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Filme tem direção e roteiro de Carolina Markowicz, a mesma de Carvão
Roberto Midlej
Publicado em 2 de dezembro de 2023 às 05:00
O humor é, definitivamente, uma das maneiras mais inteligentes de se fazer crítica social e dizer isso já virou até clichê. Ridicularizar aqueles que merecem ser ridicularizados é também uma forma de fazer crítica social. E, quando a ridicularização é feita com inteligência, originalidade e sutileza, a coisa fica ainda melhor. E é isso que o filme brasileiro Pedágio, que estreou nesta quinta-feira (30) nos cinemas, consegue.
Com direção e roteiro de Carolina Markowicz (Carvão/2022), Pedágio é uma ácida crítica à tal "cura gay" e ao charlatanismo daqueles que juram ser capazes de promovê-la. No filme, Maeve Jinkings (a Mila da série Os Outros) vive Suellen, uma cobradora de uma cabine de pedágio que é mãe do adolescente Tiquinho (Kauan Alvarenga), um menino que faz vídeos dublando as velhas divas americanas do jazz.
Constrangida por causa do comportamento homofóbico dos colegas de trabalho e das "piadas" que eles fazem com Tiquinho, Suellen cede à pressão social e resolve levar o menino para um "curso" de cura gay. Nele, o mentor é um homem que vem de Portugal jurando aplicar as técnicas mais modernas em seus métodos.
E aí que, incrivelmente, Carolina Markowicz consegue inserir humor para tratar de um tema tão revoltante. Num dos exercícios propostos no curso, o "professor" entrega aos alunos uma genitália modelada em uma massa: osa homens recebem um pênis e as mulheres, uma vagina.
O exercício - chamado de "ressignificação da genitália" - é remodelar a peça e transformá-la na genitália inversa. O guru acredita - ou finge acreditar - que os "doentes", fazendo isso diariamente, vão se curar, afinal vão se sentir atraídos pela genitália oposta.
Os diálogos são também muito bem escritos e o humor os permeia. Num deles, Suellen vai até a igreja que promove o curso e diz que seu filho está prestes a completar 18 anos. A recepcionista, então, lhe faz um alerta, para que a mãe leve logo o menino: "O Exu arrenda o corpo até os 17. Passou disso, é usucapião. Aí, fica uns 80% mais difícil [a cura]". É daqueles momentos em que, de tão patética a situação, só lhe resta mesmo rir. Mas que fique claro: Pedágio está longe de ser uma comédia.
É, sim, uma contundente crítica social e política, feita com muita inteligência e tem momentos dramáticos que causam tanto incômodo como o humor ácido do filme.
Em cartaz: Saladearte da Ufba, Saladearte Cinema, Cine Glauber Rocha, UCI Shopping da Bahia
Vanessa da Mata no Armazém Convention
Vanessa da Mata leva neste sábado (2), ao Armazém Convention (Parque Shopping Bahia, Lauro de Freitas), a turnê Vem Doce. No espetáculo, a cantora apresenta 13 canções do álbum homônimo, o sétimo de sua carreira, lançado no primeiro semestre deste ano. No repertório, estão letras politizadas como Foice e Face e Avesso, para falar sobre injustiça social, precarização na educação, racismo, e outros temas. Mas, além das canções novas, o público vai ouvir os clássicos de Vanessa, como Boa Sorte, Amado, Não me Deixe Só e Ai Ai Ai, em celebração aos 20 anos de carreira dela. Além de Vanessa, se apresentam Jau e Casali, a partir das 20h. Os ingressos custam a partir de R$90 e estão à venda na Bilheteria Digital e na loja oficial do Armazém, no piso L2 do Parque Shopping.
No streaming, uma alternativa ao cinema comercial
Pouco falada, a plataforma de streaming Filmicca vale especialmente pelo acervo, que, se não é dos maiores, é de muita qualidade. Especialmente para os cinéfilos que desejam uma alternativa aos grandes sucessos de bilheteria ou às séries mais badaladas. O catálogo tem principalmente muito filme europeu, das mais diversas nacionalidades, desde britânicos, suecos e até os que chegam com muito pouca frequência por aqui, como os húngaros. Um dos destaques entre as categorias é a de cinema africano, com cerca de 20 filmes, de países como Burkina Faso (Samba Traoré), Quênia (Supa Modo) e Gana (Da Yie). Há ainda seções apenas com filmes dirigidos por mulheres; outra dedicada ao cinema latino e até ao cinema nórdico. E agora, uma ótima notícia: o valor da assinatura real é de R$ 60. Ou seja, R$ 5 por mês. A plataforma, no entanto, alerta que a adesão por esse preço é somente até o fim de dezembro. Faça as contas: se assistir a apenas um filme por mês, cada um sai por R$ 5. Uma boa chance de um acervo diferenciado e bastante diverso.