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Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2016 às 19:01
- Atualizado há 2 anos
No prólogo de “Um Casamento”, Maria, 80 anos, está tensa. Ela está sentada no sofá de sua bela casa, moradia construída pelos seus pais na década de 30, no Jardim Baiano, em Salvador. Pé direito mais-do-que-generoso, lindas janelas feitas sob encomenda para a entrada e variações de luz cotidianas. Uma casa construída por artistas, para a arte.Maria olha em direção à câmera. Ela não sabe o motivo de estar ali. Mônica, a diretora, sabe e sorri. Ela está fazendo “arte” com a sua mãe. Mônica revela que o objetivo do filme é falar sobre o casamento dela, Maria, com Rui Simões. São os pais da diretora. Maria parece não ter opção e aceita. Ela continua tensa. Mônica está feliz!>
Leia também:O Último Trago transita entre diferentes gêneros construindo um filme de resistênciaPremiado em Cannes, filme de Eryk Rocha evidencia atualidade do Cinema NovoMaria Moniz hoje, aos 80 anos, em cena do filme. O documentário foi gravado no ano passado, na casa onde ela viveu com o marido, Ruy, por cerca de seis anos (Foto: Divulgação)Mônica mostra para Maria filmes antigos, dilacerados. O negativo se torna um borrão em preto e branco e constrói desenhos diversos até ganhar a forma de um vestido de noiva. Vemos uma linda menina pronta para casar. A memória afetiva é ativada, mas com um senso estético que nos leva a uma dimensão distinta. Não é mais o real que interessa. Não basta aquele instante, pois todo um rastro de vida, de muitas vidas, está contido naquelas texturas.A partir do casamento, a cineasta cria série de dispositivos que envolvem Maria e a nós, espectadores. A história dessa família, que possui ligação ancestral com a imagem, vem à tona. Fotos de bisavôs, imagens em 16mm, que contam a história de mãe para filha, filha para netas. Uma história de mulheres.A narrativa proposta por Mônica ganha um novo rumo, pois, a despeito do imenso amor dela por seu querido pai, o que surge é como Maria não se prestou a cumprir o papel destinado às mulheres de seu tempo. Ela estava à frente. Foi criada para as artes, não para o casamento. Foi atriz de “O Caipora”, de Oscar Santana. Deu o primeiro beijo em tela grande na província da Bahia. Atriz de teatro, sobretudo o de rua. Foi jornalista, lutou para existir, com o brilho devido. E sofreu represálias por isso.Se Maria estava nervosa no início do filme, agora ela se mostra firme, coerente e forte como sempre!Se o titulo e o início pressupõem um filme romântico, de um casal apaixonado, de algo melancólico e saudosista, entendemos que “Um Casamento” trata de uma história afirmativa, de uma mulher que não se rendeu.Um filme que se presta à memória, sem dúvida. Impossível descrever o impacto que eu tive ao ver as filmagens da construção da casa, no Jardim Baiano, em pleno coração de Salvador nos anos 30. Tais imagens elevam aquela casa a um patamar mítico, que transcende sua beleza.“Um Casamento” parece ser um filme de uma família, mas é sobre nós todos. O nosso passado e presente. Sobre um tempo e uma cidade que estão em vias de desaparecimento.SERVIÇOCompetitiva Nacional III - 12 de novembro, 17h15, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha (Sala 1). Ingressos: R$ 10,00 / R$ 5,00Filmes:Baleia Magic Park, de Mariana Lacerda (PE)A Moça que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda Maria (SP)Um Casamento, de Mônica Simões (BA/SP) Conversa com os diretores após a sessão.- Em Cachoeira, o filme será exibido no dia 11/11, às 21h, no Cine Theatro Cachoeirano, com acesso gratuito.>
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