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Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2010 às 20:45
- Atualizado há 2 anos
Rafaela Ventura | Redação CORREIOMárcio Victor, comandante do Psirico, abriu as portas da sua casa para a reportagem do Correio24horas que, de quebra, levou um pouco da curiosidade dos seus fãs, que enviaram dezenas de perguntas para o artista ao longo das últimas semanas.>
Durante pouco mais de uma hora de bate papo, Márcio falou com muito bom humor sobre religião, carreira, carnaval, DVD em comemoração aos 10 anos do PSI e sua relação com o gueto: "agora tem uma guerra de traficante, é gente pra cá e pra lá, que até eu tenho medo de andar por lá", revelou o artista em entrevista que você confere abaixo.>
Você concorda que a música ‘Chupeta’ destoa da característica das músicas do Psirico por ter um caráter apelativo de duplo sentindo?Eu sou muito orgulhoso da música de duplo sentindo da Bahia, isso vem desde Luiz caldas e Carmem Miranda. ‘Chupeta’ tem a única intenção de levar prazer e alegria pro Carnaval. A Carmem me inspirou com a música ‘Mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar’ e o Luiz com a ‘Olha nega do cabelo duro que não gosta de pentear’. Tenho muito orgulho da minha cultura, e a música de duplo sentindo já faz parte do Psi. Só não concordo que ela é apelativa, muito pelo contrário.>
Você fica muito chateado com a brincadeira que fazem de tirar o seu boné? Porque você nunca aparece sem ele? Tem alguma relação com o candomblé? É a mesma relação que a mulher tem com o sutiã, nenhuma delas se sente bem quando sai sem ele. Mas, tem sim uma relação com a religião. Por causa dos rituais de limpeza não posso sair em alguns lugares com a cabeça descoberta, como na maioria das vezes eu faço shows de noite, sempre uso. Alguns bonés meus foram bentos, tenho o maior carinho por eles. >
"Não posso sair em alguns lugares com a cabeça descoberta", revela cantor do Psi>
A música ‘Firme e Forte’ destaca muito bem o sentimento do povo da periferia. Como surgiu essa música e qual foi a sua inspiração?Na verdade é porque eu não aguentava mais sair na rua e ouvir o grito de socorro do povo. Fiz uma outra música também, que a gente vai lançar no DVD, chamada ‘Protesto sim, violência não’. Eu talvez seja um dos maiores porta-voz da periferia da Bahia, e tenho a obrigação de defender o meu povo. Ao mesmo tempo é um trabalho difícil, ter que levar consolo para pessoas que perderam suas casas e familiares. O brasileiro já sofre demais, eu tenho quase que obrigação de levar alegria para eles. >
Quando o Psirico vai fazer uma turnê fora do Brasil? Pensa em carreira internacional?Já fiz vários shows pela Europa. Tivemos um convite para tocar na Alemanha, mas não aconteceu porque coincidiu com a nossa turnê norte-americana. Não tenho um projeto internacional, meu negocio está aqui, quero que esses shows venham naturalmente, não quero nada forçado.>
Você é mesmo filho de Ogum/Obaluaiê? Como o candomblé influência na suas músicas?Sou de Ogum/Oxum/Oxalá. Quando a gente é guiado por um espírito, até para falar você tem uma orientação espiritual que está na sua frente o tempo todo. Então, com certeza tudo que eu faço envolve minha personalidade, por isso envolve sim a religião. Ogum é o meu lado forte, simboliza a guerra, foi ele quem construiu o mundo. Oxum, a mãe das águas, da vaidade e riqueza, que é quando eu tenho esse negocio de querer ficar bonito, me envolver com moda. Já Oxalá, é o orixá da paz, todo mundo só me vê dando risada. Mas na hora de escrever uma música eu gosto de ir direto ao assunto, se quero falar sobre super heróis eu assisto o Super-Man e me inspiro, ai não tem nada haver com religião.>
