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Da Redação
Publicado em 1 de julho de 2022 às 06:00
A mineração é o setor que mais dependente do transporte ferroviário devido às características físicas e operacionais da movimentação de cargas que gera, mas na Bahia o segmento não tem esse suporte. Por isso, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) vai realizar um estudo para retratar o cenário atual do transporte de carga ferroviário baiano e apresentar um projeto para destravar a logística que prejudica o desenvolvimento econômico do estado. O "Estudo de oportunidades em infraestrutura ferroviária no Estado da Bahia" será realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC).
“Há algum tempo, nós estamos alertando aos setores públicos e privados sobre a necessidade de criação de um sistema de transporte de carga ferroviário, sobre os inúmeros prejuízos para o estado pela falta do trem. Agora, nós teremos um diagnóstico extremamente especializado sobre as potencialidades logísticas do estado e proposições para implantação de um modal que atenda ao setor minerário e outros também”, diz Antonio Carlos Tramm, presidente da CBPM.
Freio na economia Os resultados alcançados pela mineração baiana colocam o estado entre os principais do Brasil. Mas, o escoamento do que é produzido por empresas de grande e médio porte é prejudicado pela falta de uma malha ferroviária eficiente, economicamente viável e que contemple rotas estratégicas. É um freio no crescimento econômico baiano. Para se ter uma ideia, em maio de 2022, a Produção Mineral Baiana Comercializada (PMBC) registrou um aumento de mais de 68% em comparação com mesmo período do ano passado, os valores saltaram de R$ 949 milhões para R$ 1,6 bilhão, segundo o Sumário Mineral divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE). Especialistas acreditam que os números poderiam ser ainda maiores se o estado tivesse um transporte de cargas ferroviário moderno e ampliado.
“A situação atual da ferrovia no estado da Bahia não permite a inserção competitiva da economia baiana nos mercados nacionais e internacionais. A FCA/VLI (Ferrovia Centro-Atlântica /VLI Multimodal S.A.) não atende à prestação de serviços de transporte ferroviário de cargas com os padrões de capacidade, qualidade e competitividade requeridas pelo mercado. A dependência do transporte rodoviário para realizar a movimentação de mercadorias na longa distância, compromete a competitividade logística da economia baiana, criando obstáculos ao seu desenvolvimento”, destaca o economista e especialista em ferrovias Bernardo Figueiredo, que é ex-diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
O especialista lembra que a Bahia possui uma infraestrutura portuária com padrões considerados elevados pelo mercado e que pode ampliar a sua área de influência se contar com acessos ferroviários que conectem os portos com as regiões de produção e consumo. O estado tem três portos públicos - Salvador, Aratu-Candeias e Ilhéus, e sete Terminais de Uso Privado (TUPs).
“Os polos de desenvolvimento econômicos estaduais, com grande potencial de expansão, precisam de se conectar eficientemente à malha ferroviária que atende às outras regiões do país e acessar de forma competitiva os portos baianos. A competitividade logística da economia baiana está estritamente ligada à disponibilidade de serviços de transporte ferroviário de cargas adequados para atender suas necessidades, para isso, é essencial promover a reabilitação e modernização das ferrovias existentes e a construção de novos trechos ferroviários”, alerta Figueiredo.
CBPM é vanguarda Por acreditar que a Bahia pode reverter esse quadro e por conhecer bem a mineração do estado, a CBPM, que atua para além dos estudos geofísicos e descobertas de minerais, estabeleceu a parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC).
“Realizar um estudo com objetivo de construir e avaliar um cenário de oportunidades de expansão e qualificação das ferrovias, considerando as potencialidades minerais e econômicas da Bahia, que forneça uma visão de futuro da infraestrutura ferroviária do estado, é fundamental para subsidiar a formulação de planos e projetos públicos e privados, não só do setor mineral como de outros setores da economia baiana. Assim, é justificável que a iniciativa de identificar e avaliar oportunidades em infraestrutura ferroviária tenha sido tomada pela entidade que atua no setor que mais dependente da ferrovia, no caso a CBPM”, diz o professor Paulo Rezende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain (cadeia de suprimentos) e Logística da FDC.
A Fundação Dom Cabral - que tem uma experiência de mais de 40 anos, já desenvolveu o Plano Estratégico de Ferrovias para o estado de Minas Gerais e realizou Estudos Logísticos Ferroviários a pedido da Federação das Indústrias do estado Espírito Santo, vai produzir para a Bahia um portfólio de propostas de intervenções ferroviárias capazes de atender às necessidades decorrentes da produção mineral, agrícola e industrial, levado em conta os níveis de atividade atual e potencial de cada um desses segmentos. “Essas propostas serão analisadas e avaliadas quanto à sua relevância para a competitividade logística das cadeias produtivas e quanto aos resultados observados para cada uma das intervenções propostas. O estudo indicará, ao setor produtivo baiano, as oportunidades para o desenvolvimento ferroviário da Bahia e os impactos desse desenvolvimento na competitividade logística das cadeias produtivas do estado”, explica Bernardo Figueiredo, especialista que também coordena o estudo pela FDC.
Benefício para as comunidades e sustentabilidade As projeções para o crescimento econômico a partir das transformações no modal ferroviário não incluem vantagens e benefícios apenas para os grandes grupos empresariais e investidores. As ferrovias também possibilitam a criação de novos negócios, a geração de emprego e renda e o desenvolvimento de setores específicos à margem da linha férrea. Nas comunidades do entorno ocorre a movimentação da economia local e o aumento da arrecadação tributária.
Esse tipo de transporte é extremamente competitivo pelo baixo custo de frete e manutenção, pela capacidade de transportar grande quantidade de produtos e, ainda, por ter menores índices de roubos e acidentes. As ferrovias têm pouco gasto de energia e poluem menos o meio ambiente, muitos trens que já operam no Brasil utilizam biodiesel, que é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais.
“Quando pensamos em ações para o desenvolvimento da mineração na Bahia, automaticamente, incluímos as questões sociais e ambientais. Tudo está interligado e a nossa expectativa com relação aos resultados do estudo da FDC é, justamente, a promoção de benefícios para o povo baiano a médio e longo prazo”, diz o presidente Tramm.
Descaso VLI A CBPM já enviou 15 ofícios para Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) alertando sobre o abandono dos mais dois mil quilômetros da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) que passam pelo território baiano, que está há 25 anos sob a tutela da VLI Multimodal S.A. e prejudica a população e economia da Bahia. Recentemente, a CBPM encaminhou outro ofício, desta vez ao Ministério da Infraestrutura (MINFRA), com cópia para a Agência Nacional de Transportes (ANTT), depois que um descarrilamento danificou a ponte D. Pedro II e interrompeu, por vários dias, o tráfego entre as cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo Baiano. No documento, a instituição ressalta que várias correspondências similares foram enviadas à ANTT, no entanto, até o momento, nenhuma providência foi adotada. Outras ocorrências como furtos de trilhos e a desmobilização da infraestrutura da malha ferroviária também foram formalizadas pela CBPM.
“Espera-se que o MINFRA posicione-se na defesa dos interesses dos Estados por onde os trens devem trafegar com o mesmo ‘entusiasmo’ demonstrado quando observou a inadequação dos serviços prestados pela Via Bahia, que administra a Rodovia Federal BR-324, cuja intervenção imediata foi defendida pelo então Ministro Tarcísio de Freitas, sob o argumento que esta ‘faz deboche’ com o povo baiano”, salienta o presidente da CBPM Antonio Carlos Tramm.
Este conteúdo não reflete nem total nem parcialmente a opinião do jornal Correio e é de inteira responsabilidade do autor.