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'Tenho vontade de ser cronista do meu próprio tempo', diz Aiace

Em novo álbum, cantora baiana faz parceria com Luedji Luna, Mestrinho e Letieres Leite (in memoriam)

  • Foto do(a) author(a) Mari Leal
  • Mari Leal

Publicado em 8 de setembro de 2023 às 06:00

Aiace lança segundo álbum solo
Aiace lança segundo álbum solo Crédito: Matheus L8

A escolha de um nome profissional é um dos mais importantes elementos na construção de uma carreira artística. Ação, no entanto, que a baiana Aiace, de 34 anos, não precisou gastar tempo. Já nasceu com nome artístico, escolhido por pais que desejavam uma filha cantora. Uma das principais vozes da nova MPB na Bahia, ela acaba de lançar seu segundo álbum solo, intitulado Eu Andava como se Fosse Voar. São 11 faixas que incluem canções autorais, releituras e parcerias com artistas como Luedji Luna, Mestrinho, Maracatu Vento de Ouro e com o maestro Letieres Leite (in memoriam). 

Filha do compositor baiano Gileno Felix e afilhada do cantor e compositor Lazzo Matumbi, Aiace canta profissionalmente desde os 16 anos. Sua relação com a música, porém, começou ainda durante os primeiros anos de vida. Uma prova da trajetória está registrada na canção Ponha Colírio na Flor, faixa 10 do novo trabalho.

A letra é mais uma de uma lista de composições feitas pelo próprio Felix para que a filha interpretasse quando se estabelecesse musicalmente, mas vai além. Funcionam bem para sintetizar o modo como a visão de mundo da cantora está impresso em seu trabalho. “Por trás dos meus óculos escuros. Meus olhos são dois vaga-lumes que veem meu país”, diz um dos versos. No álbum, a produção foi turbinada pela inclusão de trecho de uma gravação em que Aiace, em seus primeiros anos de vida, já ensaiava cantar os versos escritos pelo pai.

“O disco vem com algumas inquietudes, alguns desabafos e alguns aconchegos. Eu tenho uma vontade muito grande de ser cronista do meu próprio tempo e de poder conversar mais, dialogar mais sobre essa sociedade em que a gente vive, buscar melhoras. Acredito que a música pode ser uma ferramenta forte de transformação social”, reflete.

Ao longo das faixas, temas caros para a artista baiana vão se revelando: genocídio da população negra, as dores da diáspora africana, as condições da mulher na sociedade atual, precarização e uberização das relações de trabalho. Há também espaço para cantar os bons encontros e a esperança, a exemplo da canção Amarelocura, que abre o disco e retorna ao final com uma versão bônus cantada com participação de Luedji. “E se o Gilberto vier me dizer. Que essa cena tá sensacional. Eu nem discordo, nem digo que sim. Tá difícil, mas não tá tão mal. Ainda há doçura, basta ver no jornal”, diz a letra composta por Lucas Pitangueira.

Experiência

Formada em canto popular pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Aiace lançou seu primeiro disco solo em 2017 – Dentro Ali –, quando já acumulava experiências diversas, como o grupo Sertanília, presença em diversos festivais de músicas, passagem pela Orquestra Afrosinfônica, comandada pelo maestro Bira Marques, entre outros.

Ao falar sobre o seu estilo musical, a baiana aponta para um nova música popular, mergulhada em ritmos do afrofuturismo, e que se relaciona com a música “sertaneza”. O termo, uma variação de “sertaneja”, pretende demarcar a produção que tem o sertão como inspiração.

“Eu canto ritmos afro-baianos, coco, baião. Faço parte desse cenário. O nordeste está muito impregnado em mim e acho importante que a gente traga essas bandeiras, mas tire esse estigma da regionalização que tanto nos ataca, que nos distrai do que está no centro, na hegemonia dos ritmos, e nos coloca à margem. Acredito que todos esses ritmos fazem parte da nova MPB e é por esse caminho que eu vou, mas sem um rótulo específico”, explica Aiace.

O trabalho da cantora também dialoga com ritmos mais universais, como o rock e o rap. “Eu gosto de me desafiar cantando e me relacionando com diversos ritmos. Vou caminhando pelo que me sinto confortável”, acrescenta.

Independência

Tanto o primeiro quanto o segundo álbum solo de Aiace foram produzidos de forma 100% independente. Ela, inclusive, traz para o novo trabalho a participação de outras artistas independentes - Brina Costa, Manuela Rodrigues, Mariana Guimarães, Marissol Mwaba, Natália Matos, Rhaissa Bittar e Siame. “São artistas que merecem ser vistas. A gente precisa falar sobre todo o trabalho que os artistas independentes têm, inclusive, extremamente exaustivo, para continuar existindo”, reflete, ao citar os desafios de produzir e disputar atenção no atual cenário musical.

“As pessoas sempre me perguntam por que eu não vou para São Paulo ou para o Rio de Janeiro para ter sucesso, e assim ter um reconhecimento dentro da minha própria terra. Eu sempre digo que ter que me afastar do meu lugar, das minhas origens, da minha família, do meu lugar de inspiração é uma violência grande.”

Aiace acredita que, apesar das possibilidades criadas pela expansão da internet na produção e divulgação artísticas, o capital ainda determina quem sai na frente. Apesar dos desafios, mantém o foco da carreira nas conexões. “Vou na luta, na batalha, buscando outros apoios para poder amplificar minha voz, meu trabalho. Sigo com muita coragem, determinação e amor pelo que faço, enxergando que muitas pessoas se identificam com o que trago e, acima de tudo, é uma forma de resistência”.

O show “Eu Anadava como se Fosse Voar” será apresentando em Salvador no dia 17 de dezembro, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, após uma temporada na rede Sesc de Teatro em estado como São Paulo e Rio de Janeiro. Em 10 de outubro, no entanto, Aiace apresenta na capital baiana, na Sesc Pelourinho, como parte do projeto Malungo IXI. Ela dividirá o palco com Gabi Guedes, Dedê Fatuma, Marcos Santos, Mateus Aleluia Filho, Gleison Coelho, Fabrício Mota e Enio, idealizador da proposta.