Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Luiza Gonçalves
Publicado em 28 de maio de 2025 às 09:59
Corajosa, a baiana Luedji Luna vem há cinco anos numa travessia sobre o amor. Nadando de ponta a ponta entre as águas cristalinas em Bom mesmo é estar debaixo d'água (2020) e Bom mesmo é estar debaixo d'água Deluxe (2022), consolidou-se como uma voz proeminente do neo-soul brasileiro, dentro e fora do país. >
Para a cantora, ao ser banhada dessa confiança, chegou a hora de ir mais fundo. Em Um Mar Para Cada Um, novo lançamento da artista, já disponível nas plataformas de streaming, Luedji mergulhou na infinitude oceânica do amor de sua própria intimidade, nas potências e entraves, carências e forças. >
“É um álbum que reflete a minha maturidade artística e também como mulher. Eu estou muito segura com esse trabalho, tranquila, em paz com as escolhas que tenho feito para minha carreira e para minha vida. Então acho que Um Mar Para Cada Um é o reflexo de uma mulher, cantora e mãe chegando ali quase aos 40, com mais respostas do que com questões”, afirmou Luedji em entrevista ao CORREIO.>
Um Mar Para Cada Um encerra o ciclo das águas, explica a artista, tornando-se sintético do reconhecimento do amor como um universo onipresente e multifacetado na sua vida, aparecendo na lírica em romance, troca, afetividade, respeito, amizade e autocuidado. “Um amor numa dimensão oceânica. O mar traz essa ideia de imensidão, de profundidade, de tanto. Eu revelo neste álbum essa minha ação por dar amor, por expressá-lo a partir dessas canções para cada uma dessas pessoas e também falo da minha vontade de receber o amor, sobre a minha própria necessidade de me sentir amada, digna de receber esse amor”, pontua.>
Um processo por vezes doloroso, em que se descobrem traumas; desafiador pelo seu nível de exposição e que permite que o público se aproxime ainda mais da pessoa além da imagem dos palcos, revela Luedji:>
“É um disco que vem desse lugar do autoconhecimento e um dos caminhos era me questionar por que eu preciso de tanto amor, de tanta validação. Eu fui investigar o motivo e acabei descobrindo que vinha da carência, que é igualmente oceânica, do trauma, que é igualmente profundo. Acho que é o meu disco mais sincero também por conta disso, porque estou mostrando a minha vulnerabilidade. Quero dividir isso com as pessoas porque a música coloca a gente muito num lugar de distanciamento, de deificar o artista, e acho que compartilhar a minha subjetividade mostra que essas questões atingem a todos.”>
No álbum, Luedji Luna aprofunda sua reflexão sobre o amor também a partir da fratura. Em 4HZ, faixa construída a partir de um áudio real enviado a uma amiga, a artista escancara um afeto intenso que beira o limite entre o cuidado e o controle. No relato, Luedji compartilha o incômodo diante da escolha da amiga por uma relação que ela considera insuficiente e, com isso, revela as próprias expectativas, frustrações e limites emocionais. A experiência, que culminou no rompimento da amizade, serviu como um espelho doloroso para a cantora, que passou a reconhecer o quanto o desejo de oferecer amor também pode conter imposição e violência. “Eu preciso dar limite para o meu amor também”, admite.>
Música Protagonista >
Apesar da força das palavras e do apreço que tem pela poesia, Luedji Luna destaca que, em seu novo trabalho, a música é a protagonista, tendo nas suas sonoridades escolhas assertivas que levam seu jazz neo-soul a novos lugares. “Depois que eu compreendi a potência que o som tem, como ele é capaz de transformar e promover cura, eu compreendi que poderia equilibrar nesse disco e dar mais destaque para a música”, diz.>
Nas 11 faixas de Em Um Mar Para Cada Um, constrói-se uma atmosfera de cura, com frequências e elementos de sound healing; sagrada pelos seus cantos corais e sopros acentuados inspirados por A Love Supreme, de John Coltrane; e reflexiva, mesclando canto e falas.>
A prioridade sonora também foi expressa pela lista de convidados da cantora para comporem os feats das canções do disco: majoritariamente instrumentistas. O instrumental “Gênesis”, regido pelos músicos baianos Bira Marques, Bruno Mangabeira, Nei Sacramento e Ângelo Santiago, abre o álbum, que conta ainda com as participações da saxofonista Nubya Garcia, do trompetista Takuya Kuroda e do guitarrista Isaiah Shaker. Nos vocais, unem-se a Luedji as cantoras Tali e Liniker, além de um áudio-poema de Beatriz Nascimento (1942–1995).>
A artista reafirma sua busca por uma sonoridade que reflita, de forma mais fiel, suas referências e escutas atuais. “Acho que pela primeira vez tenho escolhido cantar o que eu escuto”, confessa, ressaltando que esse movimento também tem impactado diretamente sua forma de compor, cantar e até se apresentar: “Eu me sinto muito à vontade, muito em casa”.>