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Roberto Midlej
Publicado em 19 de outubro de 2024 às 11:09
O leitor talvez estranhe a ausência de uma vírgula no título do novo livro de contos de Dênisson Padilha Filho: Fúria Talvez. Não, não se trata de um equívoco por parte do autor, muito menos da editora P55. “Isso é proposital porque a ideia é transformar o ‘talvez’ em um adjetivo. A fúria, portanto, neste caso, está prestes a explodir; ela é incipiente”, defende o escritor. >
Além disso, a ‘fúria’ no título pode ter mais de um significado, conforme o leitor vai notar em algumas histórias. “Tem a fúria no sentido de ira e também no sentido sexual, da lascívia. No mundo animal, por exemplo, se diz que o cavalo está na fúria quando está pronto para reproduzir. E um terceiro significado, que é o da loucura”, explica o autor.>
Fúria Talvez reúne 17 contos de Dênisson, que mostram “pessoas comuns em situações comuns”, como revela o material de divulgação. Não há um tema predominante, segundo o autor: >
Dênisson Padilha Filho
escritor, autor de Fúria TalvezAs situações são as mais diversas: numa das histórias, dois amigos se despedem na véspera da viagem de um deles para o México; noutra, um viajante para num restaurante de beira de estrada e decide mudar de vida; numa terceira, há um toque de fantasia: um homem, traumatizada com o fim de um relacionamento, só enxerga pelo retrovisor o carro da amada.>
São, portanto, situações que não saem muito da nossa rotina. Mas, como chama a atenção o escritor André Giusti na apresentação do livro, a força da prosa de Dênisson está nas falas dos personagens: “Seu enfoque em boa parte das páginas é em diálogos (algo que, inclusive, muito falta aos autores contemporâneos, que geralmente entregam tudo nas mãos de um narrador”.>
E a prova dessa virtude de Dênisson está no conto As Rãs de Outubro, o favorito do próprio autor. Num dia de muito calor, um senhor resolve estender as roupas no quintal de casa e é surpreendido pela visita da sobrinha-neta, uma adolescente de 14 anos. A menina, que foi ali apenas para pegar uma ferramenta emprestada, acaba se envolvendo em uma conversa com o homem, que fala de uma aventura na época da escola, quando saiu para caçar rãs com o irmão (avô da garota). “É um confronto geracional entre os dois, um conflito de conceitos, mas sem briga”, diz Dênisson.>
Mas o leitor que busca o óbvio na literatura de Dênisson deve fugir: não há lições de moral, nem a linearidade tradicional com histórias que têm começo, meio e fim. “O leitor que espera um ‘entendimento’ ou ‘mensagem’ em meus textos vai dar com os burros n’água. Não quero trazer mensagens: quero trazer sensações, emocionar, criar algum abuso no leitor, talvez até ódio. Quero jogar o leitor numa órbita de fruição. Não estou aqui para educar ninguém”, avisa Dênisson. >
Neste sábado (19), às 15h30, na cervejaria ArtMalte (Rio Vermelho), o escritor recebe os amigos e leitores para um bate-papo intermediado pelo escritor Tom Correia. A escritora Rita Santana vai ler um dos contos de Fúria Talvez e, em seguida, Dênisson faz uma sessão de autógrafos. >
SERVIÇO>
Lançamento do livro Fúria Talvez, com sessão de autógrafo de Dênisson Padilha Filho. Sábado (19), 15h30. Cervejaria ArtMalte (R. Feira de Santana, Rio Vermelho). Preço do livro: R$ 50>
Osba interpreta Beethoven na Igreja de São Francisco>
A Osba volta a se apresentar neste domingo (20), às 17h, em um belíssimo palco: a Igreja de São Francisco, no Pelourinho. A orquestra vai interpretar composições de Beethoven e Schumann e o público ainda vai ver um solo de violino de Francisco Roa, spalla da Osba. Uma explicação, para quem não conhece bem o vocabulário da música erudita: o spalla é o violinista líder da Orquestra e referência dos músicos para o maestro. A regência será do maestro convidado Guilherme Mannis, diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Sergipe. A apresentação integra a Série Manuel Inácio da Costa, que leva o nome do maior escultor baiano de imagens sacras do século XVIII. O objetivo da sequência de apresentações é percorrer e ocupar as principais igrejas da capital baiana, em especial as construções seculares situadas no Centro Histórico de Salvador.>
SERVIÇO>
Osba interpreta Beethoven e Schumann. Domingo (20), às 17h. Igreja de São Francisco - Pelourinho. Grátis>
Brasil e Portugal se encontram na música>
Chegou às plataformas de música o novo EP da portuguesa Carminho, com quatro faixas. O destaque é um dueto com Caetano Veloso em Os Argonautas, música lançada originalmente pelo compositor baiano no álbum que ele lançou em 1969. Na canção, está o famoso verso 'Navegar é preciso/ viver não é preciso', retirado de um poema de Fernando Pessoa. A frase, no entanto, foi dita pelo general Pompeu (106 – 48 a.C.) aos tripulantes de uma embarcação que ele comandava. “Essa música é cativante não só pela beleza da letra e da melodia, mas pela relação com os versos de Fernando Pessoa. O tom nostálgico, que evoca Portugal de outros tempos, me fascinou. Caetano sugeriu que eu gravasse essa canção e foi o que fiz, com guitarra portuguesa. Ele colocou voz mais tarde, selando esse EP com seu talento, sua voz e sua generosidade”, diz a cantora portuguesa. As outras três músicas do EP são da própria Carminho.>