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'Jornada das Folhas' revela como a coleta de folhas movimenta a economia nas religiões de matriz africana

Filme acompanha mulheres responsáveis por colher folhas sagradas e a venda das plantas em feiras de Salvador

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 3 de junho de 2025 às 12:50

Documentário Jornada das Folhas
Documentário Jornada das Folhas Crédito: Divulgação/Ravena Maia

“Pena de galo, pelo de bode, casca de alho, ora-pro-nóbis. Comigo ninguém pode”. Para os leigos, as estrofes do poema Comigo Ninguém Pode, do baiano Nelson Maca, talvez soem como palavras aleatórias. Já os mais familiarizados, reconhecendo uma ou outra, concluem que são nomes de plantas. Os que conhecem o universo do axé vão mais longe: plantas do orixá Exu.

Nas religiões de matriz africana, as folhas são elementos essenciais e sagrados, com um papel fundamental nos rituais, curas e na relação com o divino; movimentam a economia do sagrado quando os filhos de santo saem em busca das plantas para os preparos religiosos em feiras, comunidades e mercados.

Com a premissa de mostrar o cotidiano da economia movida pela coleta e venda de folhas sagradas, o documentário baiano Jornada das Folhas explora o dia a dia de mulheres que vivem da colheita das folhas, numa comunidade rural de Simões Filho, e também de comerciantes de feiras tradicionais de Salvador, como o Mercado das Sete Portas e a Feira de São Joaquim. Dirigido por Ravena Maia, com a equipe composta por Carla Pita, Emerson Kilendo e Tailson de Jesus Souza, o filme foi exibido pela primeira vez na Associação dos Moradores do Oiteiro, em Simões Filho. No próximo dia 10, às 18h, terá uma seção na Sala Walter da Silveira, em Salvador.

Jornada das Folhas surgiu a partir de uma conversa entre Ravena Maia e Tailson Souza, sobre as histórias das mulheres que exerciam o ofício de coleta de folhas sagradas na comunidade onde Tailson morava. As histórias acompanharam Maia até o momento em que virou filha de santo no terreiro São Jorge Filho da Goméia. “Comecei a ter contato com essa realidade, me fazendo pensar na relação da economia que está em volta do sagrado e a primeira coisa que me veio foi a questão da coleta e a venda de folhas. Foi aí que eu convidei o Tailson para integrar a equipe, num projeto que traria essa relação da economia das folhas”, relembra a diretora. 

Além de sua experiência pessoal, Maia destaca as vivências no candomblé dos outros membros da equipe principal, todos filhos de santo, como fundamentais para a construção do documentário. “Eu considero e tenho reiterado essa chancela que a gente produz audiovisual de terreiro. A gente está conduzindo um documentário, mas ao mesmo tempo ele também é conduzido por energias, por outros movimentos que temos que ter a sensibilidade de perceber”, defende.

Imersão 

A partir do intermédio com as catadoras, conversas e pesquisa prévia, a equipe de filmagem acompanhou a rotina das personagens durante seu ofício, incluindo gravações na madrugada e dentro da mata durante a colheita das folhas, e ainda as feiras e barracas onde ocorre a comercialização das plantas.

“Nesse mergulho foi uma feliz surpresa, conectar-me com a força motriz e destemor de mulheres que desbravam, desde a juventude, as profundezas das matas, carregando seus facões, fundamental instrumento de trabalho e, ao mesmo tempo, desprovidas de equipamentos de segurança basilares, para a proteção contra ataques de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos”, diz Carla Pita, responsável pelo roteiro e pesquisa.

"Essas mulheres são detentoras de saberes tradicionais do bioma Mata Atlântica e guardiães de conhecimentos etnobotânicos de folhas sagradas e medicinais, herdados de suas mães, avós e bisavós", acrescenta a roteirista. 

Jornada das Folhas será o primeiro documentário da série audiovisual Economia do Sagrado, onde a equipe buscará explorar outros elementos importantes dentro do fundamento afro-religioso e que têm o seu comércio também garantido nas feiras.

“As religiões de matrizes africanas constituem os pilares da construção de riqueza social, histórica e cultural do país, impulsionaram e impulsionam a economia, tornando-se a principal fonte de renda de inúmeras famílias. Retratar a economia do sagrado é jogar luz na fé incomensurável do povo de santo. Essa fé persiste e se materializa através dos rituais, processos de iniciação e celebrações religiosas, que alimentam e sustentam a economia brasileira, da vela à seiva”, defende Pita.

SERVIÇO: Jornada das Folhas I Exibição dia 10 de junho, às 18h, na Sala Walter da Silveira (Barris)