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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 06:55
- Atualizado há 2 anos
Ceci Alves | Redação CORREIO Há duas semanas do Carnaval, o circuito da Barra acaba de oficializar uma espécie de subcircuito da folia e mais um dia de farra: será o Circuito Sérgio Bezerra de Carnaval Acústico, que abre o reinado de Momo, na quarta-feira, dia 2 de março, com cordões instrumentais puxados pela banda Habeas Copos. E o Carnaval da Barra só cresce, mesmo que há 18 anos ninguém consiga fechar questão sobre quem foi exatamente o artista ou o primeiro grupo de carnavalescos que desceu a avenida Sete de Setembro em direção à orla marítima para espalhar o reinado de Momo por aquelas plagas.Porém, o que, a princípio, era o espaço de despretensiosos folguedos à beira-mar, virou o pedaço mais charmoso e disputado da folia baiana, que atrai, anualmente, centenas de milhares de foliões e movimenta vultosas somas, repartidas entre espaços publicitários, camarotes pagos, blocos e mercado informal.No meio das versões para a criação do Circuito Dodô, mais conhecido como Barra-Ondina, existem três histórias de destaque, que podem ser divididas como: os primórdios do Carnaval; sua constituição propriamente dita; e a primeira artista que encampou descer para o circuito, quando ele ainda não parecia uma boa ideia.PANEReza a lenda que o Carnaval na Barra começou por causa de uma pane e remonta a 1979, primeiro ano do bloco Camaleão. Antes de colocar o bloco na rua, o gerador quebrou e foi um deus-nos- acuda. Dois anos depois, para evitar o mico de dar qualquer coisa errada, os diretores do bloco resolveram fazer uma espécie de test drive pela orla marítima de Salvador, na faixa entre Ondina e o Porto da Barra – sim, o circuito era invertido e permaneceu assim por um bom tempo.Foi o Banho de Mar à Fantasia do Camaleão, num trio elétrico com pintura lateral de Bel Borba e moldado em fibra de vidro. O trio fez um trajeto de ida e volta, numa espécie de cortejo, acompanhado de seis caminhões.Estava plantado o embrião da coisa, mas não havia nada formalizado, um circuito propriamente dito. Ele só começou a tomar forma dez anos depois, a partir da visão do empresário Jorge Roque, 43 anos, tachado de maluco à época. Ele era dono do bloco Bróder e já sentia que o circuito do Centro andava apertado demais para o fluxo que o Carnaval baiano adquirira depois da explosão da axé music. “Na Avenida já tinha 26 blocos, eu seria o 27º da fila, imagine... Impossível!”, começa um animado Roque, como todos o conhecem. “Foi quando eu anunciei aos amigos que ia descer a Ladeira (da Barra), e todos me acharam louco. Aí, decidi fazer um laboratório com o Bróder: saí na sexta com Daniela (Mercury) e no domingo, segunda e terça aluguei um trio – vendi uma casa para bancar esse trio, o Lua Nua – e fui independente, com a banda Bróder”, conta.O sucesso foi total. “Os comerciantes da Barra até fizeram um jantar para nós, depois do Carnaval, em agradecimento”, orgulha-se Roque. SENTIDO INVERTIDOEle recorda que, antes disso, normalmente blocos como Olodum e Ara Ketu passavam no sentido Ondina-Barra, para subir até a Avenida. “Eles iam tocando, aquecendo até chegar no circuito. Mas não se sabia horário, era esporádico, não havia desfile formal. Nós fizemos um bloco e levamos a galera pra lá”, diz o empresário, hoje afastado da folia, mas que foi presidente da Associação de Blocos da Barra por uma década. Além de levar o Carnaval, de maneira irrevogável, para a brisa marítima da Barra, Roque ainda se vangloria – com razão – de ter dado a ideia que transformou o circuito no que conhecemos hoje em dia: mudar o sentido de Ondina-Barra para Barra-Ondina.“As pessoas se queixavam de que a Barra é violenta e, na época, os diretores de bloco e a prefeitura fizeram uma reunião para decidir o que fazer. Então, eu disse que o Carnaval era violento porque o que se fazia era um funil: trazia as pessoas de Ondina para uma Barra estreita, onde não cabia todo mundo. Falei que a onda era sair do Farol e desaguar em Ondina. Eu matei a charada. Acabou a reunião na mesma hora!”, diz Roque, rindo.Desbravadora É mais ou menos nesse momento, em 1996, que entra Daniela Mercury, 45 anos, a “desbravadora” do Circuito Dodô. E La Mercury aceitou o risco de, no auge da primeira onda de sucesso de sua carreira, migrar para uma área ainda não consolidada pelo mesmo motivo que levou Roque a abrir o flanco beira-mar: a falta de espaço no trajeto na Avenida.“Havia poucos espaços na Avenida para entrar blocos, houve um loteamento da Avenida como aconteceu com a Barra, hoje”, explica Daniela. Circuito lotado, rua cheia, não havia espaço para novos blocos e artistas. “Então, convenci o Crocodilo e fui destemida, em 1996. Não havia nada na Barra, e todos diziam: ‘Você vai descer sozinha, tá louca?’ Os associados não queriam descer, muitos devem ter deixado o bloco por causa disso, foram anos cativando público, e não tinha imprensa. Mas, mesmo assim, eu fui. Desbravei, mesmo!”.Daniela foi para o Circuito Dodô e não voltou mais. E ela, dona de um dos camarotes mais disputados na área, gosta de dividir a sua carreira como antes e depois de desfilar na Barra. “Os primeiros cinco anos foram bastantes estranhos, para quem estava acostumada a pegar o circuito lotado. Mas fui notando que as pessoas gostavam de descer, vir para a praia de noite... Meu sonho era fazer esse circuito, sempre gostei de cantar de noite, e é um circuito mais fresco, na beira do mar, o que é mais bonito ainda”, diz.>
Farra acústica abre Carnaval 2011 na BarraCharangas, bandas de sopro e percussivas e o clima dos antigos carnavais vão tomar conta da Barra na quarta-feira, 2 de março, um dia antes do reinado de Momo se instalar. Será o Carnaval Acústico, que também inaugura o subcircuito Sérgio Bezerra, novo percurso alternativo e exclusivo para bandas de fanfarra, batizado em homenagem ao fundador da banda Habeas Copos, que há 33 anos abre, ainda que extraoficialmente, o Carnaval.O cortejo sairá do Farol da Barra, vai pela orla até o Cristo e volta, pela rua Marquês de Leão, ao bar que dá nome à banda. Além da Habeas Copos, desfilam os grupos Concentra Mas Não Sai, Cachasamba, Gravata Doida, Dibarabar, Integramed, Jegue Enfeitado, Pinguço, Preliminar, Quero Mais e Vai Braceta. Para outras informações e compra de camisas acessar o site .>