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Mari Leal
Publicado em 29 de setembro de 2023 às 06:00
Em 2006, quando foi inaugurado o Museu Rodin no Palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino, na Graça, o ogan, professor universitário e artista visual baiano Ayrson Heráclito foi convidado para assinar, junto com Katia Jordan, a curadoria da exposição Cosmogonia, de Mário Cravo Junior, expressão nacional da arte moderna. >
Dezessete anos depois, Heráclito, que é um dos principais nomes da arte contemporânea do país, retorna ao espaço com uma exposição própria, Agô, que marca a inauguração do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC), novo equipamento cultural instalado na capital baiana. >
A exposição tem mais de 50 peças, muitas inéditas no estado de nascimento do artista. São pinturas, fotografias, maquete e esculturas, feitas a partir de materiais que extrapolam o conceito de artes plásticas e trazem para Salvador o resultado de trabalhos de incursões de Heráclito em países africanos, além da performance que lhe rendeu o prêmio Leão de Ouro na última Bienal de Veneza. >
O azeite de dendê, ingrediente central na culinária baiana, também tem destaque na montagem, e uma sala especial com peças que traduzem a arte a partir do encontro com a matéria-prima. Um exemplo é a maquete de 4 metros da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, pintada pelo artista com o azeite. >
“O dendê é um material muito importante dentro da minha pesquisa artística porque ele representa esse sangue ancestral que veio da África através dos porões dos navios negreiros. Vou ressignificando esse material, pensando como um sangue que oxigena, de certa forma, um corpo cultural afrodiaspórico, mas também como os outros fluidos que compõem e que alimentam o corpo”, conceitua Heráclito. >
Outro destaque da exposição Agô é a live-performance denominada Bori, que reúne uma série de 12 fotografias de pessoas com alimentos na cabeça, traço tradicional do trabalho de Heráclito. “O alimento não só como nutrição de um corpo físico, mas também um material que alimenta e fortalece o corpo espiritual”, explica. >
A abertura do museu terá ainda outras duas exposições: o Acervo Inicial do MAC, composta por 175 obras de artistas de diferentes regiões do país que foram premiados nos salões do Museu de Arte Moderna (MAM-BA), entre 1994 e 2009;, e Muro, que reúne expressões de mais de 50 artistas urbanos residentes na Bahia, que deixam seus traços nos muros laterais do Palacete, além de uma pista de skate. O ato inicial prevê uma programação com 60 horas ininterruptas de manifestações artísticas - de 10h desta sexta-feira (29) até às 22h de domingo (1).>
De olho no agora >
Do ponto de vista histórico, arte contemporânea é o conjunto das expressões artísticas que surge no século XX, a partir do pós-Segunda Guerra, e traz na essência o rompimento com o tradicional, do material ao modo de expressão, e que chegou ao ápice nos anos 1990. Pode também ser conceituada como a arte produzida hoje. A arte do agora, aberta a experimentação e ao novo. >
“O MAC é como se fosse uma continuação do trabalho do Museu de Arte Moderna (MAM-BA), assim como o MAM foi do Museu de Arte da Bahia (MAB-BA)”, introduz Daniel Rangel, diretor do novo equipamento, ao falar no nascimento da proposta. >
“Em 1959, quando Lina [Bo Bardi] criou o MAM, a coleção inicial sai do MAB, que desde os anos 1940 começou a pesquisa a arte moderna. O MAM, a partir dos anos 1990 começou a pesquisar a arte contemporânea e a incluir no acervo. O que a gente está fazendo é uma revisão histórica e uma reorganização desses acervos, colocando cada um dentro do seu tempo histórico”, explica. Rangel assina a curadoria da exposição Muro, cujas pessoas serão as primeiras incorporadas ao acervo do MAC. >
“Definir a arte contemporânea é muito difícil, seria uma missão do museu, ele vai tentar dentro dos conceitos. Mas o que o museu, com certeza, consegue ser é um museu contemporâneo de arte. Aberto, inclusivo, provocativo, convidativo aos jovens”, complementa Rangel. >
Para receber a proposta do MAC, o Palacete, tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) desde 1986, passou por uma série de intervenções físicas, como a criação de novos espaços expositivos e educativos voltados para arte urbana, arte digital, videoarte, performance e produção maker. >
A novo equipamento também funcionará permanentemente em horário ampliado, de terça a domingo, das 10h às 22h, com visitação gratuita, além de uma unidade do restaurante Bistrô da Preta. >
“Nós estamos construindo um museu que constitui o conceito de arte contemporânea, e que vem cumprir a função de ocupar uma lacuna na produção das artes baianas. É fazer com que a Bahia tenha um espaço que projete os artistas locais em todo o cenário das artes contemporânea no mundo”, enfatiza Luciana Mandelli, diretora do IPAC. O MAC é vinculado à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). >
A programação completa pode ser vista em cultura.ba.gov.br. >