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O jornalista que perdeu uma perna por uma reportagem

José Hamilton Ribeiro pisou numa mina terrestre na Guerra do Vietnã e precisou usar uma prótese. Livro 'O Gosto da Guerra' reproduz texto clássico publicado na revista Realidade

  • Foto do(a) author(a) Roberto Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 28 de julho de 2024 às 11:47

José Hamilton Ribeiro
José Hamilton Ribeiro Crédito: divulgação

Em 1968, a revista Realidade, da Editora Abril, conquistava os leitores com a qualidade de seus textos, que traziam para o Brasil o “novo jornalismo”, um estilo que já era muito popular nos Estados Unidos e que misturava reportagem e linguagem literária. Além disso, muitas vezes, o jornalista se tornava personagem do texto, em vez de ser mero observador.

Em março daquele ano, a Realidade publicou um texto que viria a ser histórico e que se tornaria um clássico nas escolas de jornalismo: a cobertura da Guerra do Vietnã, assinada por José Hamilton Ribeiro, que tinha 33 anos na época. Além da qualidade da prosa do jornalista, a reportagem trazia uma particularidade que tinha um quê de tragédia: José Hamilton relatava como havia perdido a perna esquerda, depois de pisar em uma mina terrestre enquanto acompanhava as tropas americanas nos campos de batalha. “Nosso repórter viu a guerra de perto”, destacava a capa da revista.

Finalmente, as novas gerações têm a chance de ler na íntegra um dos textos mais importantes do jornalismo nacional: a editora Companhia das Letras está lançando O Gosto da Guerra, livro que traz a reportagem em seu texto original. Há ainda outras cinco matérias assinadas por José Hamilton, incluindo uma com a apresentadora Hebe Camargo e uma outra, sobre o primeiro brasileiro submetido a um transplante de rim.

O texto, apesar de relatar uma tragédia, está longe de ser sensacionalista. É emocionante e até chocante em muitos momentos, claro, afinal estamos falando de uma barbaridade que é uma guerra. Mas as palavras de José Hamilton jamais são apelativas ou piegas. O trecho em que descreve o momento da explosão da mina fez o jornalista que assina esta coluna se arrepiar, literalmente. E com você, leitor, seguramente não será diferente.

Eis trecho do relato de José Hamilton:

"Nem bem dei uns cinco passos quando o estrondo de uma explosão povoou inteiramente meus ouvidos. Um zumbido agudo e interminável brotava em minha cabeça. Uma nuvem negra de fumaça fez desaparecer tudo à roda (...). Sentia na boca um gosto ruim, como se tivesse engolido um punhado de terra, pólvora e sangue - hoje eu sei, era o gosto da guerra"

José Hamilton Ribeiro

em um trecho do livro "O Gosto da Guerra"

No total, são 150 páginas dedicadas à cobertura da guerra, incluindo os dias anteriores ao acidente, em que o jornalista fala de experiências como a visita a uma escola administrada por um padre brasileiro. Há ainda casos sensíveis, como o apego do repórter a uma recém-nascida que ele conhece num hospital e que nascera com apenas 1,5 kg porque a mãe havia tomado um remédio para aborto. José Hamilton faz questão de visitar a bebê sempre que pode para acompanhar seu desenvolvimento.

Além de ter trabalhado na Realidade, o jornalista nascido em Santa Rosa de Viterbo (SP) atuou também na Folha de S. Paulo, Quatro Rodas, Globo Repórter e Fantástico. Mas talvez a sua voz e seu belíssimo texto sejam mais lembrados por suas reportagens para o Globo Rural, exibido nas manhãs de domingo. Ali, José Hamilton imprimia seu estilo na televisão, o que não era uma missão fácil, afinal estamos falando de um veículo em que, na maioria das vezes, o jornalista atuava de uma maneira impessoal, sem identidade.

Seguiu no jornalismo até os 85 anos, afinal, para ele, a perda da perna não passou de um “acidente de trabalho”, como disse numa entrevista. José Hamilton mostrou ser, sem dúvida, um dos maiores nomes do jornalismo brasileiro e, muito provavelmente, o maior repórter da TV nacional. Hoje, aos 88 anos, ele vive numa fazenda em Uberaba, no interior de Minas Gerais, onde cultiva eucalipto, cana-de-açúcar e milho, além de criar gado de corte e um rebanho de leite.

SERVIÇO

Livro O Gosto da Guerra. Autor: José Hamilton Ribeiro. Editora Companhia das Letras. 256 págs. R$ 99 (impresso) | R$ 45 (digital)

As criações e a intimidade de Jô Soares em documentário

Jô Soares
Jô Soares Crédito: divulgação/TV Globo

A vida de Jô Soares (1938-2022) é tema da série documental Um Beijo do Gordo, que estreia no Globoplay neste domingo (28), com seus quatro episódios disponibilizados de uma vez. A produção também será exibida no GNT, uma vez por semana, a partir do dia 4 de agosto. A série relembra os projetos de Jô e seus personagens icônicos, incluindo depoimentos de diversos artistas, além de entrevistas inéditas, como a de Flávia Pedras Soares, que foi a última esposa do comediante.

A diretora Antônia Prado dá uma ideia do que veremos na série: “Relembramos os mais de 60 anos de carreira, por meio de depoimentos de pessoas que criaram os programas com ele, parceiros de vida e trabalho, as peças de teatro e muito material de arquivo de toda sua trajetória. Dos seus grandes personagens na TV, como Vovó Naná e Capitão Gay, ao reconhecido apresentador do maior talk show do Brasil. O público pode esperar um documentário com a alma do Jô Soares”.

No primeiro episódio, a série apresenta a atuação de Jô como humorista, com seus personagens e bordões que marcaram a história da cultura brasileira. No segundo, o público confere os bastidores do Jô Soares Onze e Meia, que estreou em 1988 no SBT. Na última parte, a tão falada "Flavinha" - como era chamada por Jô - faz uma de suas raras aparições para falar do ex-marido. O doc também faz uma visita à casa do artista e mostra o ambiente privado e íntimo de Jô.