Para o carnaval desse ano, o que você vai trazer de novidade? Vai ter convidados especiais?A novidade sou eu sempre (risos). Os convidados são vocês, quero mostrar meu povo, descer e cantar na pipoca. Quero fazer igual ao meu mestre Carlinhos Brown. Mas convidei alguns DJs, meu amigo DJ Patife, Dj Mauro e DJ Paulada, para misturar ainda mais nosso som com a musica eletrônica. Vou fazer também uma homenagem bonita a percussão da Bahia. Além de um possível arrastão na quarta-feira, se prefeitura autorizar, né? Porque há cinco anos que eu tento fazer o arrastão e não consigo. >
Como vão ser os ensaios de verão? Quais os convidados já confirmados?Os ensaios começam agora dia 16, com Durval e Cortejo Afro. Em cada ensaio vai ter um grupo de pagode que está bombando no momento, nesse primeiro é o Leva Noiz. Mas outros convidados já estão confirmados: Duas Medidas, Daniela Mercury, Caetano, Ivete, Claudinha, Brown, Bel, Saulo, Tomate... Muita gente boa vai passar por lá. >
"Em cada ensaio vai ter um grupo de pagode que está bombando", promete>
É verdade que você deu a música ‘Liga da Justiça’ para o Leva Noiz? Ivete foi convidada para gravar ela com você, por que não gravou?A gente não pode querer tudo pra gente. A felicidade tem que ser de todos. Eu fiquei muito feliz porque o Leva Noiz gravou a música, isso é tão feliz pra mim quanto eu estar cantando a música. Não coloquei ainda no repertorio para não atrapalhar a versão deles, não ficar parecendo que a música é nossa. Mas eu vou tocar no verão sim, é sucesso! Na verdade Ivete teve a opção de escolher essa música e preferiu ‘Eu te Quero Delícia’. Ela quis tomar cuidado com essa coisa de mexer na imagem dela com o público infantil, por ter rolado aquela polêmica toda no carnaval desse ano, com a música do ‘Lobo Mau’. >
Qual previsão do lançamento do DVD em comemoração aos 10 anos do Psi?Estamos querendo lançar em fevereiro, antes do Carnaval, ou no Carnaval mesmo. O DVD ta ficando maior do que eu imaginava, está sendo editado por um grande diretor chileno. Está emocionante, todo mundo cantando do começo ao fim. É bonito de ver um DVD gravado com o povo da Bahia, não é só mais um show do PSI. Tenho certeza que muita gente vai mudar a idéia que faz de nós depois desse DVD, está lindo demais!>
Em suas músicas você sempre fala em gueto, em resgatar raízes. Como é a sua relação com o seu gueto hoje? Você continua mantendo algum vínculo com a comunidade em que nasceu e cresceu?Minha família, meus amigos de infância, todos moram lá. Mas tem uma coisa que me preocupa muito no Engenho Velho de Brotas: a violência. Agora tem uma guerra de traficante, é gente pra cá e pra lá, que até eu tenho medo de andar por lá. Me dói ver tudo isso acontecendo no lugar que eu cresci e não poder fazer nada. Muitos amigos meus, estão se perdendo pela falta de opção e pela pressão social em que eles vivem. A gente precisa ser mais patriota, a alta sociedade, os músicos, o governo, tinham que se juntar fazer mais pelo gueto.>
O que você acha dos seus fãs se denominarem ‘Psiriqueiros’, que virou quase que uma legião. Quando você faz shows fora da Bahia, você recebe o mesmo carinho da desta nação?Às vezes o assédio é até maior, o nosso DVD passado foi gravado em São Paulo por causa do número de fãs que nós temos lá. Talvez Minas Gerais seja o lugar onde a gente mais faz show. Eles são fanáticos, fazem cartazes, ficam no hotel, na frente da rádio. Mas na Bahia é onde temos mais fãs, a quantidade é bem maior. São mais de 30 fã clubes pela cidade, os maiores são o Psirico oficial, Psirico Paixão Eterna, 100% Psirico e o 100 % Marcio Vitor. Meus fãs viram amigos.>
Como vai ser o Festival de Verão 2011? Alguma novidade?Encerrar o Festival já virou tradição para o PSI. Pelo reconhecimento nacional, muita gente de outros estados e países têm as alegorias que a gente distribui durante o arrastão do Festival guardado. Me diga ai quem é que consegue segurar aquele povo todo cansado já de todos os dias de festa? Eu como cidadão não vejo outra atração que segure a galera assim como o PSI.>