Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2016 às 15:34
- Atualizado há 2 anos
Quando estava no meu processo de transição capilar (retirada dos produtos químicos dos meus cachos), encontrei força e informações nos canais de diversas youtubers negras e, sobretudo, nos grupos de discussão existentes no Facebook. Na época, ainda não eram muitas meninas com canais, como agora.>
Confira o especial Preticess>
As primeiras que conheci foram Fernanda Chaves, do Blog Cantinho da Nanda, Gill Vianna, do Coisas de Cacheada, Maraísa Fidelis, do Beleza Interior e a Rayza Nicácio. Na época eu já estava bem adiantada nas leituras sobre violência de gênero com perspectiva racial, então eu tinha consciência sobre os motivos que me fizeram alisar o meu cabelo. As youtubers negras Gill Vianna, Fernanda Chaves, Rayza Nicácio, Maraísa Fidelis e Gabi Oliveira>
A ativista estadunidense Bell Hooks já tinha me dado uma orientação (falo como se fosse íntima, risos). Uma especie de “acorda, gata!”. Mas ok, não queria somente ler. Queria ouvir de outras jovens os sofrimentos vividos e soluções encontradas para superar essa fase “bad”, mas libertadora. Como rolou a identificação pelo meu tipo de cacho e também, por sermos todas negras, bateu a representatividade!Daí em diante meus amores, fiz meu "big chop" (corte do cabelo com química) e passei a de verdade me entender mais. E o mais bacana, as dicas dessas queridas sobre o melhor método ou tipo de produto foram fundamentais para mim, não apenas pelas noções de cuidado, mas por enxergá-las como minhas conselheiras mesmo. Uma relação de proximidade e reconhecimento tinha sido formada. Mesmo que virtualmente. E se isso não é sororidade (em tempos digitais) entre nós mulheres, eu não sei que nome dar. Felizmente a internet nos possibilita expressar nossas opiniões com mais facilidade. Mas pessoas negras, sejam mulheres, homens, trans, cis, lésbicas, gays, crianças, jovens, adultos e por aí vai, seguem sendo mais julgadas por contarem as suas vivências, sobretudo as do ramo da beleza que não é, nem nunca será, menos importante. Se alguém diz “ah, mas o discurso é só estético”, o “só estético” já abarca um mundo de significados e sentidos. O estético também aborda aceitação e enfrentamento ao racismo. Lembrem-se sempre que estética não é apenas no ponto de vista “cosmético”, mas, sobretudo, significa percepção, sensibilidade com o que há ao redor e poder. E quando você não curtir o pensamento de um/a influenciador/a digital, manda um comentário elegante e deixa o ser humano aprender por conta própria. Existem pessoas com discursos mais ativistas, divertido e didáticos, como por exemplo a Gabi, do canal De Pretas (uma ótima opção). Só não vale enfraquecer a irmã ou o irmão negro que está na luta pela visibilidade. Essa pessoa, assim como você no seu dia a dia, tem liberdade de expressão e quer ter a opinião ouvida e respeitada. >