Em entrevista, Graça Machel fala sobre cotas e desigualdade de gêneros

Ativista moçambicana, que participa do Fronteiras Braskem do Pensamento nesta terça (5), destacou política de cotas e criticou desigualdade salarial entre homens e mulheres

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Publicado em 5 de setembro de 2017 às 18:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

A ativista de direitos humanos moçambicana Graça Machel concedeu entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (5). No encontro com a imprensa, Machel falou sobre assuntos como cotas para minorias, desigualdade entre os gêneros e os casamentos precoces, que anda ocorrem com frequência, especialmente no continente africano.

Ainda nesta terça, às 20h30, no Teatro Castro Alves, Graça Machel realiza uma conferência que encerra a edição de 2017 do Fronteiras Braskem do Pensamento.

Sobre a diferença do tratamento que homens e mulheres recebem, a ativista se manifestou: "Ainda temos, neste século, questões fundamentais nas relações humanas a serem resolvidas. Ainda temos dificuldade de aceitar, valorizar ou dignificar a mulher e de aceitar que ela é um ser humano completo, igual ao homem. Qualquer ser humano, de qualquer estrato social, de qualquer gênero ou raça, é igual a qualquer outro. Nós nascemos iguais".

Graça ainda destacou as diferenças econômicas que separam homens e mulheres: "Não consigo encontrar explicação plausível para que se considere a mulher como ser inferior. Para trabalho igual, o salário tem que ser igual. Por que com a mesma qualificação de um homem e com a mesma experiência, a mulher chega a ganhar 25% ou 30% menos que o homem? Só porque é mulher?", questionou.

A ativista, que foi casada com o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela e, antes, com Samora Machel, ex-presidente africano, fez questão de ressaltar que nunca aceitou restringir-se ao papel de primeira-dama: "Nunca fui primeira-dama. Estive, sim, casada com dois homens sensacionais e que exerceram funcões de Estado, mas eu não exerci funções de primeira-dama. Fui, sim, Ministra da Educação, precisamente no período em que meu então marido era presidente em Moçambique. Na África do Sul, não exerci função de primeira-dama. Me recusei a 'vestir esse casaco', então não sei qual a função de uma primeira-dama. Mas sei que aquela posição não depende diretamente de eleição, então não sei de onde vem a legitimidade".

A integração racial também foi comentada, com destaque para a política de cotas para minorias na África do Sul e em Moçambique: "Nos meus países, temos estratégias concretas para promover a integração. Outras nações, no entanto, talvez contestem. No países do sul do continente africano, os partidos que chegaram ao poder estabeleceram, deliberadamente, mecanismos para que houvesse mais mulheres no poder, nos órgãos de decisão".

Segundo Machel, as cotas, na África do Sul, não são mecanismos exclusivos do setor público: "Nos conselhos de administração de empresas do setor privado, deve haver cotas de mulheres e de não-brancos. Se a empresa quer ter acesso, por exemplo, a contratos com o governo, é necessário que ela atinja uma determinada cota. E isso acelerou esse processo de integração".