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Luiza Gonçalves
Publicado em 27 de julho de 2025 às 22:08
“Quem é você em suas ancestranças?”. Essa foi a pergunta que guiou o show realizado ontem na Praça Maria Felipa, no Comércio, e que encerrava o Circuito Mulheres Negras em Movimento, promovido pela Prefeitura de Salvador. Durante dez dias, houve apresentações artísticas, gastronomia, rodas de conversas e outros eventos em celebração às mulheres negras. >
A festa no Comércio, chamada Ancestranças, começou ao som da Didá, que trouxe, em cortejo marchando pelo público, sua banda feminina e uma reunião de deusas dos blocos afros de Salvador e dançarinas do Balé Folclórico da Bahia. No palco, vestidas de branco e entrelaçadas por uma grande trança, bailarinas e Larissa Luz abriram os trabalhos ao som das canções Descolonizada e Paz Terrível.>
Em seguida, Larissa convocou, uma a uma, as convidadas com quem dividiria o palco e as canções, passando pelo soul, samba, pagodão e pop. Teve Luedji Luna com todo seu Acalanto e Banho de Folhas, a sereiona Rachel Reis com o swing de Apavoro, clássicos baianos como Ilha de Maré e É D’Oxum com Mariene de Castro, e uma saudação à espiritualidade com Agô e Iroko na voz de Majur. Houve ainda homenagem a artistas da música afro-brasileira como Alcione, Gerônimo e Os Tincoãs.>
“Traga o que for: trabalho, alegria, prosperidade, segurança, axé, o que for bom, Salvador”, desejou Luedji Luna ao final de uma versão pagodão do seu sucesso Banho de Folhas. Cada artista era recebida com a energia da plateia, que cantava e dançava cada canção em uma alegria colorida de brilho e beleza. Dentre os convidados, estavam presentes artistas e personalidades como Elísio Lopes Júnior, Negra Jhô, Lunna Montty, o gestor cultural Fernando Guerreiro e a vice-prefeita e secretária de Cultura e Turismo de Salvador, Ana Paula Matos.>
Antes das apresentações culturais tomarem conta do palco principal, o evento também dedicou-se ao reconhecimento de trajetórias de mulheres negras que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de suas comunidades em Salvador. Foram entregues os prêmios Pitch Capital Pretas, promovido pelo Fundo Agbara, e Heranças do Poder, concedido pela Secretaria Municipal da Reparação (Semur), como forma de valorizar lideranças femininas negras atuantes em áreas como educação, empreendedorismo, cultura e mobilização social. >
Uma das homenageadas foi a professora Lucila Santos, do bairro da Liberdade, que atua há mais de 20 anos na educação de crianças, jovens, adultos e idosos da periferia. “Mulheres negras são mulheres que movimentam a sua comunidade com dedicação. Não tem dia, não tem hora, nem tem noite. Esse reconhecimento está sendo muito significativo e importante para a nossa representatividade feminina de muita luta”, afirmou emocionada. >
Durante todo o domingo, o público também pôde circular pela Feira de Afroempreendedoras, instalada na praça como parte da programação. Com produtos autorais, acessórios, roupas e cosméticos, a feira reuniu mulheres negras criadoras de marcas independentes e reforçou a importância de espaços que valorizem o empreendedorismo negro e feminino. Karina Neves, artesã de joias de alumínio da loja Preta D’Arte, celebrou a estrutura e o alcance da iniciativa. >
“Muitas vezes, a gente está produzindo coisas potentes, mas não tem espaço para mostrar isso. ”, disse. Ela também destacou a presença constante do público durante todo o dia, incluindo turistas que prestigiaram o evento. “Foi muito legal. Acredito que todos curtiram o som, as atividades e circularam pela feira, o que é muito bom para a gente”. >