivência presente após o naufrágio. Miranda revela que fazer personagens escravizados é um ponto de tensão e de recusa em sua atuação.

“Acredito que muitas vezes não é interessante para a construção do imaginário coletivo e vem de um lugar muito estereotipado. O passado não deve ser esquecido, mas há tantos pontos de vista... Não precisamos só desse lugar do corpo negro e a chibata numa mão branca”, diz. Entretanto, o aceite desse papel veio com o amadurecimento político-racial do ator e pelo caráter reflexivo e voltado à decolonialidade no projeto, envolvendo pesquisa, cuidado histórico e preparação de toda a equipe envolvida no longa.

Entre Brasil e outro em Portugal, Allex Miranda enxerga seu futuro artístico como uma travessia geográfica e simbólica. “Já não sou um não lugar, eu sou todos esses lugares.” Do entrelaçamento entre vivências e pertencimento, nascem os próximos papéis que gostaria de interpretar, inspirado em questões identitárias de quem carrega uma raiz africana reconhecida, uma vivência artística soteropolitana e portuguesa, mas que também se vê atravessado por outras camadas de pertencimento, diáspora e pluralidade negra.