Carol Barreto lança livro Modativismo nesta quarta-feira (10) no Espaço Cultural da Barroquinha

Escritora lança obra que redefine o papel da moda ao unir arte, política e estética, destacando a força da mulher negra e promovendo a transformação social

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 9 de abril de 2024 às 05:00

Carol Barreto lança livro Modativismo nesta quarta-feira (08) no Espaço Cultural da Barroquinha
Carol Barreto lança livro Modativismo nesta quarta-feira (08) no Espaço Cultural da Barroquinha Crédito: Divulgação/ Ana Reis 

Carol Barreto teve seu interesse pela moda despertado ainda na infância, quando desenhava seus primeiros croquis. Na adolescência, sonhava com a graduação de moda no Ceará. Mas, sem condição para estudar fora do estado, ela decidiu aprendeu sozinha, com apoio da família, vendendo seus modelos às colegas da vizinhança, descobrindo o que estudar a partir da ementa dos cursos profissionalizantes e sempre determinada.

“Tive aquilo como um mapa de vida, que eu iria, sim, me formar como designer de moda”, diz. De Santo Amaro, ela partiu para graduação em Letras em Feira de Santana e pós graduação já na área da moda em Salvador. O primeiro desfile veio em 2001.

Ao longo da trajetória, Carol sempre se questionou sobre as ausências e o lugar da mulher negra na moda e como isso impactava na nossa construção pessoal e posicionamento no mundo.

“Moda para mulheres negras, sempre foi um espaço de exclusão e somos nós a força de trabalho principal”, afirma. Carol ressalta que nunca acreditou em uma moda isenta de responsabilidades: “Comecei a entender o quanto os projetos de aparência, que são resultantes dos nossos projetos de identidade e subjetividade, são ações políticas, né? E aí já nasce o Modativismo”, explica.

O conceito cunhado por Carol foi desenvolvido em seu doutorado, a partir de experiências pessoas e vivências de trocas na moda com outras criadoras negras pelo mundo. O material compõe o livro intitulado Modativismo: Quando a Moda Encontra a Luta, que terá lançamento presencial nesta quarta-feira (10), às 18h, no Espaço Cultural da Barroquinha.

No evento, a autora receberá a curadora Ana Paula Xongani para um bate-papo, com mediação de Adriele Regine, co-fundadora do projeto Lendo Mulheres Negras. Na obra, lançada pela Companhia das Letras, a professora de Estudos de Gênero e Feminismo da Ufba propõe reflexões, problematizações e análises sobre o cenário da moda nacional e internacional ,e um modo diferente de pensar e praticar moda, evidenciando a mulher negra e seu papel transformandor na sociedade.

Segundo ela, modativismo é a compreensão de que intelectualidade mental e intelectualidade material não estão colocados de maneira hierarquicamente diferente, e que ambos processos criativos e produtivos estão equivalentes aos produtos da imagem. “Não adianta uma passarela cheia de modelos negras, indígenas, não adianta uma entrevista dada pela única pessoa cadeirante daquela empresa. Esse processo de produção de uma moda que contribui para a transformação social por meio de ativismo tem que estar constituído em todas as frentes”, explica a autora, ressaltando a necessida de de tornar cada vez mais complexa a discussão entre moda e sustentabilidade.

Escritora e Designe de Mo
Escritora e Designe de Mo Crédito: Divulgação/ANA REIS

Caminhos do Modativismo

Uma dos tópicos interessantes levantados pelo livro é a noção de como experiência pessoal e bagagem sociocultural contribuem para os significados postos nos marcadores da moda e são válidos como objeto de produção de conhecimento.

“É o que a gente chama de posicionalidade, que é o lugar dessa existência da pessoa criadora e instrumental que a sua experiência de vida oferece. Então, quando eu vou discutir moda afrobrasileira, eu trago essa questão. Roupa cobre o corpo de significações. Não é porque sou uma pessoa negra que significa que faço moda afro-brasileira. Essa moda precisa ser composta a partir de pesquisa e, principalmente, a partir de processos que sejam oriundos dos saberes das nossas comunidades tradicionais.”, explica.

O livro já vem promovendo discussões, influenciando novos pesquisadores e criando frutos como coletivos, fóruns e, desde 2023, uma disciplina na Ufba, ministrada por Carol. “Eu vejo as pessoas chegando na disciplina muito receosas, com os dizeres ‘não sei costurar, não sei desenhar, não entendo de moda’. A gente tem um tempo inicial para sensibilizar e compartilhar esse entendimento de que toda pessoa que se veste, entende de moda e de que, antes de tudo, modativismo é uma justificativa para que, por meio da criação artística, a gente possa discutir estratégias de enfrentamento à desigualdade”, pondera.

Com Modativismo: Quando a Moda Encontra a Luta Carol Barreto pretende ampliar os caminhos possíveis e espera que o livro possa construir processo de identificação com aqueles que tiverem acesso a ele, mostrando os reflexos da união artística, política e estética.