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Como falas misóginas de Trump inspiraram bestseller sobre homens leitores de romance

Para a autora de Clube do Livro dos Homens, Lyssa Kay Adams, o episódio tem semelhanças com situação do BBB que gerou revolta

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 21 de janeiro de 2024 às 07:00

Lyssa Kay Adams escreveu Clube do Livro dos Homens
Lyssa Kay Adams escreveu Clube do Livro dos Homens Crédito: Reprodução

Nos Estados Unidos, um episódio semelhante ao dos homens do BBB tinha chamado a atenção da escritora Lyssa Kay Adams. Era 2016 e, em meio à campanha para as eleições presidenciais daquele ano, vazou uma gravação do então candidato Donald Trump usando termos depreciativos e vulgares para falar de mulheres. Ao fundo, ouvia-se risos de outros homens.

"Muitos homens defenderam a gravação e o que Trump disse. Eles diziam ‘mas é assim que homens falam quando estão juntos’. E eu decidi que eu não ia aceitar. Chegou a hora de eles aprenderem que isso não é mais aceitável", lembra Lyssa, em entrevista ao CORREIO, pelo Zoom, na última quinta-feira (18). Esse foi o ponto de partida para que ela começasse a escrever o primeiro livro de uma série que se tornou bestseller: Clube do Livro dos Homens, eleito o melhor romance de 2019 pela Amazon e lançado em 2021 no Brasil, pela editora Arqueiro.

No primeiro volume (já são cinco disponíveis), o jogador de futebol americano Gavin está no auge da carreira mas vê seu casamento se deterioriar ao descobrir que a esposa fingia ter prazer na cama. Ele acaba encontrando ajuda em um clube do livro secreto, em que homens - todos influentes, bonitos e bem-sucedidos - leem romances para serem homens melhores.

"Eu sentei e comecei a escrever esse livro sobre homens que não se comportam dessa forma e que, na verdade, repreendem uns aos outros por mau comportamento", adianta. Desde o início, Lyssa quis mostrar homens que eram muito bem-sucedidos. Em geral, eles são grandes, fortes e poderiam se encaixar na definição de macho alfa. "Eu queria mostrar homens como esses engajados em se tornar melhores aliados para as mulheres. Porque existe esse mito de que, de alguma forma, ser feminista é um traço feminino. Mas, na verdade, não existe nada ‘antimasculino’ em ser um aliado das mulheres. Não existe nada de ’antimasculinidade’ em ser feminista", conta.

Responsável pela contratação do livro no Brasil, a editora de aquisições da Arqueiro, Frini Georgakopoulos, explica que diferencia a obra é justamente o perfil dos homens. "São homens influentes em sua área de atuação, atletas, empresários no topo da sua vida se juntam pra ler romances. Uma coisa muito importante que se torna importante na série toda é que, para eles serem pessoas melhores, eles entram em contato com a própria emoção, com os próprios sentimentos. Em todos os livros, a autora faz questão de cenas em que eles se emocionam, se abraçam e demonstram sensibilidade".

Ainda que o maior público seja feminino, Lyssa tem muitos leitores homens. Ela recebe desde os relatos daqueles que eram leitores silenciosos do gênero até os que nunca tinham lido e se aventuraram em sua obra por influência das parceiras. “Mas minhas mensagens preferidas são de homens que diziam: ‘isso realmente me fez pensar diferente. Esse livro me fez perceber que quando um amigo faz piadas depreciativas sobre mulheres, eu tenho a responsabilidade de dizer ‘ei, isso não é legal, você não pode fazer isso’. Nós temos pensar em uma nova forma de nos conectar como homens", conta a autora.

Lyssa acabou criando personagens que servem de (bom) exemplo aos homens. Para ela, a relação dos homens da ficção pode dizer aos homens da história como eles podem se conectar com os amigos. "Você pode se conectar aos seus amigos homens de outra forma sem perder a sua carteirinha de homem. Não tem nada de legal, não tem nada de masculino em se ligar aos seus amigos homens através a degradação sexual das mulheres".

No Brasil, a saga do clube foi bem-recebida. Além do romance, todos os cinco já lançados trazem temáticas como assédio e traumas familiares. Entre os homens que leram as obras e já entraram em contato com a editora, há mensagens do quanto acham válido discutir esses temas. Frini Georgakopoulos, da Arqueiro, destaca duas situações marcantes. A primeira foi bem na Bienal do Livro da Bahia, em 2022, quando Lyssa veio ao Brasil pela primeira vez. "Na fila para o autógrafo dela, um rapaz pediu a garota em namoro com em aliança. Foi na frente da autora, que ficou super emocionada e ele também era leitor", lembra.

A segunda foi com o narrador dos audiolivros da série em português. "Todos são narrados pelo mesmo narrador, Adriano Pellegrino. le amou os livros, falou muito para a esposa sobnre. No dia que a autora veio para o Rio, ele entrou na fila para que ela autografasse. Inclusive, homens, se vocês ainda têm receio de serem pegos lendo romance, escute os romances que ninguém vai saber", brinca a editora.

O primeiro livro da série teve os direitos de adaptação vendidos para um filme na Netflix, mas ainda não há data de lançamento.