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Luiza Gonçalves
Publicado em 16 de maio de 2025 às 13:26
Nome célebre da música baiana, composta com referências afrodiaspóricas, Mateus Aleluia apresenta seu quinto disco, batizado apenas com seu nome, solo aos 81 anos, mostrando a magia da música: ser o melhor de si e dar o seu melhor à música. Sentimento descrito nas letras de Oh, Música, última das seis canções inéditas do trabalho. “Oh música, mostra-me a magia de eu só ser música e existir numa vida cósmica. Mostra-me vida, esperança, certeza de música eu ser”, canta. >
Entregue, filosófico e amoroso, o eterno Tincoã celebra em estúdio a longevidade artística do seu canto. “Ainda mais na minha idade, a melhor verdade é ser”, defende em outra canção.>
Com 65 anos de carreira musical, Mateus Aleluia é um dos maiores expoentes da música brasileira, conhecido por sua atuação pioneira no grupo Os Tincoãs, que expressou a herança cultural africana na MPB. Após viver duas décadas em Angola, onde aprofundou pesquisas antropológicas e culturais, Aleluia retornou ao Brasil e lançou álbuns importantes como Cinco Sentidos, Fogueira Doce, Olorum e Afrocanto das Nações — indicado ao Grammy Latino — e, agora, o recente Mateus Aleluia.>
O disco é uma celebração a amor, uma reflexão que preza por um sentimento natural e relacional, uma onipresença da força amorosa manifestando-se ao longo das músicas: amor de pai, filho, aos ancestrais, à natureza, ao particular e ao coletivo. “Nesse nosso novo trabalho, nós pretendemos falar de uma linguagem que todos identificam como a linguagem do amor. Como se a linguagem do amor tivesse uma forma específica. Quando, para nós, tudo é amor”, explica Aleluia.>
Profundidade>
Na sonoridade, a voz profunda e o dedilhar de cordas de seu Mateus unem-se a arranjos orquestrais, frutos da regência de Tadeu Mascarenhas, que criam transições harmônicas e imersivas nas letras ora faladas, ora cantadas. “Nesse trabalho, estou solto, totalmente solto. Falo das minhas divagações, das mais diversas. Canto da forma que gosto de cantar, sem compromisso, sem me apegar a regras, mas me apegando sempre ao sentimento”, afirma Aleluia.>
Porém, o tripé basilar do artista segue na lírica: ancestralidade negra, o universo barroco cachoeirano e os elementos da natureza. Na capa do trabalho, as referências são visíveis. Imponente, todo branco e com violão em mãos, seu Mateus encontra-se na ponte de Cachoeira, entre céus e mares, dedilhando seu violão. >
As canções também chamam atenção por sua extensão, sendo a mais curta com 7 minutos, o que permite imergir no universo cosmogônico do artista. Quando o ouvinte se dá conta, já está repetindo os mantras e seguindo o fluxo encadeado da obra. “Eu mergulhei. E quem quiser me ver vai ter que mergulhar também. Porque eu não estou na superfície. Pelo menos, eu não me sinto na superfície, eu me sinto no profundo. Estou no fundo do rio, mas não me afoguei ainda. Eu vou vir à tona”, convida o artista.>