Paulinho da Viola volta à terra onde é 'ministro do samba'

Cantor faz show gratuito neste sábado (18), na Arena Fonte Nova. O baiano Batatinha compôs 'Ministro do Samba', em homenagem a Paulinho da Viola

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  • Roberto Midlej

Publicado em 18 de maio de 2024 às 04:31

Paulinho da Viola
Paulinho da Viola Crédito: Leo Aversa/divulgação

Na última quarta-feira (15), encarei a missão - sempre prazerosa - de conversar com Paulinho da Viola por telefone, para falar sobre o show que ele faz neste sábado (18), na Arena Fonte Nova, com entrada gratuita. A apresentação faz parte do Festival Nacional de Artesanato na Bahia.

A primeira pergunta ao cantor foi protocolar e bem genérica: “E aí, tudo pronto para voltar à Bahia?”. “Me preparando para rever alguns amigos”, disse ele, com sua particular simpatia e suavidade. Diante da “deixa”, acabei antecipando uma pergunta que só faria mais pra frente, caso houvesse tempo. Mas não resisti e perguntei sobre as parcerias dele com o poeta e letrista baiano Capinan, incluindo aí o clássico Coração Imprudente, gravado pelo sambista carioca em 1972, no álbum Dança da Solidão. A gravação é lindíssima, mas vale muito ouvir também a versão de Teresa Cristina, disponível nas plataformas de música.

Paulinho se entusiasma para falar do amigo Capinan, que está com 83 anos, e logo começa a falar sobre como se conheceram, no Rio de Janeiro. Embora não saiba em que ano exatamente aquilo ocorreu - fica em dúvida se 1965 ou 1966 -, Paulinho lembra, com uma prodigiosa memória, de diversos detalhes daquele dia.

“Costumava me reunir com amigos músicos no Teatro Jovem, em Botafogo [bairro do Rio de Janeiro]. O ambiente era bem informal e um dia Capinan estava na plateia e sentou ao meu lado. Se apresentou como um poeta vindo da Bahia e me propôs fazer uma parceria. Eu topei, fui à casa dele”, lembra-se o sambista. Daquele primeiro encontro, surgiu Canção Para Maria, que ficaria em terceiro lugar no prestigiado e disputadíssimo Festival de Música Popular Brasileira Record de 1966. Naquele ano, Disparada e A Banda acabaram dividindo o primeiro lugar.

Mais tarde, vieram outras canções assinadas conjuntamente por Paulinho e Capinan, como Prisma Luminoso - que dá nome ao álbum de 1983 - e a já citada Coração Imprudente, que está no repertório do show deste sábado. A apresentação que acontecerá na Fonte Nova não é a mesma da turnê que o músico preparou para celebrar seus 80 anos, comemorados em 12 de novembro de 2022.

Aqui, por exemplo, o público poderá ver a participação de Beatriz Rabello, filha de Paulinho que lançou um álbum em 2016. Sobre o repertório, os fãs podem ficar tranquilos porque os clássicos estão no show de sábado: Dança da Solidão, Foi um Rio que Passou em Minha Vida e Pecado Capital são alguns deles. E estão no show até porque as últimas inéditas do sambista foram gravadas no longínquo ano de 1996, quando foi lançado o álbum Bebadosamba. De lá para cá, foram só promessas de um registro de inéditas.

O jornalista, então, brinca e pergunta: “Você está disputando com Caymmi, para ver quem demora mais para lançar novas canções?”. “É mais ou menos isso”, responde Paulinho, que se diverte e ri com a comparação. Explica-se a referência a Dorival Caymmi (1914-2008): o compositor era conhecido por sua produção esparsa e ocasional, que lhe deu a fama - preconceituosa e dispensável - de preguiçoso.

Caymmi lançou pouco mais de uma centena de músicas na vida, número bem pequeno para alguém que teve mais de 60 anos de carreira. E, como Paulinho, não precisava de mais que isso para provar sua genialidade. Uma observação: Em 2013, este mesmo jornalista entrevistou o sambista e na ocasião perguntou sobre o (já) esperado álbum de inéditas: “Estamos pensando nisso”, disse o compositor. Passados 11 anos, a resposta segue rigorosamente a mesma, ainda no gerúndio.

MINISTRO

Mas a relação de Paulinho com a Bahia vai além de Capinan e Caymmi. Tem também um compositor baiano que já compôs um samba em homenagem ao colega carioca: Batatinha (1924-1997), que se referia a Paulinho como “ministro do samba” e gravou uma música com esse nome. O registro, belíssimo, está no álbum Diplomacia (1988), igualmente belo e que, como Batatinha, merecia ser mais conhecido na Bahia e fora daqui.

Paulinho, que se diz honrado por receber a homenagem de Batatinha, refere-se ao baiano como “uma doçura de pessoa”. Na gravação de Ministro do Samba, antes de cantar, tem uma fala de Batatinha sobre Paulinho: “Toda vez que ele vem na Bahia - quase ninguém eu me esforço pra ir ver -, mas quando fala em Paulinho da Viola, ó eu!”. E você não vai fazer como Batatinha?

SERVIÇO

Show de Paulinho da Viola

Local: Arena Fonte Nova (área externa do nível 7)

Quando: Sábado, 18 (A apresentação faz parte do Festival Nacional de Artesanato na Bahia e haverá também apresentações do Sambaiana e do standup comedy de Matheus Buente. As atrações começam às 19h)

Ingresso: Grátis (sujeito à lotação de 3,5 mil pessoas)